Existem basicamente dois métodos de se fazer estimativa de custo de desenvolvimento de software:
a) Adivinhar quanto vai custar.
b) Medir quanto vai custar.
Todos os métodos de estimativa são derivados destas duas maneiras básicas aí.
Os adeptos do método a estão sempre tentando aprimorar suas técnicas de adivinhação e os adeptos do método b estão sempre tentando aprimorar suas técnicas de medição.
a) Estimativa por medição
É o jeito mais antigo e tradicional de se estimar software.
Umas das técnicas mais populares deste método é a contagem de pontos por função, que funciona mais ou menos assim:
- Levanta-se os requisitos
- Desenha-se os casos de uso com base nos requisitos
- Detalha-se os casos de uso nas funções que o compõem (há um range de tipos de função previamente estabelecido)
- Soma-se os pontos de todas as funções (cada tipo de função tem uma quantidade de pontos previamente estabelecida)
- Multiplica-se o total de pontos por uma unidade de valor (tempo, dinheiro...)
- Aplica-se uma gordura.
Pode haver mais fatores influenciando a previsão de custo ou de preço do projeto (custo de gerência, risco, valor agregado, etc.), mas estes outros fatores estarão presentes conforme a natureza e ambiente do projeto e independentemente do método de estimativa escolhido.
O valor de cada ponto de função é uma decisão gerencial que se baseia em experiências prévias (próprias ou de mercado) e em outros interesses de marketing.
Este é um método incrivelmente eficaz.
É difícil errar a estimativa porque a medição é feita sobre documentos muito detalhados de tudo que será implementado. Cada função é um recurso de software bem elementar, como uma das letras do CRUD, se o objeto é uma entidade ou um relacionamento, etc. E é fácil acertar o tamanho do esforço para fazer uma implementação tão pequena.
O problema é que contar tudo que será feito exige que você saiba de antemão tudo que será feito. Ou seja, você tem que fazer um bom investimento em entendimento e detalhamento do escopo ainda antes de começar a fazer software.
Em projetos deste tipo, é natural esta fase demorar meses e custar o trabalho de vários consultores, comerciais e técnicos, que geralmente são os mais experientes da organização (os mais caros) pois a premissa é que esta fase seja concluída com muita qualidade.
É normal que este esforço tenha outras relevâncias no projeto além da estimativa, como por exemplo confiar na abrangente documentação produzida nesta fase para garantir que será desenvolvido o software certo, contar com a documentação como um suporte para manutenções futuras, ou receber uma assinatura do cliente nesta documentação (um contrato) e se blindar contra mudanças para garantir a margem ou o prazo.
Estas outras relevâncias da documentação trazem mais alguns contras a este método: você tem que desenhar todo o sistema antes de aprender todo o necessário sobre ele, pois o aprendizado, tando do cliente quanto do time, acontece durante a implementação do projeto e depois que o cliente começa a enxergar o software que é entregue.
Se você dificulta as mudanças, o cliente pode estar perdendo oportunidade de obter mais valor deste projeto. E se você se abre às mudanças, você está jogando fora o investimento que fez lá no começo quando tentou prever tudo que seria feito e todo o custo.
b) Estimativa por adivinhação
Este é o método preferido dos processos Ágeis, já que eles valorizam mais o software funcionando, cedo, do que documentação abrangente; mais colaboração com o cliente do que a negociação de contratos; são abertos à mudança e inclusive a encorajam; acreditam que a melhor arquitetura e design emergem em vez de serem previamente definidos; etc.
Como a idéia aqui é justamente permitir a mudança, não faz sentido investir muito em fechar um escopo, então geralmente constrói-se uma visão macro do projeto e uma estimativa aproximada, que só pode ser adivinhada já que não há o que medir pois ainda não se sabe exatamente o que será feito.
Existem vários métodos de adivinhação. Para definir um custo geral do projeto antes de começa-lo, é comum definir as capacidades ou features, que são os mega requisitos do projeto, adivinhar quanto vai custar cada uma e somar.
"Adivinhar" é um termo correto pois é admitido pelo projeto que o futuro é incerto, é admitido que não há ainda conhecimento profundo sobre cada feature ou capacidade para ter certeza de todo o trabalho que será necessário, e não há intenção de se adquirir adiantamente este conhecimento - dá-se preferência por começar a entregar software cedo e aprender com isso.
Todas as estimativas são baseadas em experiências prévias, e são difíceis de acertar com precisão pois são feita sobre um conhecimento macro e não detalhado do trabalho que será empregado.
Ainda assim em tese você pode entregar as capacidades previstas dentro do orçamento pois enquanto partes do software são feitas e apresentadas para o cliente, o aprendizado aumenta e permite deixar de executar trabalho que antes parecia necessário.
O contrário também pode acontecer e você identificar que errou muito feio na adivinhação, e que será impossível entregar as capacidades pelo custo previsto. Neste caso assume-se o novo custo ou cancela-se cedo o projeto antes de o prejuízo ser grande demais.
Veja que no outro método você também pode errar feio - não a estimativa de custo mas sim a previsão do que deveria ser implementado pois previu isso sem contar com o conhecimento que adquire-se durante o projeto. Neste caso, quando o projeto for cancelado, todo o custo daquela fase inicial soma-se ao prejuízo. Ou pior: como você já "sabia" tudo que precisava fazer e não queria mesmo que viessem mudanças, você não entregou o software em partes mas sim deixou tudo pro final - ou seja: risco de prejuízo total.
Adivinhações durante o projeto
Bem, até aqui eu só falei sobre a adivinhação que acontece no começo do projeto. Mas e durante o projeto, como são estimadas as tarefas (pequenos requisitos que vão constituir o mega requisito - a tal da capacidade/feature)?
Aqui acontece o mesmo tipo de adivinhação baseado em conhecimento empírico. Os métodos Ágeis de maneira geral desencorajam a estimativa em horas, pois admitem que não se pode prever com tal nível de precisão quanto vai custar mesmo um requisito pequeno.
Então inventou-se story points que são uma estimativa de esforço ou de tamanho ou de complexidade da tarefa, mas não estão diretamente relacionadas a custo em horas. A idéia é que com o tempo aprenda-se quantos pontos se pode fazer num período e que isso ajude a estimar as tarefas que poderão ser completadas, conforme sua quantidade de pontos, num período seguinte de igual tamanho.
Num esforço de desvincular ainda mais as estimativas Ágeis das estimativas em horas, utiliza-se escalas fibonacci ou os tamanhos "P", "M" e "G" (tipo tamanhos de camiseta) para desestimular a associação com horas (a associação imediata fica mais difícil pois o cálculo de conversão é mais difícil ou abstrato).
Para buscar uma adivinhação mais promissora, existe ainda o planning poker, que conta com a experiência de vários profissionais ao mesmo tempo para evitar desvios grandes demais para mais ou para menos. Você pode ler como funciona o planning poker por aí ou fazer uma pergunta específica pois só isso já dá alguns parágrafos.
Abaixo as adivinhações
Por fim, a última moda no universo Ágil é buscar alternativas para que não seja preciso sequer tentar adivinhar estimativas.
O raciocínio é o seguinte: se medir o projeto (aqui apresentado como "método a") não atende bem o cliente e se não somos tão bons em adivinhar ("método b"), que tal esquecer essa parada de estimar?
O nome deste movimento é #NoEstimates e a idéia, é claro, não é simplesmente deixar de estimar software, mas sim buscar alternativas a isso. Tipo "não conseguimos estimar, então o que podemos fazer em vez disso para garantir a relação custo/valor/prazo para o cliente?".
Considera-se ainda que embora o cliente precise saber quanto vai gastar e quanto tempo vai levar, a estimativa em si não tem valor para ele, e o que não tem valor, segundo o pensamento lean, deveria ser eliminado do processo (ok, ok, esta é outra história, ainda mais longa, então fica pra outra hora).
Estimativas para quem?
Como eu comentei de leve, questiona-se muito o valor das estimativas para o cliente.
De algum modo ele precisa saber quanto vai custar e quando fica pronto, ok. Segundo os métodos Ágeis, isso pode ser resolvido com macro estimativa de capacidades/features, entregas interativas e escopo aberto.
E quanto vai custar cada tarefa? Quanto vai custar cada um daqueles 10 pequenos requisitos que você pretende desenvolver nas próximas duas semanas? Será que você precisa mesmo calcular isso? Vai vender essa medição pra quem? Quem vai pagar por este esforço? Qual o valor em pregar um número fibonacci em cada post-it do quadro?
Por isso, se você estiver trabalhando sozinho ou se o seu projeto permitir, se não houver um gerente te cobrando isso, procure libertar-se das estimativas de curto prazo pois o seu valor real para o projeto até agora não foi demonstrado.
Observações finais
Conforme já conversamos nos comentários, a relação entre fibonacci e pomodoro não existe.
Pomodoro é uma técnica para manter o foco.
E usar números da sequência fibonacci nas estimativas é justamente um esforço de desvincular as estimativas do custo em horas.
Uma referência para dar valor à resposta
Ron Jeffries, um dos caras que assinou o Manifesto Ágil, que criou o Extreme Programing e que ajudou a inventar essas coisas de "story points" e "velocidade do time", é engajado no movimento #NoEstimates. Inclusive ele já pediu desculpas por ter inventado esse negócio de estimar em pontos. Segue:
"Existe um número de idéias sobre como estimar usando alguma outra coisa que não tempo [horas]. Pontos, Gummi Bears, números Fibonacci, tamanhos de camiseta. Eles foram originalmente inventados para obscurecer o aspecto de tempo, de modo que a gerência não seria tentada a mal utilizar as estimativas. (Eu sei: eu estava lá quando eles foram inventados. Na verdade eu devo ter inventado os Pontos. Se eu inventei, me desculpe agora.)"
Veja este pedido de desculpas e muitas coisas intererssantes em: https://pragprog.com/magazines/2013-02/estimation-is-evil