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Quando desenvolvemos software uma das principais etapas é a coleta de requisitos, a aquisição de conhecimento do domínio e a construção de uma linguagem ubíqua. Tanto as metodologias ágeis quanto o Domain-Driven Design colocam bastante foco nisso, porque realmente é importante a participação dos especialistas de negócio no desenvolvimento.

Acontece que existem situações em que não é possível estar pessoalmente com os especialistas de negócio para fazer reuniões e discutir o software. Já recebi propostas para desenvolvimento por parte de clientes de outros estados, devido a recomendações de clientes locais, mas fiquei preocupado com relação a essa questão do contato com os especialistas de negócio.

É claro que com a tecnologia que temos hoje deve ser possível uma maneira eficiente para fazer esse contato a distância, mas o que eu quero saber são as técnicas que realmente funcionam. Me parece que só mandar e-mail com um questionário pode não ser o suficiente.

Nesse caso, como podemos fazer remotamente essa parte da coleta de requisitos, aquisição de conhecimento do domínio e construção da linguagem ubíqua? Quais meios para fazer isso realmente funcionam?

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    O que posso te dizer é que muitas vezes os tais "especialistas" sabem menos do que parece e na maioria dos casos se você for na onde deles, fará um monstrengo. Uma das coisas que aprendi é que tenho que investigar por meios próprios como funciona, encontrar o modelo, eventualmente discutir quando há capacidade de interlocução de quem é o interessado e testar. A experiência conta muito. Quanto mais faz, mais tem condições de enxergar quando pode confiar no que te passam ou não.
    – Maniero
    4/01/2016 às 1:15
  • @bigown Pena que não dá pra dar bounty no seu comment.
    – Largato
    4/01/2016 às 2:59
  • Não é uma questão adequadamente classificada como projeto-de-software (software design). Remover esta marca facilitará a localização de questões.
    – user158926
    18/08/2019 às 19:22

1 Resposta 1

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TL;DR

Use os mesmos métodos que usaria normalmente, porém investindo mais esforço para manter a comunicação efetiva.

Desafios da comunicação à distância

Todo material e todas as pessoas com quem já trabalhei, mesmo quando favoráveis, reconhecem que há desafios no trabalho remoto.

Dificuldades no domínio da língua, atrasos devido a fuso-horários muito diferentes, questões importantes que são evitadas porque você precisa escrever muito, reuniões por video-conferência que se prolongam por causa do atraso na comunicação, conceitos que não são bem explicados porque você não consegue simplesmente pegar um papel e desenhar. Estes são uns poucos itens que são grandes problemas para equipes remotas.

Resumindo: todas as pessoas que conheço relatam que fazer vídeo-conferência não é a mesma coisa que conversar com alguém pessoalmente.

Esforço redobrado

Para driblar as dificuldades que a distância traz, é necessário haver um esforço maior.

A distância deve causar um overhead de comunicação e isso deve refletir no seu prazo e orçamento.

O esforço maior pode ser investido em:

  • Mais discussões em vídeo-conferência ou telefone; geralmente se faz o contrário, gasta-se menos tempo do que se faria pessoalmente, mas considerando que a comunicação remota é menos efetiva, é preciso gastar mais tempo se comunicando.
  • Repassar cada informação discutida por escrito e enviar para o cliente após as reuniões para confirmação do entendimento.
  • Investir em um bom sistema de gerenciamento do seu backlog e engajar os interessados para que eles sigam e adicionem comentários.
  • Realizar um maior número de demonstrações do software e coletar feeedback com maior frequência do que num projeto normal e assim mitigar o mais cedo possível as falhas de comunicação.

Duas observações importantes sobre todos os itens acima:

1. Conheça o usuário

O esforço adicional será inversamente proporcional ao conhecimento do usuário sobre TI e sobre suas próprias necessidades.

Antes de começar a levantar as necessidades do cliente, converse com ele para ver o quanto as pessoas envolvidas tem consciência sobre o que estão precisando e se tem alguma experiência em participar de desenvolvimento de sistemas a fim de determinar o trabalho que você vai ter para extrair as informações.

Sempre tome cuidado com o vocabulário usado, pois dependendo do nível do usuário isso vai determinar se a comunicação será mais em nível técnico ou em termos de negócio.

Não é incomum usuários ficarem envergonhados de perguntar sobre algum termo que não conhecem e assim dando respostas enganosas sobre o que eles precisam.

Ao trabalhar remotamente:

  • Faça reuniões com todos os usuários para nivelar o conhecimento.
  • Faça reuniões individuais com cada interessado e lhes dê a oportunidade de tirar dúvidas "secretamente", sem passar vergonha perante os colegas.
  • Ao falar sobre um assunto técnico, sempre resuma para o usuário o que é aquilo, nunca assuma que ele já sabe. Por exemplo: "A JVM, aquele programa que você instala para executar aplicativos Java, blá blá blá".

2. Corte o papo-furado

Eu falei até agora de gastar mais tempo em comunicação e em reuniões. Isso é algo que parece contraditória e contra-produtivo, afinal quem é que gosta de passar mais tempo em reuniões?

Entretanto, é preciso que todos tenham em mente que este é o preço por usar um meio de comunicação menos efetivo. Mas claro que isso também significa ter a consciência de que o tempo de todos é valioso e reuniões devem ser prolongadas enquanto informações úteis forem obtidas, nunca mais do que isso.

É como fazer o download com menos banda: vai demorar mais tempo para transmitir todos os dados necessários e deve evitar ficar navegando em coisas que não precisa enquanto isso.

Uma dica seria ter poucas reuniões agendadas regularmente e várias reuniões ou "chamadas" informais e sob demanda. Reuniões agendadas são boas de início, mas logo perdem o sentido porque as pessoas não tem muito o que acrescentar e se tornam repetições, então nesse caso é melhor ter os usuários mais perto em conversas irregulares quando dúvidas surgirem.

Considerações

Enfim, todas as dicas acima são experiências que servem para todos os casos, mas que devem ser mais fortemente reforçados num projeto cuja comunicação é o maior risco.

Aliás, pensando nesse sentido, vale a pena lembrar que dentro de um projeto onde o risco identificado, é sempre bom revisar as técnicas de mitigação relacionadas a esse tipo de risco.

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