No paradigma de orientação à objetos, existe o que é denominado encapsulamento de propriedades e métodos. É bastante comum encontrar materiais em que é dito que a função do encapsulamento é proteger os dados de um objeto, que de certa forma é verdade, porém não no sentido de manter inacessível quando externo à classe. O encapsulamento serve para você definir regras de negócio que se aplicam às suas propriedades quando feito a interface com o mundo externo.
É comum em linguagens de programação definir três níveis de encapsulamento: public, protected e private. Quando definido como public, nenhuma regra de negócio é exigida à propriedade, por isso permite-se que a mesma seja definida diretamente quando externo à classe. Quando definido protected, as regras de negócio se aplicarão apenas quando o valor vier do meio externo à classe, mas classes derivadas da mesma possuem liberdade para definir novos valores diretamente. Quando definido como private, apenas a própria classe tem liberdade de definir valores diretamente; de qualquer outra origem as regras de negócio se aplicarão.
As regras de negócio são aplicadas às propriedades através dos métodos getter/setter.
Para os exemplos abaixo, foi considerada uma linguagem de programação hipotética, de tipagem dinâmica. Os nomes da classe, métodos e propriedades foram gerados aleatoriamente e não possuem relação direta com a lógica apresentada.
Considerando a definição abaixo de uma classe com três propriedades, cada qual com seu nível de encapsulamento:
class Foo:
private meeten
protected festal
public tamera
Sendo que as propriedades protected e private possuem obrigatoriamente regras de negócios, é definido os métodos getter/setter para cada:
class Foo:
private meeten
protected festal
public tamera
public getMeeten ():
...
public setMeeten (value):
...
public getFestal ():
...
public setFestal (value):
...
Sendo os métodos supracitados responsáveis pela interface das propriedades com o meio externo, é de suma importância que os mesmos sejam definidos com encapsulamento public.
Considera-se agora algumas regras de negócio para a aplicação:
meeten
deve ser do tipo string
com no máximo 255 caracteres;
festal
deve ser do tipo int
com valor entre 0 e 255;
A implementação destas regras seria algo semelhante à:
public setMeeten (value):
if (type(value) != "string"):
throws TypeError;
else if (len(value) > 255):
throws InvalidArgumentException;
this.meeten = value
public setFestal (value):
if (type(value) != "int"):
throws TypeError;
else if not (0 <= value <= 255):
throws InvalidArgumentException;
this.festal = value
Com isso já é possível entender a proteção que o encapsulamento gera. Definidas as regras de negócio, pode-se considerar que a aplicação não funcionará quando as mesmas não forem válidas. Por exemplo, se a propriedade meeten
for um valor inteiro. Utilizando a classe acima, tentando atribuir um inteiro à meeten
:
inst = Foo()
inst.setMeeten(1)
Uma exceção do tipo TypeError
seria disparada. Esta é a proteção que o encapsulamento define. Como a aplicação não funcionaria corretamente quando meeten
for do tipo inteiro, ela obriga o valor passar pelo método setter
onde são validadas as regras de negócio. Se inválidas, o fluxo de execução do programa é alterado pela exceção, impedindo a execução errônea da aplicação.
O mesmo acontece com a propriedade protected, porém, considera-se que em classes derivadas, a aplicação "saiba o que está fazendo", então é dada a liberdade à mesma de alterar diretamente o valor da propriedade. Por exemplo:
class Bar extend Foo:
public cheetah ():
this.festal = 10
É permitido à classe Bar
acessar diretamente a propriedade this.festal
, porém, perceba que se um valor for atribuído à propriedade que não validem as regras de negócio, por exemplo atribuir uma string
à festal
que deveria ser do tipo int
:
this.festal = "anything"
Não será disparado nenhuma exceção e a aplicação poderá executar normalmente, provavelmente gerando um resultado inesperado. Nestes casos, é recomendado, mesmo que possua a liberdade de acessar a propriedade diretamente, fazer o uso do método setter
de modo a centralizar todas as regras de negócio em apenas um lugar do código.
As propriedades do tipo public geralmente são assim definidas quando não existem regras de negócio, em que a aplicação funcionaria de forma esperada para qualquer tipo de entrada.
Óbviamente que detalhes desse funcionamento podem variar conforme a linguagem considerada. Por exemplo, em C++, se uma propriedade é definida como private ou protected e é tentado acessá-la diretamente no meio externo à classe, um erro será disparado. Já em Python esse encapsulamento não existe. No máximo, o Python remapeia as propriedades e métodos iniciados com __*
para _Classname__*
, assim uma propriedade chamada __foo
na classe Bar
seria remapeada para _Bar__foo
, mas o acesso direto a este último é liberado, pondendo acessar do meio externo Bar._Bar__foo = 0
sem ocorrer erros. Isso ocorre porque no Python é considerado que o desenvolvedor tenha conhecimento do que está fazendo, então lhe é dada toda esta liberdade. Em C++ (e acredito que Java), já é um pouco mais rígido, obrigando o uso dos métodos getter/setter
. No Python, iniciar o nome da propriedade com __
é basicamente para dizer ao devenvolvedor depois: "Ei, talvez não seja uma boa acessar isto diretamente. Faça isso apenas se realmente souber o que está fazendo.". Em C++ seria "Não faça isso!".
Resumindo, o encapsulamento apenas cria uma proteção para que sua aplicação funcione como deveria, definindo as "portas de entrada" da classe. De maneira alguma ela protege seu código de um usuário acessá-lo, se o mesmo possuir acesso ao seu servidor e códigos fonte. Para isso, você pode ler mais sobre em Como proteger o código fonte?, como citado nos comentários.
__*
para_Classname__*
. Ou seja, ainda seria possível alterá-las de fora da classe comobj._Conta__saldo = 999999
. Veja aqui.