Na realidade, tudo depende da configuração do seu editor de texto. A _maioria_ dos editores de texto salva, por padrão, os arquivos na codificação UTF-8 (e, pelo menos para os lusófonos, os editores que não o fazem salvam em ISO-8859-1). # Por que isso importa? Pra resumir uma história bem complicada, que começou lá na época dos primeiros telégrafos, os códigos de caracteres do alfabeto latino foram padronizados bastante cedo (o [ASCII][1] foi padronizado em 1960), mas os caracteres “especiais” — cedilhas, acentos — foram “padronizados” por cada país (ou grupo de países) separadamente. A Europa Ocidental (e, portanto, países lusófonos, hispanófonos, …) convergiram no padrão [ISO 8859-1][2]. O problema é que esse padrão não contém caracteres dos alfabetos grego, cirílico, …, então é impossível ter um documento neste padrão que, por exemplo, misture trechos de português com grego (e a situação fica pior ainda quando você inclui japonês, chinês, …) # A invenção do Unicode Para unificar essas codificações e permitir textos polílingues (e evitar ambiguidades na hora de trocar textos entre computadores com codificações diferentes), foi inventado o Unicode, cujo objetivo é atribuir códigos distintos a todos os caracteres de todas as línguas do mundo. Textos Unicode podem ser codificados de várias formas diferentes — internamente, .NET e Java usam UTF-16; Python 3 escolhe entre ASCII, UTF-16 e UTF-32 dependendo dos caracteres que estão no texto que você está processando. Ainda assim, UTF-8 é a codificação mais popular para arquivos texto (e.g. arquivos-fonte Python) # Por que essa linha é necessária Dado que um byte só pode ter 256 valores distintos, e o conjunto de todas as línguas do mundo tem mais de 256 caracteres, o UTF-8 precisa usar mais de um byte para representar alguns caracteres. Em geral, caracteres acentuados como na palavra “bênção” são representados em 2 bytes em UTF-8 (ao contrário de só 1 em ISO 8859-1): b | ê | n | ç | ã | o ISO 8859-1: 62 | EA | 6E | E7 | E3 | 6F UTF-8: 62 | C3 AA | 6E | C3 A7 | C3 A3 | 6F Isso é um problema quando você tenta ler um texto escrito em uma codificação como se fosse outra codificação: se o texto foi escrito como UTF-8 mas lido como ISO 8859-1, ele aparece como “bênção”; o contrário aparece como “b�n��o” (ou, no caso do Python, causa um `UnicodeDecodeError`). O Python 2, como um caso especial, detecta a presença dessa linha e a usa para detectar o encoding do arquivo. Na _ausência_ dessa linha, o Python entra num modo mais conservador, e só aceita caracteres ASCII (sem acento), lançando um erro se ele encontrar algum caractere “esquisito” (os detalhes desse mecanismo estão descritos na [PEP 0263][1], que propôs a mudança). # Resumo da ópera Se você quiser usar acentos no seu arquivo Python 2, coloque uma das três linhas a seguir no topo dos seus arquivos: # encoding: utf-8 # encoding: iso-8859-1 # encoding: win-1252 Em ordem aproximadamente decrescente de probabilidade, esses são os encodings que o seu editor provavelmente usa. Você também pode migrar para Python 3, onde o código abaixo é perfeitamente legal… fmoreira@saucer tmp $ cat encoding.py π = 3.14159265359 半径 = 2.5 área = π * 半径 ** 2 print('مساحة = {}'.format(área)) fmoreira@saucer tmp $ python3 encoding.py مساحة = 19.6349540849375 …mas eu obviamente não recomendo essa técnica. [1]: http://pt.wikipedia.org/wiki/ASCII [2]: http://pt.wikipedia.org/wiki/ISO_8859-1 [3]: https://www.python.org/dev/peps/pep-0263/