<!-- language-all: lang-fs --> A diferença é justamente aonde a chamada recursiva é chamada: Caso ela seja chamada na "cauda" da função, é uma chamada de cauda recursiva. A "cauda" da função é sua última chamada. É a última computação / cálculo feito pela função, e logo depois dela, nenhum tratamento é feito antes de retornar seu valor. Por exemplo, considerando esta função para calcular o fatorial de um número, em F#: let rec fatorial n : int64 = if n <= 1L then 1L else n * fatorial (n - 1L) Essa função calcula o fatorial de qualquer número que você colocar. A menos que esse número seja muito grande. Porque nessa função, a cada chamada recursiva, a pilha aumenta, e um número muito grande pode causar um estouro de pilha. Imagine sua execução: <!-- language: lang-none --> fatorial(5) -> 5 * fatorial(5 - 1) -> 5 * fatorial(4) -> 5 * 4 * fatorial(4 - 1) -> 5 * 4 * fatorial(3) -> 5 * 4 * 3 * fatorial(3 - 1) -> 5 * 4 * 3 * fatorial(2) -> 5 * 4 * 3 * 2 * fatorial(2 - 1) -> 5 * 4 * 3 * 2 * fatorial(1) -> 5 * 4 * 3 * 2 * 1 -> 120 Se observar, a cada chamada recursiva, o número de funções sendo chamadas aumenta, porque o programa só pode calcular o resultado da última função chamada, para depois calcular o resultado das que a chamaram. Assim, a pilha estoura. Como evitar isso? Usando chamadas recursivas de cauda. Compiladores de linguagens funcionais costumam transformar chamadas recursivas de cauda em laços, porque isso é perfeitamente possível. Porque não fazer em laços diretamente? Porque isso perderia as qualidades e vantagens da programação funcional. Vou ilustrar uma função de fatorial em F# usando chamadas recursivas de cauda: let fatorial n = let rec _fatorial n acc : int64 = if n <= 1L then acc else _fatorial (n - 1L) (acc * r) _fatorial n 1L Note que, nesse caso, a função recursiva NÃO é `fatorial`, e sim _`fatorial`. Eu declarei _`fatorial` dentro de `fatorial` para podermos chamá-la com apenas um argumento, sendo que a função recursiva usa um acumulador. A principal diferença é que na função recursiva de cauda, a chamada de cauda é a chamada recursiva, e não `*` como no primeiro caso. Se observar o fluxo da chamada, ela corre assim: <!-- language: lang-none --> fatorial(5) -> _fatorial(5, 1) -> _fatorial(5 - 1, 1 * 5) -> _fatorial(4, 5) -> _fatorial(4 - 1, 5 * 4) -> _fatorial(3, 20) -> _fatorial(3 - 1, 20 * 3) -> _fatorial(2, 60) -> _fatorial(2 - 1, 60 * 2) -> _fatorial(1, 120) -> 120 Como você pode ver, a cada passo, a quantidade de chamadas nem aumenta nem diminui. A partir do momento que a função recursiva é chamada, apenas ela é chamada no final, sem precisar de mais cálculos. Quando um compilador pronto para isso vê uma chamada recursiva na cauda, ele automaticamente a transforma em um laço durante as otimizações. Com isso, você não perde as vantagens nem a elegância da programação funcional, mas também não corre o risco de passar por um estouro de pilha. Usando um refletor, posso ver que o código da função recursiva ficaria parecido com isso, de forma imperativa (em C#): <!-- language: c# --> internal static long _fatorial(long n, long acc) { for (; n > 1L; { long num; n = num; }) { num = n - 1L; acc *= n; } return acc; } public static long fatorial(long n) { return Fatorial._fatorial(n, 1L); } O compilador realmente transforma sua função recursiva em um laço. Por outro lado, a função que não usa recursão de causa se mantém intacta. Um bom meio de saber se sua função usa recursão na cauda ou não é tentar simulá-la em Clojure. Como Clojure não dispõe de recursividade de cauda nativamente, você deve usar a função `recur`, que lançará uma exceção caso não seja usada na cauda. <!-- language: lang-lisp --> ; Causa uma exceção pois a chamada de cauda é * (defn fatorial [n] (if (<= n 1) 1 (* n (recur (dec n))))) ; Funciona pois a chamada de cauda é recur (defn fatorial ([n] (fatorial n 1)) ([n acc] (if (<= n 1) acc (recur (dec n) (* acc n)))))