Assim disse o Mestre Programador: Que os programadores sejam muitos e os gerentes poucos - então todos serão produtivos.
Diz a lenda que em uma longínqua província havia um monastério onde o Mestre Programador compartilhava seus ensinamentos. Um de seus diálogos foi a respeito de código legado.
'Mestre', perguntou o orgulhoso engenheiro da corte de Lao, 'Por que sistemas legados são usados? Geralmente quando lido com sistemas legados, sinto que lhes faltam Zen: Eles são como karesansui1 que, em uma casa abandonada, são desfigurados pelo tempo e descuido. Esquecidos, se desconectam da natureza do negócio; não entendidos, impossibilitam o feng shui.'
'A resposta é um reflexo do coração do engenheiro', começou o mestre. Este então se levantou, no que foi seguido pelos discípulos que o acompanhavam naquela manhã de primavera onde as brumas da manhã ainda pairavam.
Iniciou então uma caminhada, que os levou colina acima até as bordas da floresta. Encontrando um lugar ao Sol na relva circundante onde o orvalho da manhã ainda persistia, virou-se e, sentando em uma pedra próxima, começou a observar a cidade à sua frente, cujos delicados telhados se estendiam como um punhado de jóias em uma bolsa da cor do jade.
À sua esquerda, beirando a estrada por onde os locais transitavam - aqui, uma mãe levando uma cesta de pães, um bebê à tiracolo; ali, um samurai com o passo decidido de alguém em uma importante missão dada por seu daiymio - , um pilar de madeira se erguia, decorados com motivos xintoístas e um um poema em estilo haiku:
もとへだつともかやかりのいきわかれ
Nuvens nos separam - o tempo de partir chegou. O ganso selvagem alça vôo.2
'Esta é a quarta encarnação desta cidade', disse o mestre, retornando ao assunto. 'Antes do nome atual, outros foram utilizados: outros engenheiros, do topo desta ravina, observaram o espaço à sua frente - outras construções, outras pessoas, outros tempos. Os engenheiros que ergueram aquele pilar já se foram a muito tempo; sua arte é agora apreciada em outros lugares, ou se retiraram dos prazeres do mundo.
Incêndios varreram as construções de madeira e bambu; dignatários da corte mudaram a residência oficial de endereço, tamanho, cor, formato e objetivo; o forte que foi construído à época da guerra foi convertido em um armazém.
Entretanto, o poço de pedra na praça central é o mesmo, porque seu própósito é claro, sua implementação é simples, e sua função perfeitamente observada. Está é uma das razões.
A mansão abandonada na floresta, também antiga, possui uma outra razão de ser. Lendas dizem que um yōkai a habita; soldados evitam suas redondezas, e mães a utilizam para ilustrar histórias de outras crianças desaparecidas, usando o medo como uma ferramenta para conter a curiosidade de sua própria prole.
A cidade à nossa frente é como um tecido de fibras de várias épocas, em uma trama que conta, ao mesmo tempo, as estórias do velho e do novo. O Zen persiste não em aspectos individuais, mas sim em seu dia-a-dia, na vida que habita suas ruas de variadas larguras.'
Porém o engenheiro se mostrava insatisfeito com a resposta. 'Mas seria isso o ideal, Mestre? Recentemente retornei de Edo, e a cidade se erguia magnífica - todos os prédios novos, seus vernizes reluzindo ao sol.'
O mestre então lhe respondeu: 'Nem todas as cidades possuem cofres tão cheios quanto o Imperador, que pode se dar ao luxo de reconstruir uma cidade a seu bel-prazer. O que seria Zen, neste caso? Onde estaria o balanço entre vontade, objetivo e realização? Não estaria a cena à sua frente perfeitamente em balanço?'
O mestre e seus seguidores continuaram admirando a cidade e seu burburinho. Após um alguns minutos de contemplação, o engenheiro sorriu. Ele tinha aceitado a natureza do argumento; com seus novos olhos, à sua frente, a pequena cidadde reluzia em perfeito equilíbrio no orvalho da manhã.
1Jardim de pedras japonês.
2Matsuo Bashō, 1671