Como já mencionado nas ótimas respostas existentes, a regressão (entendida simplesmente como *algo que funcionava como esperado deixar de funcionar*) é um fenômeno natural em sistemas complexos, ao ponto de até mesmo ser argumentado como algo inevitável. De todas as formas, a experiência indica que há algumas formas de diminuir o risco desse indesejável efeito. **1 - Minimizar as dependências entre componentes de software** Dependências de software são relações de uso entre "pedaços" de um sistema computacional que têm por objetivo o reuso e/ou a organização de conceitos, soluções ou apenas de código. Essas dependências podem ocorrer de diversas formas, seja por meio de variáveis globais, saltos (com o famigerado `goto`), funções, classes ou qualquer outra estrutura disponível na linguagem de programação utilizada. Tais dependências são necessárias na construção de qualquer sistema, pois são o que permitem que a solução ocorra. Mas, são também a principal causa da complexidade em se alterar um software existente. Por exemplo, uma função reutilizada em inúmeros locais tem um grau de dependência elevado, de forma que qualquer alteração nela efetuada *seguramente* afetará seus utilizadores (seja provendo uma melhoria, se a alteração for corretamente efetuada, seja causando uma regressão, caso contrário). Minimizar dependências quer simplesmente dizer diminuir o número de "partes" de um software que dependam de outras. Mas essa diminuição não é arbitrária, e sim realizada segundo uma abordagem racional. Por exemplo, costuma-se colocar como "boa prática" evitar escrever funções muito extensas. A razão para isso é que uma função muito grande potencialmente faz mais do que deveria, e acaba sendo reutilizada por muitas partes dentro de um software. E se assim for, por fazer mais do que uma "função" (veja como o nome faz sentido) pode precisar ser alterada devido à uma funcionalidade A e acabar por gerar uma regressão em uma funcionalidade B que está dependente da mesma função. O correto planejamento dessas dependências, tanto durante a fase de análise como também da programação, pode evitar o "acoplamento" *desnecessário* de funções que fariam muito mais sentido se mantidas separadamente. Isso vale principalmente para linguagens orientadas a objetos, especialmente quando a herança é envolvida. Uma máxima que representa esse ideal na linguagem C++ (lembrança de projetos antigos, hehehe) é: "se ao fazer uma modificação eu não precisei mexer nesse arquivo CPP, então seguramente não haverá regressão nele". Aliás, essa prática também ajuda a localizar mais facilmente os potenciais locais de problema na ocorrência de uma regressão, e está relacionada a outra boa prática que eu menciono no item seguinte. **2 - Utilizar uma gestão de desenvolvimento efetiva** A organização no desenvolvimento de software não se limita a organização das funções em blocos de código. O próprio processo de desenvolvimento leva tempo e requer, ao mínimo, cuidados como a cópia de backup dos arquivos-fonte. Um desenvolvedor trabalhando sozinho poderia realizar essas cópias em arquivos zip, mas faz muito tempo que existem ferramentas mais apropriadas. Ferramentas de controle de versão servem pra muito mais do que apenas fazer *backup*. Elas mantém um histórico de alteração *por arquivo*, permitindo a comparação de alterações e principalmente a restauração de versões anteriores caso isso seja necessário. Mas, além disso, elas permitem a gestão do desenvolvimento em níveis mais altos, com a definição de rótulos de versão ou *baselines*. Em um processo de desenvolvimento maduro, parte-se de uma versão X.XX bem estabelecida do software (isto é, funcional e com problemas bem conhecidos) e faz-se o planejamento das alterações para a próxima versão. Essas alterações incluem não apenas correções de problemas como também melhorias, ambas escolhidas segundo critérios de gestão do projeto. Os desenvolvedores fazem as alterações no código de forma a corrigir os problemas ou implementar as melhorias, e espera-se que eventualmente uma nova versão X.XY (ou Y.YY) seja produzida incluindo as correções e melhorias e *sem regressões*. O uso de ferramentas de controle de versão que incluam o fluxo de trabalho (*workflow*) do parágrafo anterior permite aos gestores estabelecer uma linha de base (*baseline*) que marque individualmente a versão de cada arquivo de código-fonte como pertencente à versão do sistema sendo gerada e entregue. Por meio desses rótulos de versão, tais ferramentas são capazes de identificar facilmente os arquivos alterados de uma versão à outra, facilitando enormemente a identificação dos componentes que necessariamente precisam ser testados para a verificação do sucesso da correção dos problemas e da implementação das melhorias, e também das dependências que precisam ser testadas para verificar a possibilidade de ter havido uma regressão. Deve ser fácil notar como esse item é complementar ao anterior. Dependências desnecessárias não somente abrem margem para potenciais regressões, como aumentam o tempo de compilação em projetos grandes e dificultam a gestão mencionada. Outra boa prática, em linguagens como C++ e Java é criar arquivos separados para cada classe. Essa boa prática está ligada com esse princípio de separação, e de certa forma permite a certeza de que um arquivo que não foi alterado seguramente não apresentará regressão de uma versão para outra. **3 - Roteirizar os testes - preferencialmente de forma automatizada** Ainda que não alterar um arquivo de código garanta a ausência de regressão em seu escopo local, essa é uma constatação ainda insuficiente. As funcionalidades providas por sistemas complexos são dependentes de um grande número de componentes, e de um número ainda maior de arquivos de código. Assim, se faz necessária a verificação da regressão ao nível funcional. Existem formulações matemáticas que podem provar (por contradição ou [indução][1], por exemplo) que uma parte de um código faz o que alega fazer, mas a aplicação desse princípio em sistemas vastos e complexos é simplesmente inviável. Por isso que a melhor forma de avaliação de sistemas é o teste. Em outras respostas menciona-se utilizar o sistema em ambiente isolado da produção, mas eu enxergo isso como uma forma distinta de teste. Afinal, se o ambiente não é de produção, o sistema não está sendo de fato utilizado. Idealmente deveria-se testar o sistema completamente antes da entrega de uma nova versão, mas isso nem sempre é possível (por falta de tempo ou de recursos). As indicações de alteração fornecidas pelas ferramentas de controle de versão descritas anteriormente podem ser de muita ajuda. Mas é cada vez mais prática comum a automatização dos testes sempre que possível. Essa automatização faz especialmente sentido quando relacionada aos requisitos funcionais, de forma a garantir que cada requisito foi devidamente verificado (essa relação deve existir independentemente da automatização, na verdade - mas enfim). Na última empresa em que trabalhei como funcionário, novas versões eram testadas inicialmente de forma manual (por um funcionário diferente do desenvolvedor) apenas nos componentes indicados como alterados pela ferramenta de controle de versão (lá se utilizava o [Rational ClearCase][2]). Caso problemas fossem encontrados (entre eles qualquer regressão), um chamado na própria ferramenta era aberto para que algum desenvolvedor verificasse, e a versão era congelada até que o problema estivesse solucionado. Passada essa fase de testes manuais, uma ferramenta de automatização (lá se utilizava o [AutoHotKey][3]) era automaticamente executada em uma versão gerada e instalada em uma máquina independente (sem qualquer instalação de compiladores, bibliotecas, etc). O automatismo incluia interações via interface gráfica nos mesmos moldes que um utilizador final (usuário), e os roteiros desse teste eram criados e mantidos por outros funcionários independentes dos testadores e desenvolvedores, mais próximos da analistas de requisitos, para testar *completamente* o sistema em termos de suas funcionalidades. As regressões eram raras, mas quando ocorriam eram principalmente identificadas nessa fase. **Concluindo** Regressões são problemas que só podem ser evitados com a atuação de toda a equipe de desenvolvimento, pois dependem de boas práticas na programação, nos testes e na gestão. De fato, testes parecem ser a forma mais eficaz de identificação de regressões. Hoje, ao comparar as abordagens das diferentes empresas em que trabalhei, eu diria que esse tipo de problema é o que mais prejudica a imagem da empresa perante o cliente, pois transparece a má gestão do projeto muito facilmente. A automatização dos testes é uma prática útil e razoavelmente fácil hoje em dia (tem diversas ferramentas que podem ajudar nisso), mas ela depende principalmente de um bom roteiro de testes (*checklist*), que verifiquem em uma primeira instância apenas os componentes alterados, e em última instância todas as funcionalidades. A regressão é um problema um tanto inevitável, principalmente em projetos grandes que envolvam muitos desenvolvedores. O que todas essas práticas fazem na verdade é evitar que esses problemas sigam nas versões geradas e atinjam o sistema em produção, prejudicando o cliente e, consequentemente, o projeto. [1]: http://pt.wikipedia.org/wiki/Indu%C3%A7%C3%A3o_matem%C3%A1tica [2]: http://en.wikipedia.org/wiki/IBM_Rational_ClearCase [3]: http://www.autohotkey.com/