Sobre as Camadas
A sua rede neural precisa ter no mínimo as camadas de entrada e de saída, já que a camada de entrada é responsável por receber os valores do problema (os "impulsos") e a camada de saída é responsável por dar a(s) resposta(s) (o valor da regressão ou da classificação).
A(s) camada(s) intermediária(s) (oculta) tem o propósito de capturar/representar as diversas nuances que os dados de treinamento podem ter. Em teoria, quanto mais camadas ocultas você tiver, mais ajustada pode ficar a sua rede. Isto é especialmente útil quando o problema não é linearmente separável, pois há muitas pequenas nuances que diferenciam um determinado dado entre as classes a que ele pode pertencer.
De fato, se o problema é linearmente separável você não precisaria de nenhuma camada oculta pois as diferenças já podem ser aprendidas só com os neurônios das camadas de entrada e saída - tal qual você mesmo poderia fazer apenas com um ou mais simples IF's no seu código (leia o comecinho desta minha resposta em uma outra pergunta aqui do SOPT pra entender um pouco mais sobre esse raciocínio).
Se por um lado mais camadas ocultas tornam a rede mais específica às nuances dos dados em problemas não linearmente separáveis, por outro lado elas podem facilitar que o ajuste seja grande demais sobre os dados de treinamento mesmo com poucas interações de treinamento (esse é o tal de sobreajuste, em que a rede funciona perfeitamente para os dados de treinamento mas erra para dados de problemas reais). Adicionalmente, mais camadas naturalmente demandam mais processamento, e assim a solução torna-se mais computacionalmente custosa.
Na prática, há um consenso de que apenas 1 camada oculta é o ideal para a maior parte dos problemas:
Uma questão deste assunto em que há consenso é a diferença de
desempenho ao adicionar novas camadas ocultas: as situações em que há
um ganho significativo de desempenho para a adição de uma nova camada
oculta são raras. Assim, uma única camada oculta é suficiente para a
grande maioria dos problemas.
Tradução livre do original em inglês:
One issue within this subject on which there is a consensus is the performance difference from adding additional hidden layers: the
situations in which performance improves with a second (or third,
etc.) hidden layer are very small. One hidden layer is sufficient for
the large majority of problems.
Sobre os Neurônios
Na camada de entrada precisa-se ter um neurônio para cada característica do vetor do problema utilizado (entenda como "para cada coluna da tabela"). Mas isso também depende de como a característica é representada. No caso de valores contínuos (como temperatura medida em graus em ponto flutuante, por exemplo), é usado um único neurônio. Mas se os valores são discretos, usa-se um neurônio para cada valor possível de (0, 1 e 2, por exemplo, para representar temperaturas baixa, média e alta). As vezes também se adiciona um neurônio a mais na camada de entrada para servir como viés (e "mover" as funções de ativamento de forma controlada - mais detalhes nesta outra questão do SOEN).
Na camada de saída o número de neurônios depende do uso da rede. Se a intenção é fazer uma regressão (estimar um valor a partir dos dados de entrada), há apenas um único neurônio. Há também só um neurônio se o uso é para classificação binária (a rede responde se as características de entrada correspondem ou não a uma única classe). Mas se for construido um classificador multi-classes, há um neurônio de saída para cada classe (um neurônio responde 1 se os dados correspondem à classe por ele representada, sendo que os demais respondem 0 nesse caso).
O número de neurônios da camada intermediária (oculta) é outra questão amplamente discutida. Mas há uma regra empírica simples que diz que se deve utilizar o número médio entre os neurônios nas camadas de entrada e saída, pois isso torna a rede suficientemente robusta para a resolução dos problemas (dado que ela só precisa representar nuances em comparação aos dados de entrada, mas tendo em vista as saídas desejadas).
Sobre as Funções de Ativação
A função de ativação descreve literalmente quando um neurônio deve ou não ser ativado para um dado valor de ativação (chamado de net
e resultante da soma ponderada das entradas no neurônio). Considere um exemplo hipotético com apenas um neurônio e algumas entradas de dados. Se você usar uma função degrau ou linear, ele vai ser ativado de uma forma muito similar a um IF em seu código, e assim vai servir apenas para problemas linearmente separáveis. Outras funções, que não são lineares, como a Função Logística e a Tangente Hiperbólica se tornam mais úteis para problemas não linearmente separáveis justamente pela forma mais "sutil" em que a decisão é tomada sobre valores mais afastados da fronteira de decisão.
A decisão sobre qual função utilizar vai depender essencialmente do seu problema. A Função Logística é comumente utilizada porque ela é bem simples e dá conta do recado para a maior parte dos problemas. Eu não tenho muita experiência prática nesse aspecto, mas sei que para redes neurais que usam retropropagação (backpropagation) para o treinamento é fundamental que as funções utilizadas sejam diferenciáveis porque o algoritmo utiliza o método de gradiente descendente para o ajuste dos pesos nos neurônios. Então esse também é outro critério importante, nesses casos.
P.S.: No caso de reconhecimento de caracteres, sugiro esta
leitura e este exemplo prático em Python (que usa a fantástica biblioteca Scikit-Learn de aprendizado de máquina)