Esta poderia ser uma questão mais para o Workplace do que técnica. Sempre que envolve convencer a gerência podemos nos deparar com diversos barreiras que vão além do próprio código ou sistema.
Imaginando que não teremos estas barreiras, digamos, políticas dentro da sua empresa que possam impedir isto, e que a empresa poderia permitir uma mudança mais "brusca" em um novo projeto ou projeto existente (além de OO, poderia ser uma nova linguagem, framework, etc), que seus colegas também estão alinhados com o seu pensamento, então podemos partir para o ponto principal desta discussão.
Tentarei argumentar de uma forma menos técnica, pois você precisa alinhar o seu discurso de acordo com o seu interlocutor. Se argumentar de forma muito técnica, ele pode não entender.
E, por fim, não entrarei nos méritos se é melhor ou não que abordagens procedurais muito comuns como Transaction Script.
A dificuldade de colocá-la em prática
Por mais que o assunto de orientação à objetos esteja sempre na "boca do povo", a experiência mostra que não é simples de implementá-la na prática.
Se analisar os livros de referência do assunto, comumente irá se deparar com exemplos muito simples, ou que partem de premissas discutíveis (exemplo: usar uma entidade do banco como objeto) ou complexas (DDD em geral).
Ou seja, quando estamos pensando apenas na organização de objetos para atender um problema, tudo parece lindo: crio um objeto Ordem
, que recebe um Pagamento
, que pode ser feito com Cartao
, etc.
Mas quando começamos a falar de APIs entrando com dados, salvar informações no banco, validações, transações, integrações, filas, retentativas, etc, as coisas começam a ficar bem desafiadoras e outras abordagens tornam-se mais sedutoras. E isto que nem chegamos ainda no desafio de compor os objetos de forma correta (já chego lá).
Por isto, o ideal é começar com um problema simples e isolado. Este seria o cenário ideal para propor isto ao seu chefe. De preferência, que possa ser encaixado em um novo sistema apartado dos demais. É inevitável que existirá uma curva enorme de aprendizado se você ainda não trabalhou profissionalmente com orientação à objetos, então este seria um bom espaço para errar e refazer algumas coisas sem afetar o que já existe.
Mas por quê OOP?
Alguém irá perguntar.
Aqui será inevitável fazer a comparação do modelo que funciona (ou "funciona") com a sua proposta de objetos.
O argumento mais comum aqui é "bater" no padrão atual: é confuso, desorganizado, sem padrão, regras espalhadas, etc. Dependendo de como o padrão atual foi implementado, isto pode ajudar na discussão, mas não pode ser necessariamente uma verdade para o padrão. Talvez o código confuso no padrão atual só esteja lá porque as pessoas que participaram do desenvolvimento não quiserem/puderam/souberam melhorar.
Então, eu tentaria trazer as vantagens evitando um pouco as comparações.
Vantagem 1: proximidade do negócio
Uma organização em objetos permite que a conversa entre pessoas de negócio (Analistas, POs, etc) e desenvolvedores fique muito mais transparente. Ao falar que o Pedido
recebe um Pagamento
, isto de fato estará ocorrendo no código:
pedido.adicionarPagamento(cartao);
Com o esforço da equipe em tentar usar a mesma linguagem de negócio para modelar os objetos (conhecido como ubiquitous language).
Se seu analista/PO tiver alguma bagagem técnica, ele pode mesmo até te ajudar em algumas decisões de código se você souber direcionar ele no entendimento do mesmo.
Em outras soluções você verá algo bem diferente: talvez um DTO
, classes de service, classes de validação, um repositório, mapper, etc. Algo mais distante da "realidade" do negócio.
Vantagem 2: O código fica mais auto-explicável
Outra vantagem que enxergo é que ele limita um pouco a "criatividade maléfica" dos desenvolvedores ao organizar a aplicação. Como o holofote da aplicação são os objetos, você sempre terá uma boa noção de onde implementar uma nova feature ou fazer uma correção. Por exemplo, se tem alguma validação na parte de cartão, você procurará pelos objetos relacionados ao Cartao
.
Isto também leva a um movimento natural de organizar seu sistema por pacotes de acordo com o negócio e não por pattern.
Porém, em outras soluções, esta regra poderá estar em alguma classe de serviço, classe de validação, em uma entidade, etc: Será que está no CartaoService
? RegistrarCartaoService
? CartaoValidation
? ProcessarPagamentoCartaoValidation
?. Enfim, você pode usar outros nomes de classe que julgue ter mais significado, mas com o crescimento do código do sistema isto tende a rapidamente tornar-se um problema sem um controle mais rígido e claro para nome de classes e organização de pacotes.
Vantagem 3: existem abordagens simples para aplicar OOP
Não é preciso se basear em livro densos de DDD para criar uma aplicação robusta com orientação à objetos. Existem abordagens hoje, como a do Elegant Objects, que permitem o uso de orientação à objetos sem precisar isolar totalmente seus objetos, exigindo menos "infra" de código para salvar informações ou realizar integrações. Porém, violando alguns princípios considerados "sagrados". Também traz algumas práticas bem-vindas ao código, como evitar null
. Mas não é uma recomendação, pois ele tem alguns pontos de vista polêmicos. É apenas um exemplo.
Poderia pensar em outras ainda, mas acredito que isto seja um bom começo.
Show me the code!
Muitas vezes, é preciso literalmente desenhar para que as pessoas consigam entender sua ideia, o que está oferecendo ou dizendo. Isto é perfeitamente normal, algumas pessoas são mais visuais. No mundo da programação isto pode ser alcançado com uma implementação funcional.
Escolha alguma funcionalidade mais simples do projeto, que já exista, e faça uma implementação dela usando OOP. Isto permitirá uma comparação entre o modelo atual e o modelo orientado à objetos que quer propor.
E se ele recusar?
Você pode ter os melhores argumentos do mundo e não conseguir convencer seu chefe. Ás vezes, não é o que você fala, mas como fala. Ou pode existir situações que fogem até mesmo do controle dele que impeçam isto e que ele não possa te contar.
Enfim, peça para ele explicar o motivo da recusa se possível e, dependendo da resposta dele, pergunte o que precisaria fazer para isto ser possível.