Concordo com todas as respostas. Getters e setters são essenciais.
Mas a questão é: eles são sempre necessários?
O que realmente precisa ser acessado?
Ocorre que é prática comum criar-se getters e setters para todas as propriedades de uma classe. Não se reflete sobre a real necessidade nem sobre possíveis efeitos colaterais disso.
Muitos métodos são criados desnecessariamente, pensando talvez em que podem ser necessárias algum dia, mas nunca são usados. Isso só deixa o código mais propenso a erros.
E a interface?
Embora setters e getters sejam um tipo de encapsulamento do atributo, a assinatura do método público faz parte de sua interface, sendo um tipo de "contrato" com as demais classes.
O atributo pode estar encapsulado, mas de forma alguma você está livre para mudar as implementações, já que qualquer mudança em atributo provavelmente irá afetar também a assinatura de algum método.
E os objetos complexos?
Por exemplo, se minha classe tem uma lista:
public class Turma {
private List<Aluno> alunos;
}
O que fazer? Colocar um setAlunos
?
public class Turma {
private List<Aluno> alunos;
public void setAlunos(List<Aluno> alunos) {
this.alunos = alunos;
}
}
Ou gerenciar a lista internamente?
public class Turma {
private List<Aluno> alunos = new ArrayList<Aluno>();
public void addAluno(Aluno aluno) {
alunos.add(aluno);
}
}
Existem várias situações onde é melhor não ter o método setter.
No primeiro exemplo, a lista fica "exposta". É possível que a implementação da lista passada por outro desenvolvedor não tenha algum método usado internamente implementado. Por exemplo, se a nossa classe adiciona alunos em algum momento, mas a lista passada é imutável.
Objetos Imutáveis
Em cenários onde um objeto de negócio é compartilhado entre várias threads concorrentemente, setters podem causar efeitos indesejados. Objetos imutáveis (sem setters) são muito mais seguros e eficientes nesse sentido, pois não podem acabar num estado inconsistente devido à concorrência.
Além disso, se um objeto é passado a várias rotinas e serviços, os setters podem ser inadvertidamente chamados por alguma rotina deixando o objeto num estado inconsistente. Suponha que você já aplicou todas as regras de validação, mas antes de gravar os dados do banco de dados uma das rotinas chama um set. Aí você precisa "caçar" quem foi o responsável pela alteração.
Mais um ponto, é que alguns objetos poderiam se beneficiar de cache de informação. Por exemplo, se um dos atributos é calculado a partir de vários outros. Mas os diversos setters deixam essa implementação bem mais complexa.
Criar um objeto imutável não é difícil. Uma forma é permitir a definição de valores através do construtor e não ter métodos set. Exemplo:
public class Turma {
private List<Aluno> alunos;
public Turma(List<Aluno> alunos) throws ListaDeProblemasException {
this.alunos = alunos;
//valida e processa alunos como bem quiser
//sabe-se que não irá mudar depois
}
public List<Aluno> getAlunos() {
return alunos;
}
}
Validação no setter?
Usar setters para validação é interessante, até certo ponto.
Isso realmente pode se tornar um problema em casos onde um atributo depende de outro. Imagine, por exemplo, que você tem um método setCPF
e outro método setCNPJ
. Ambos só podem ser chamados, respectivamente, se o tipo da pessoa for F
ou J
. E se alguém resolver chamar aqueles antes destes?
Além disso, fica muito mais difícil o tratamento desse tipo de erro para, por exemplo, exibir a lista de erros para o usuário na tela.
Conclusão
Getters e setters podem ser, sim, uma ilusão de encapsulamento em muitos casos, principalmente porque os métodos públicos de uma classe aumentam o acoplamento e o "compromisso" em manter todos aqueles métodos.
Não é que seja uma ilusão por si só, mas ela ocorre na cabeça dos programadores que acham que encapsulamento = getter + setter
. Eles descobrirão mais tarde comportamentos "estranhos" no programa porque na verdade não há nada "escondido".
Uma implementação com o mínimo de método públicos deixa o código mais "seguro" e flexível.