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Trabalho em uma empresa que não utiliza orientação a objetos, apesar de a linguagem permitir (e incentivar).

Já estudei e estudo orientação a objetos, e faço meus projetos pessoais em OO, mas não sei exatamente que argumentos poderia ser utilizados para motivar uma empresa (que está em uma zona de conforto, do ponto de vista técnico) a considerar desenvolver novos projetos de maneira orientada a objetos.

Enfim, se eu for conversar com meu gerente, quais seriam os argumentos mais convincentes em favor da orientação a objetos?

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  • 9
    Se a pergunta fosse ao contrário, eu responderia :) Apesar de usar OOP, se procurar pelas minhas respostas, verá que sou crítica ao paradigma. Pelo menos ao abuso dele. Este site construído em linguagem vendida como sendo OO mas evitam o paradigma tanto quanto dá e conseguem melhores resultados por causa disto. Tem muita gente que acha que programa OO quando não é verdade. Muitos programadores acham que o fato de usar classes está fazendo OOP, o que está longe de ser verdade. Então não deixe ele ver o que tenho a dizer :)
    – Maniero
    Commented 23/03/2015 às 20:00
  • 9
    Só minha opinião, mas se OO não está fazendo falta até o momento, talvez o ideal seja não usá-la mesmo... Por outro lado, se você puder identificar anti-padrões nos códigos (ex.: excesso de if..else que poderia ser melhor expresso via polimorfismo, funções com nomes "estranhos" para "ajudar a lembrar" a qual tipo elas se aplicam, etc), então esses problemas em si devem ser usados como argumento para mudança. A propósito, eu sinto muito mais falta de programação funcional quando a mesma não está disponível do que de OOP...
    – mgibsonbr
    Commented 23/03/2015 às 20:02
  • 1
    @ArthurdeAndrade, só por curiosidade, qual a linguagem utilizada? Commented 23/03/2015 às 20:12
  • 2
    Vendo as respostas recebidas (inclusive a minha), imagino que você deve estar pensando: "ok, e agora como é que eu explico isso pro meu gerente?..." :P
    – mgibsonbr
    Commented 24/03/2015 às 0:04
  • 3
    @andradedearthur Não fale com a gerência em "Orientação a objetos" - fale dos problemas do código atual e dos benefícios de se "aprimorar a engenharia de software" da empresa. Os benefícios você encontra nas 3 respostas postadas até agora, inclusive na polêmica resposta do JoãoLuizGrigoletti que, embora incompleta, está correta. Pelo que tenho visto, preferir procedural numa linguagem que suporta muito bem os mais úteis paradigmas da OO é falta ou de conhecimento da OO (OO real e não a acadêmica de décadas atrás) ou falta de experiência com códigos procedurais nestas linguagens.
    – Caffé
    Commented 13/04/2015 às 23:22

4 Respostas 4

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Padronização

Assim como uma criança que está aprendendo a ler tem dificuldade de juntar as letras para formar palavras, uma mais adiantada já lê palavras inteiras mas esforça-se pra juntá-las em frases, e um leitor proficiente já "enxerga" frases inteiras, o mesmo ocorre com a programação. Se você viu um laço for que percorre uma lista de 1 em 1 um milhão de vezes, você não se perde na sintaxe daquela instrução específica, seu olhar já cai nos detalhes particulares. Da mesma forma, se você viu N exemplos online de uma tarefa sendo feita de uma certa forma na linguagem X, ver um código semelhante já se torna sua segunda natureza.

Se uma linguagem trabalha predominantemente com práticas de OO, adotar essas mesmas práticas no seu código torna-o mais legível do que não adotá-las. Não porque OO seja mais legível que procedural, funcional, etc, mas porque os profissionais com experiência naquela linguagem já estão condicionados a pensar daquela forma. Se um projeto está sendo feito do zero, por profissionais que não são estranhos à sintaxe e semântica OO, desenvolvê-lo da forma mais "usual" à plataforma contribui para sua manutenabilidade, sobretudo se um grupo de profissionais diferente daquele que o escreveu poderá eventualmente ser responsável por dar suporte a ele.

Flexibilidade no workflow

Um programa estritamente orientado por objetos não possui um "início" nem um "fim": em vez disso, ele possui um conjunto de objetos capaz de trocar mensagens entre si. A ordem com que essas mensagens são trocadas importa, é claro, bem como é possível guardar estado até mesmo global usando objetos. Mas mudar a ordem com que determinadas subrotinas são invocadas é algo (pelo menos em teoria) mais factível em uma arquitetura OO que numa procedural - pois isso não envolve necessariamente a reestruturação de todo o código.

Explicando melhor (pois essa minha última afirmação é dúbia), num sistema onde a operação A sempre ocorre antes da B, pode-se presumir certas coisas sobre seu estado no momento em que B é executado. Se você decide passar B para antes de A, é necessário fazer uma avaliação de todo o que era pressuposto ser verdade em B e verificar o que ainda é verdade e o que deixou de ser - e portanto precisa ser adaptado.

A orientação por objetos não resolve "magicamente" esse problema, mas ela ajuda a modularizar o processo de decisão: ao estabelecer (formal ou informalmente) que o objeto X possui certas invariantes, e só programar assumindo tais invariantes como verdadeiras, evita-se cair no vício de escrever código que "só funciona se A, B e C já aconteceu". Em vez disso a OO te força a avaliar se o estado dos objetos envolvidos em certa computação estão aptos a realizar essa computação, independentemente da sequência de eventos que os levou àquele estado.

Trocando em miúdos, é mais fácil criar um script (no sentido de "roteiro") para colocar ordem num sistema que permite N ações do que dividir em N ações um sistema expresso por meio de um script...

Níveis de abstração

Idealmente, deveríamos sempre programar no nível de abstração correto para representar o problema com o qual estamos lidando. É por isso que ninguém "programa um jogo", por exemplo: programa-se uma engine de jogos, e usa-se a linguagem de script dessa engine para criar o jogo em particular. Isso pode ser feito mesmo que não se pretenda de antemão reutilizar esse código em nenhum outro jogo.

Há quem recomende o uso de DSLs ("Linguagens Específicas para um Domínio") para se atingir esse objetivo, mas em geral isso é bem pouco prático - não é fácil aprender uma nova linguagem, ou pelo menos não é fácil "pegar o jeito" rapidamente de como fazer a ação X na nova linguagem Y. Uma linguagem mais comum acaba sendo preferível, mas não faz sentido se limitar às primitivas básicas dessa linguagem para se desenvolver nos níveis de abstração mais altos.

É nesse momento que o uso de tipos definidos pelo usuário se mostra interessante: o conceito de "objeto" pode não ser exatamente o mesmo conceito de "tipo", mas eles têm muito em comum (e uma "classe" pode ser usada para representar um "tipo"). Ao unir estrutura de dados e funcionalidade numa mesma unidade, e combinar as operações básicas dessa unidade para se realizar computações complexas (em oposição a fazê-lo usando as operações básicas dos seus componentes), você está raciocinando num nível mais alto, mais apropriado para o problema a ser resolvido.

Reiterando: tipos customizados não são privilégio do paradigma OO, mas são um dos benefícios de se usar esse paradigma. Se você encapsula os componentes numéricos de uma matriz ou vetor não é "para nenhum programador descuidado mexer neles por engano" - mas sim para te habilitar a expressar sua computação como uma série de operações em vetores/matrizes em vez de expressá-la como uma série de operações em escalares. Se você avaliar que seu sistema se beneficiaria de uma riqueza maior de tipos (grande "se" - eu pessoalmente sou da opinião que há muitos casos em que uma estrutura básica é mais adequada, e que o uso de classes é overkill), esse pode ser um argumento em favor da adoção desse recurso em particular da OO (com ou sem herança e polimorfismo).

Extensibilidade

Às vezes é necessário que um sistema seja extensível, em especial quando é necessário suporte a formatos diferentes de dados e/ou interface com sistemas de terceiros. Em alguns casos isso pode ser feito de uma forma puramente funcional (i.e. um dicionário mapeando um nome à função que trata daquele nome), mas em outros pode ser necessário um conjunto de operações distintas porém relacionadas (e talvez ainda guardando estado) para realizar uma determinada tarefa.

Nesse caso o uso de uma classe abstrata/interface especificando o que precisa ser feito, juntamente com N classes concretas realizando o que foi especificado, me parece ser uma forma bastante adequada de se lidar com esse cenário. Outros paradigmas (ex.: programação em lógica) podem possuir meios também adequados, mas se suas opções forem "objetos" e "cadeias de ifs", eu diria que você tem um bom argumento em mãos em defesa do uso de herança e polimorfismo.

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  • 4
    Nota: eu nunca parei pra pensar com detalhes no que significa "ser orientado por objetos" vs. simplesmente "dar suporte a objetos", de modo que dei minha resposta simplesmente enumerando razões pelas quais o estilo de codificação OO e/ou certas características OO poderiam ser desejáveis dadas as circunstâncias. Mas estou aberto a críticas caso por exemplo eu tenha feito mau uso dos conceitos envolvidos.
    – mgibsonbr
    Commented 23/03/2015 às 23:44
  • 5
    Poxa, fantástica a explicação sobre a sequência de eventos, os estados e os pressupostos. Tá ai mais um argumento interessante: entender OO é um bom passo inicial pra depois aprender e explorar outros paradigmas, como Orientado a Serviços e Orientado a Agentes (neste último, em que as entidades nem sequer são obrigadas a responder a uma mensagem recebida - um "pressuposto" ainda fortemente existente em OO). :) Commented 23/03/2015 às 23:49
  • Primeiramente, gostaria de pedir desculpas pelo meu equívoco nos meus comentários. Gostaria também de parabeniza-lo por sua resposta. Simples, concisa e completa. Fui de certa forma omisso, ao não retirar do termo "código macarronico", a bem escrita, programação procedural. Commented 24/03/2015 às 0:22
  • @JoãoLuizGrigoletti Sem problemas! :) Eu percebi seu equívoco, na realidade meu comentário teve dois propósitos: 1) dar minha opinião na sua resposta, naturalmente; e 2) quebrar o ciclo de comentários entre você e o bigown, que não só estava se estendendo além do saudável como estava descambando pro lado pessoal... Eu concordo com muita coisa na sua resposta (por isso não dei -1) mas também discordo de muita coisa (por isso não dei +1), e pelo visto os demais também se abstiveram de votar nela. Em especial, eu concordo quando você diz que "[sua] resposta foi a que chegou mais perto"...
    – mgibsonbr
    Commented 24/03/2015 às 0:48
  • 2
    Lendo sua resposta para mim está claro que entre Delphi/C# (linguagens do AP) OO e Delphi/C# procedural, OO só possui vantagens. Qual seria a vantagem de fazer procedural em vez de OO nestas linguagens? Sua resposta é uma ode à OO mas você diz pelos comentários aqui e ali que há um outro lado e não explica que outro lado é este. Optar por procedural em vez de OO nestas linguagens é um sintoma do não conhecimento de OO e na prática resulta sim em código macarrônico. Conhecendo bem OO, eu próprio posso provar que é possível procedural sem macarrão, mas não é o que ocorre na prática.
    – Caffé
    Commented 13/04/2015 às 23:13
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Eu começo com a seguinte definição de Paradigma, extraída da Wikipedia:

Paradigma (do latim tardio paradigma, do grego παράδειγμα, derivado de παραδείκνυμι «mostrar, apresentar, confrontare») é um conceito das ciências e da epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.

Parece uma definição super complexa, mas não é. Basicamente um paradigma é uma sugestão de abordagem de algo, um modo de pensar. No nosso caso, como desenvolvedores de sistemas, é uma sugestão de abordagem para a solução de problemas por meio da automatização computacional. Eu comecei por essa definição porque é fácil esquecer que há a letra "P" ali no acrônimo "OOP" que não necessariamente signfica "Programação". Quando eu comecei a estudar o assunto, era muito mais comum se traduzir "OOP" como "Paradigma Orientado a Objetos". O que, convenhamos, faz muito mais sentido, já que programação é só o ato de construir - o planejamento da solução de problemas vai muito além disso.

Meu principal porquê em utilizar (e indicar) um "modo de pensar orientado a objetos" advém da abordagem pregada (leia-se: "da forma de pensar").

O paradigma estruturado é intimamente direcionado à resolução de um problema por meio da roteirização da solução. Ou seja, ao se programar, basicamente se descreve passo a passo o que precisa ser realizado para que o problema seja gradualmente solucionado. Essa abordagem é muito natural porque o computador é muito melhor do que nós humanos em executar instruções precisas muito rapidamente. E é justamente essa a definição de algoritmo:

Um algoritmo é uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente em um período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita.

Essa forma de pensar é suficiente para resolver problemas diversos desde que eles possam ser roteirizados, e de fato tem sido usada desde que os primeiros computadores foram criados (seja usando válvulas ou cartões perfurados). Acontece que conforme cresceu a complexidade dos problemas a serem tratados, os roteiros ficam maiores e mais difíceis de ler e entender (por nós humanos). Deve ser fácil imaginar o quão difícil é interpretar a função de uma sequência de instruções (operações aritiméticas em variáveis, por exemplo) no meio de um programa realmente extenso (e talvez desprovido de comentários locais). :)

Aliás, não é de se estranhar que muitas linguagens estruturadas fornecem a possibilidade de se criar funções. Talvez você não tenha pensado a respeito até então, mas o significado semântico da palavra é esse mesmo: uma função faz algo importante, ou seja, tem algum papel (uma função! hehehe) na resolução global do problema, de forma atômica e reutilizável. Essa divisão em funções permite não apenas organizar a roteirização do problema de uma forma que seja humanamente compreensível (porque para o computador é tudo saltos para endereços de memória mesmo), mas por si só já traz inúmeras vantagens como reuso de código e facilidade de manutenção (argumentos que comumente são usados pra qualificar a OOP, mas que na verdade não dependem desse paradigma).

O que a OOP é, na verdade, é uma evolução na forma de se pensar a solução de um problema. Há uma consideração em um nível um pouco mais alto do que apenas o caráter funcional da resolução de pequenos aspectos de um problema maior. Há também a representação das entidades envolvidas. Em outra questão sobre a origem da OOP pode-se observar que há várias inspirações para essa forma de pensar, e nota-se que a principal necessidade é relacionada a entender também:

  1. Quais são as entidades envolvidas no domínio do problema
  2. Quais são as relações entre essas entidades

As entidades podem ser chamadas de inúmeras formas (de classes, de frames, não importa), mas elas representam algo relevante para o problema e que agrupam (e claramente identificam) não apenas as funções (ou métodos, ou comportamentos) mas também os dados (ou atributos, ou slots) que são manipulados e necessários para que o problema seja de fato tratado.

Deve ser fácil perceber que isso é uma forma de pensar que, em seu núcleo, independe de uma linguagem de programação. Você pode construir o equivalente a classes em linguagem C usando estruturas com variáveis regulares para servirem de atributos e ponteiros de função para servirem de métodos. E novas estruturas podem ter ponteiros para estruturas existentes, como forma de simular herança. O que muitas das linguagens modernas fazem é apenas facilitar o uso desse paradigma, como já foi bem colocado por colegas em comentários. Mas mesmo que você use C++, C# ou Java, ainda há ali, nos métodos, a roteirização necessária para que a resolução das partes componentes da solução maior aconteçam. Pois, lembrando, computadores fazem isso mesmo: executa instruções muito rapidamente.

E as vantagens?

Tendo discorrido sobre tudo isso (desculpem se ficou muito longo - tentei apenas ser didático), a principal vantagem dessa forma de pensar (ou seja, do paradigma orientado a objetos) que eu enxergo está na organização do trabalho. Como se inicia pensando nas entidades envolvidas, em seus papéis na resolução geral do problema e na relação que elas têm entre si (e que também ajudam na solução do problema), é muito mais fácil construir a solução de forma gradual. Veja, problemas complexos têm um entendimento difícil, e é comum que se perceba certas nuances ao longo do desenvolvimento. Uma organização de projeto orientada a objetos facilita a evolução do código (em certos casos, basta herdar uma classe - e aqui eu creio que seja vantajoso você ler a respeito da discussão dos múltiplos ifs, que também foi mencionada em comentário).

Ela também facilita a manutenção na medida em que é mais fácil para um humano lembrar das entidades envolvidas na resolução do problema do que de seus comportamentos individuais. Imagine que você precisa dar manutenção em um projeto seu mesmo, mas depois de muitos anos. Se há um problema relacionado à impressão de pedidos, deve ser mais fácil você simplesmente gastar seu tempo analisando código da classe Pedido do que procurar entender e encontrar as funções relacionadas no meio de diversos arquivos de código.

P.S.: Note como alguém que argumentasse que basta organizar as funções em arquivos intimamente relacionados estaria, de certa forma, usando esse paradigma sem saber! hehehe

Mas vale lembrar que nem tudo é vantagem. Como também foi citado em comentários, uma equipe que não estudou e não conhece o paradigma pode gastar tempo precioso aprendendo. A experiência (e o grande número de perguntas aqui no SOPT) indicam que há uma bela de uma curva de aprendizado envolvida. Além disso, para aplicações críticas em que velocidade de execução e/ou uso de memória são requisitos não funcionais importantes, o esforço computacional adicional oriundo das facilidades providas por recursos da OO (como, por exemplo, a sobrecarga de métodos e operadores, ou os construtores de cópia) podem trazer desvantagens relevantes.

1
  • 3
    Ótima resposta. Concordo: você faz um ótimo código OO e um profissional que não entende OO não poderá dar manutenção nele. Mas o inverso também é verdadeiro: você faz um código macarrônico (e tenho visto que ausência de OO em Delphi/C# é sempre macarrônico) e apenas você, com sorte, poderá dar manutenção nele. Então enquanto há o custo da curva de aprendizado de OO, do outro lado há também o custo da curva de aprendizado do próprio código. Pelo que tenho observado, o custo do segundo é bem maior, e é mais fácil encontrar por aí alguém que entenda OO do que alguém que entenda seu código ruim.
    – Caffé
    Commented 14/04/2015 às 19:48
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Geralmente, se você tentar defender a orientação a objetos em uma empresa que não coloca-a como uma premissa básica, a primeira coisa que irá escutar é: -Pra que? funciona não fuinciona? Em time que tá ganhando a gente não mexe.

Na verdade, o código macarronico tem suas vantagens. É fácil de fazer, é muito rápido de desenvolver e geralmente, programas que entram em produção utilizando essa "arquitetura" rodam assustadoramente mais rápido do que seus primos almofadinhas.

Pra vc arrumar um código macarronico que vc fez é uma coisa. Outra completamente diferente é colocar esse software na mão de um novo desenvolvedor. O cara vai ficar louco. Outro problema surge quando alguem quiser melhorar esse software. Aquela velha história...meu software vende maças. Mas agora eu quero vender uva...

Elucidado o contexto vamos às minhas justificativas.

  • Dependencia de Profissionais - Quem entende um código macarronico é só seu criador. Se outro profissional por as mãos, provavelmente passará meses decifrando o que o outro desenvolvedor fez. Diante disso, cria-se uma relação de dependencia entre a empresa e o desenvolvedor do sistema. Esse profissional passa a ficar mais caro a cada dia, afinal o sistema não pode parar e não é fácil achar alguém que consiga dar continuidade ao projeto. O sujeito se torna virtualmente insubstituível, o que não é bom pra empresa.

  • Manutenção e Evolução - Como disse anteriormente, o software é de vender maça e não uva. Aí começam as gambiarras. Você olha o código e começa achar um monte de "flags" e um monte de "if's" do tipo: if(Uva)...em pouco tempo o software não comporta mais manutenção. Aí dão uma de louco e reescrevem todo o código, porque é rápido fazer sem padrões de projeto. O ciclo continua e o criador do software uma hora dessas tá ganhando uns mil reais a mais. E todo mundo acha que ele é o cara, pq ninguém conseguiu mexer no software. Outro fator importante é a gestão de mudanças. Como fazer gestão de mudanças em um software onde provavelmente nem o programador sabe dizer quais as ramificações daquela mudança?

  • Efeitos colaterais de evolução - Já reparou que ao alterar uma funcionalidade em um software desenvolvido fora dos padrões da OOP sempre surgem erros inesperados em outras áreas do software? Claro, afinal aquele campo que vc precisou remover do CRUD afeta outras 300.000 áreas do software. Esses efeitos colaterais prejudicam diretamente o negócio da empresa, gerando prejuízos.

Sendo assim, as vantagens práticas em minha opinião são:

  • Código OO é fácil de entender.
  • Um projeto OO pode ser facilmente desenvolvido por uma equipe, o que não ocorre com o código macarronico.
  • Com o código OO é fácil encontrar profissionais que possam dar continuidade a projetos
  • Permite que os colaboradores da empresa possam tirar férias
  • Garantem uma melhor manutenção e evolução do sistema, já que utilizam "pequenos blocos de funcionalidades"
  • São menos sucetíveis a efeitos colaterais, já que as dependencias são mapeadas com mais clareza.

E principalmente,

  • Acaba com o estrelismo dos programadores.
16
  • 5
    Curiosamente eu não consigo entender códigos "lasanhanicos" que eu vejo hoje em dia. Também não entendo códigos ilegíveis, em qualquer paradigma, principalmente feitos porque quem não entende todos os conceitos de desenvolvimento de software. O fato de usar OOP não resolve nenhum problema que você cita. Fazer certo em qualquer paradigma é que resolve. Então não vi um fundamento na sua resposta que mostre que OOP deva ser usado. Note que eu uso o paradigma quando necessário. E, procedural ou OOP, minha experiência é oposta da sua.
    – Maniero
    Commented 23/03/2015 às 21:01
  • 6
    Acho que você não entende bem os paradigmas e como as linguagens são constituídas. Sua informação está incorreta. Realmente orientada a objeto só tem uma linguagem e quase ninguém usa. Com características OO tem várias. Se você não olhar para o marketing e for ver a literatura sobre o assunto verá que as linguagens de sucesso são híbridas. E acho que você tem um ruído em achar que se a linguagem permite OO as pessoas deveria só usar isto. Elas dão liberdade porque isto é vantajoso. Programadores experientes não são puristas, purismo não soluciona problemas.
    – Maniero
    Commented 23/03/2015 às 21:27
  • 5
    Embora concorde com as ideias por trás da sua resposta, estou vendo uma falsa dicotomia aqui: a programação não se divide em "macarrônico" e "orientada por objeto" - existem muitas outras formas de se programar. Mesmo restrito ao paradigma imperativo, a forma de se modularizar o sistema, as construções aceitas ou não, etc, têm um grande impacto nessas características não funcionais importantes que você cita. E quanto à "dependência de profissionais", você tem razão, esse é um tópico pra não ser subestimado. Por outro lado, exagere na dose e você cai na situação do "menor denominador comum"...
    – mgibsonbr
    Commented 23/03/2015 às 21:42
  • 3
    @JoãoLuizGrigoletti Você está respondendo a mim ou ao bigown? Meu último comentário não foi pra impor nada, apenas estou apontando o que eu vi. Primeiro você listou uma série de características não funcionais importantes, e eu concordei com todas elas. Depois você atribuiu as características negativas à programação procedural, e as positivas à orientada por objeto, e é nesse ponto que eu discordei. Agora, se você tem bons argumentos para dar suporte à sua afirmação que a OOP possui essas boas características intrinsicamente, e a procedural não, aí já é outra história...
    – mgibsonbr
    Commented 23/03/2015 às 21:58
  • 5
    E sinceramente, após ler minha resposta, reparei que realmente atribuo a programação macarronica ao paradigma procedura. Falha Minha. Retrato-me publicamente em relação a isso. Commented 23/03/2015 às 22:26
2

Esta poderia ser uma questão mais para o Workplace do que técnica. Sempre que envolve convencer a gerência podemos nos deparar com diversos barreiras que vão além do próprio código ou sistema.

Imaginando que não teremos estas barreiras, digamos, políticas dentro da sua empresa que possam impedir isto, e que a empresa poderia permitir uma mudança mais "brusca" em um novo projeto ou projeto existente (além de OO, poderia ser uma nova linguagem, framework, etc), que seus colegas também estão alinhados com o seu pensamento, então podemos partir para o ponto principal desta discussão.

Tentarei argumentar de uma forma menos técnica, pois você precisa alinhar o seu discurso de acordo com o seu interlocutor. Se argumentar de forma muito técnica, ele pode não entender.

E, por fim, não entrarei nos méritos se é melhor ou não que abordagens procedurais muito comuns como Transaction Script.

A dificuldade de colocá-la em prática

Por mais que o assunto de orientação à objetos esteja sempre na "boca do povo", a experiência mostra que não é simples de implementá-la na prática.

Se analisar os livros de referência do assunto, comumente irá se deparar com exemplos muito simples, ou que partem de premissas discutíveis (exemplo: usar uma entidade do banco como objeto) ou complexas (DDD em geral).

Ou seja, quando estamos pensando apenas na organização de objetos para atender um problema, tudo parece lindo: crio um objeto Ordem, que recebe um Pagamento, que pode ser feito com Cartao, etc.

Mas quando começamos a falar de APIs entrando com dados, salvar informações no banco, validações, transações, integrações, filas, retentativas, etc, as coisas começam a ficar bem desafiadoras e outras abordagens tornam-se mais sedutoras. E isto que nem chegamos ainda no desafio de compor os objetos de forma correta (já chego lá).

Por isto, o ideal é começar com um problema simples e isolado. Este seria o cenário ideal para propor isto ao seu chefe. De preferência, que possa ser encaixado em um novo sistema apartado dos demais. É inevitável que existirá uma curva enorme de aprendizado se você ainda não trabalhou profissionalmente com orientação à objetos, então este seria um bom espaço para errar e refazer algumas coisas sem afetar o que já existe.

Mas por quê OOP?

Alguém irá perguntar.

Aqui será inevitável fazer a comparação do modelo que funciona (ou "funciona") com a sua proposta de objetos.

O argumento mais comum aqui é "bater" no padrão atual: é confuso, desorganizado, sem padrão, regras espalhadas, etc. Dependendo de como o padrão atual foi implementado, isto pode ajudar na discussão, mas não pode ser necessariamente uma verdade para o padrão. Talvez o código confuso no padrão atual só esteja lá porque as pessoas que participaram do desenvolvimento não quiserem/puderam/souberam melhorar.

Então, eu tentaria trazer as vantagens evitando um pouco as comparações.

Vantagem 1: proximidade do negócio

Uma organização em objetos permite que a conversa entre pessoas de negócio (Analistas, POs, etc) e desenvolvedores fique muito mais transparente. Ao falar que o Pedido recebe um Pagamento, isto de fato estará ocorrendo no código:

pedido.adicionarPagamento(cartao);

Com o esforço da equipe em tentar usar a mesma linguagem de negócio para modelar os objetos (conhecido como ubiquitous language).

Se seu analista/PO tiver alguma bagagem técnica, ele pode mesmo até te ajudar em algumas decisões de código se você souber direcionar ele no entendimento do mesmo.

Em outras soluções você verá algo bem diferente: talvez um DTO, classes de service, classes de validação, um repositório, mapper, etc. Algo mais distante da "realidade" do negócio.

Vantagem 2: O código fica mais auto-explicável

Outra vantagem que enxergo é que ele limita um pouco a "criatividade maléfica" dos desenvolvedores ao organizar a aplicação. Como o holofote da aplicação são os objetos, você sempre terá uma boa noção de onde implementar uma nova feature ou fazer uma correção. Por exemplo, se tem alguma validação na parte de cartão, você procurará pelos objetos relacionados ao Cartao.

Isto também leva a um movimento natural de organizar seu sistema por pacotes de acordo com o negócio e não por pattern.

Porém, em outras soluções, esta regra poderá estar em alguma classe de serviço, classe de validação, em uma entidade, etc: Será que está no CartaoService? RegistrarCartaoService? CartaoValidation? ProcessarPagamentoCartaoValidation?. Enfim, você pode usar outros nomes de classe que julgue ter mais significado, mas com o crescimento do código do sistema isto tende a rapidamente tornar-se um problema sem um controle mais rígido e claro para nome de classes e organização de pacotes.

Vantagem 3: existem abordagens simples para aplicar OOP

Não é preciso se basear em livro densos de DDD para criar uma aplicação robusta com orientação à objetos. Existem abordagens hoje, como a do Elegant Objects, que permitem o uso de orientação à objetos sem precisar isolar totalmente seus objetos, exigindo menos "infra" de código para salvar informações ou realizar integrações. Porém, violando alguns princípios considerados "sagrados". Também traz algumas práticas bem-vindas ao código, como evitar null. Mas não é uma recomendação, pois ele tem alguns pontos de vista polêmicos. É apenas um exemplo.

Poderia pensar em outras ainda, mas acredito que isto seja um bom começo.

Show me the code!

Muitas vezes, é preciso literalmente desenhar para que as pessoas consigam entender sua ideia, o que está oferecendo ou dizendo. Isto é perfeitamente normal, algumas pessoas são mais visuais. No mundo da programação isto pode ser alcançado com uma implementação funcional.

Escolha alguma funcionalidade mais simples do projeto, que já exista, e faça uma implementação dela usando OOP. Isto permitirá uma comparação entre o modelo atual e o modelo orientado à objetos que quer propor.

E se ele recusar?

Você pode ter os melhores argumentos do mundo e não conseguir convencer seu chefe. Ás vezes, não é o que você fala, mas como fala. Ou pode existir situações que fogem até mesmo do controle dele que impeçam isto e que ele não possa te contar.

Enfim, peça para ele explicar o motivo da recusa se possível e, dependendo da resposta dele, pergunte o que precisaria fazer para isto ser possível.

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