Interpretação
Uma linguagem interpretada executa o código diretamente à partir do código fonte.
A interpretação ocorre de forma semelhante à compilação (tradução), ou seja, tem um processo de análise sintática, léxica e semântica, porém isto é feito sob demanda. O código fonte vai sendo lido (pode ser linha por linha ou outra forma) e interpretado com estes processos e depois algo é executado de acordo com o que está está escrito.
Java
Java funcionava assim nas primeiras versões.
Ainda há uma certa confusão com isso porque ainda há um processo de "interpretação" do código gerado pelo compilador. Mas normalmente ele não é considerado como um código interpretado já que mesmo essa "interpretação" não ocorre instrução por instrução.
Para entender melhor, temos que observar que um código Java passa pelos mesmos processos de análise citados acima, o que muda é a forma como vai passando pelo código e o que faz no final, que é o que diferencia a interpretação da compilação:
A interpretação ocorre em trechos curtos do programa, pode ser linha por linha, e no final executa algo que foi determinado neste trecho.
A compilação ocorre em trechos maiores (funções, classes, pacotes) tentando entender o todo e no final um código é gerado. Há uma tradução para outra forma.
No caso é um código da máquina virtual do Java (JVMgosto de linkar a página em português, mas não esqueça de ver em inglês, sempre é melhor). É como se fosse o código de máquina que um computador entende mas ele é específico para a plataforma Java e não para um processador. Então o programa está compilado mas não consegue executar diretamente no processador como ocorre com linguagens como C ou Pascal que normalmente criam diretamente o código compreensível para o processador.
Então esse código de máquina virtual que é chamado de bytecode é compilado também, mas é um processo extremamente simples, ele está em um formato fácil de ser lido e entendido por este novo compilador completamente diferente do compilador do código fonte da linguagem. Além de não ter que se preocupar se o código está correto ou não, isto já foi feito antes. E principalmente esta compilação não ocorre instrução por instrução.
Isso é feito por um compilador JIT (Just-in-Time) que é um compilador que gera o código de máquina do processador, o chamado código nativo. No caso do Java este JITter transforma o bytecode em código nativo fazendo algumas otimizações que só são possíveis quando se conhece bem o ambiente que está rodando, não só o computador, sistema operacional, configurações, mas também os outros componentes (packages) que estão sendo usados juntos.
Essa compilação JIT entende todo o código intermediário e gera o código nativo sob demanda, conforme ele vai sendo necessário. Mas há como forçar essa compilação ocorrer um pouco antes.
Esse JITter não existia nas primeiras versões do Java. Normalmente o JITter não influencia a semântica da linguagem por isso qualquer linguagem interpretada ou compilada previamente para um bytecode pode ser JITtada mais tarde. De fato isso é cada vez mais comum. Podemos citar como exemplos JavaScript, Lua, PHP, etc. que passaram ser JITtadas posteriormente em implementações independentes.
O JITter normalmente só tem que entender este bytecode padrão e o código do processador onde ele será executado, não precisa saber nada da linguagem. Mas há JITters que trabalham em cima do código fonte, então de uma certa forma há uma compilação sob demanda (na hora que vai ser executado) ao contrário da compilação antecipada mais conhecida. Mas mesmo esta compilação sob demanda não é uma interpretação porque ela gera código a ser executado e não executa diretamente.
Linguagens compiladas sem código de máquina
Há linguagens que estritamente não podem ser consideradas como interpretadas. Ela executa em cima do bytecode (algumas vezes chamados de pseudocode) mas não são JITtadas. A execução é mais rápida que a pura interpretação mas nem tanto quanto a JITtada, porque de uma certa forma há uma "interpretação" deste bytecode e ele vai sendo executado diretamente, sem transformação em código nativo. Lua (pura, sem o LuaJIT) é um exemplo hoje.
Isso não é novo. Uma das primeiras linguagens mainstream que fez muito sucesso em várias partes do mundo, inclusive o Brasil, era o Clipper (um dialeto que sobrevive de forma moderna é o Harbour). Ele funcionava desta forma mas como gerava um executável muitos programadores acreditavam que gerava código igual ao C. Mas era apenas um pcode encapsulado no .exe
. É parecido com o que o .NET faz hoje. Seus programas parecem estar em um executável nativo, mas internamente ele tem o bytecode.
Mas essa técnica existe desde a década de 50.
Há linguagens que não geram um bytecode e sim um AST (Abstract Syntax Tree ou árvore de sintaxe abstrata). É um passo antes da geração do código. Um compilador normalmente (em praticamente todas as implementações conhecidas) gera uma AST após os processos de análise sintática e léxica e os demais processos subsequentes ocorrem em cima desta árvore. Ruby padrão usa (ou usava, posso estar desatualizado) esta AST para executar. A interpretação ainda ocorre na AST, mas não é o processo normal de interpretação. De qualquer forma houve um processo de compilação anterior.
Claro que existem implementações de Ruby que funcionam de outra forma, inclusive porque rodam em cima da plataforma do Java, ou seja, no fim das contas o mesmo bytecode que é gerado no Java é gerado pelo jRuby e depois ele é JITtado pela JVM. Isto mostra a flexibilidade dessa infraestrutura de JIT.
Algumas pessoas consideram que essas linguagens ainda são interpretadas (ou semi-interpretadas) já que elas não executam código de máquina nativo, há uma interpretação mais leve porque parte do processo necessário foi feito antes por um compilador e algo simples de manipular foi gerado com a "garantia" que não tem erros. Mas é necessário um programa que entende este código e manda executar alguma coisa indiretamente. Isto seria uma interpretação.
Que eu me lembre desde o início do Java era assim, acho que nunca houve a interpretação do código fonte direto. Ou seja, sempre teve o javac
e a JVM interpretava o bytecode.
Então é bem complicado classificar linguagens ou mesmo implementações como interpretadas ou compiladas.
Linguagens não são interpretadas
Não podemos dizer que existem linguagens interpretadas ou compiladas ou mesmo JITtadas. No máximo podemos dizer que as implementações tem estas características. E elas não são mutuamente exclusivas. Embora algumas pessoas dirão que são implementações diferentes fornecidas em conjunto, é possível dizer que as três formas podem existir na implementação.
Conclusão
Obviamente a execução de um programa interpretado é bem mais lenta que um programa compilado e que tem seu código de máquina gerado antecipadamente. No caso do código JITtado tem um custo para gerar o código de máquina mas é um custo bem mais baixo do que a interpretação direta. Além disto é feito uma vez e depois o código de máquina é sempre reaproveitamento.
A interpretação pura hoje só faz sentido em tempo de desenvolvimento ou para executar scripts muito curtos. Por isto qualquer linguagem usada para fazer sistemas deve ter alguma forma de compilação, mesmo que opcional.
Coloquei no GitHub para referência futura.