Você pediu exemplos didáticos. Os que tenho são os que aprendi com a experiência.
No caso das checked exceptions vejo que é comum bibliotecas de manipulação de dados lançarem exceções relacionadas a I/O e a parsing (interpretação) de dados.
A biblioteca "clássica" de I/O do Java por exemplo lança IOException
, FileNotFoundException
e EOFException
, para citar as mais comuns.
Bibliotecas de networking e comunicação HTTP, por também realizarem I/O, lançam no mínimo IOException
.
Um parser de JSON como o do json.org que vem junto com o Android pode lançar uma JSONException
relacionada à leitura de um dado a partir de uma string JSON, já o Gson do Google pode lançar uma JsonSyntaxException
.
Enfim, são situações em que a biblioteca em si não está preparada para lidar com o erro e opta por repassá-lo para um nível mais alto da pilha de chamadas ou call stack. Ela faz isso declarando que essas exceções, se ocorrerem, precisarão ser tratadas por quem faz uso daquela API. Ela expõe essa possibilidade na própria API, que está declarando a possibilidade de ocorrer aquela exceção checada (ou talvez possamos chamá-la de "verificável").
Essa é uma das vantagens de se trabalhar com exceções: assim como você pode tratá-las no ponto em que ocorrem, você pode também delegar esse tratamento para um nível que esteja mais capacitado para tratar, ou "se recuperar", do erro ocorrido.
Ao declarar isso na forma de uma checked exception, você está sinalizando o código "usuário" que aquele erro merece atenção e provavelmente algum tipo de tratamento. E costuma ser tipicamente um erro "recuperável": seu aplicativo pode se preparar antecipadamente para um JSON malformado, um arquivo não encontrado ou uma interrupção na comunicação em rede. São erros, digamos, previsíveis.
É diferente de uma runtime exception no sentido de que a runtime representa tipicamente um erro no funcionamento do código em si, um erro que você pega durante a execução e precisa corrigir o código e evitar que aconteça, como falou o @Maniero. Você precisa "blindar" seu código contra ela depois de descobrir que ela ocorre.
Para citar os cenários que mais usava na época que respondi essa pergunta, pode ser o caso de um parâmetro que não deveria nunca ser passado como null
, caso contrário irá lançar uma IllegalArgumentException
ou uma NullPointerException
, ou então um estado que teoricamente não deveria acontecer sob pena de lançar uma IllegalStateException
(exemplo: um método que só deve ser chamado pela thread de UI do Android e você involuntariamente chama a partir de uma thread secundária).
Quando meu código lança uma dessas exceções, eu admito que não espero que aconteçam, mas às vezes acontecem e eu sei que se trata de um defeito no código.
Eu confesso que já tratei IOException
dentro de uma biblioteca minha de chamada a web services em vez de delegar para o código usuário. Eu "engolia" a exceção (quando muito logava) e retornava null
na minha resposta. Foi uma péssima decisão de design. Meu código usuário não sabia quando vinha um null
a partir de uma requisição bem-sucedida ou quando vinha a partir de um erro de I/O, e são duas situações diferentes que exigem tratamento diferente. Não era a minha biblioteca que precisava tratar exceções de I/O e sim o código que fazia uso dela.
Já em um código mais recente em que fazia uso do Apache HTTP Client eu declarei o seguinte:
private HttpResponse executarRequisicaoSincrona(DataTransferRequest requisicao)
throws UnsupportedEncodingException, IOException {
Veja como esse método delega para outro nível duas checked exceptions, uma de I/O específica (que é a de encoding não suportado) e uma de I/O mais genérica.
As duas são passíveis de ocorrer durante uma requisição HTTP em situações distintas e eu achei por bem não tratá-las no mesmo nível em que são lançadas e sim passá-las para a frente, pois nesse momento meu código não sabe ainda o que fazer com elas.
Se soubesse, poderia tratá-las dentro do próprio método executarRequisicaoSincrona
em vez de declará-las, mas não é esse o caso no meu código.
Espero que com essas experiências você possa ter uma noção mais precisa de quando usar ou lançar exceções dos dois tipos, checked e unchecked.
Este link explica muito bem a diferença entre as duas e quando usar uma ou outra (na verdade ele explica quais são as melhores práticas sobre tratamento de exceções no Java). Eu o recomendo fortemente.