A análise e projeto orientados a objetos que você está estudando é apenas um dos assuntos (talvez o mais popular, digamos) dentro da disciplina de Engenharia de Software. Tal como qualquer outra engenharia, o objetivo da disciplina é auxiliar na construção de algo. Porém, nesse caso não são pontes ou circuitos elétricos, e sim sistemas de software.
Eu começo com esse "lembrete" porque as vezes nós nos esquecemos que mesmo que estejamos construindo algo intangível como software, ainda assim utilizamos um processo de engenharia que envolve observação, medição, planejamento e construção. De forma similar, um engenheiro civil ou mecânico, por exemplo, utiliza blueprints (entre outras ferramentas) para não apenas comunicar decisões de projeto a colegas de trabalho, mas principalmente para formalizar suas próprias decisões de projeto. Afinal, a memória humana tem suas limitações e se você mesmo não escrever o que decidiu hoje pode ser que não se lembre da motivação para tal amanhã ou semana que vem.
A orientação a objetos nada mais é do que uma "forma de pensar" a respeito de como a representação do problema e a execução da solução (pelo computador) devem ser realizadas. Discorrer mais sobre isso seria complicado aqui, até porque o assunto daria uma ou mais perguntas por si só (e, de fato, já há bastante material aqui mesmo no SOPT que pode lhe ajudar). De todas as formas, muitas das ferramentas de documentação que você cita poderiam ser utilizadas com qualquer outra abordagem de engenharia de software, tal como projeto estruturado, orientado a serviços ou mesmo orientado a agentes. Por que? Porque a ideia de seu uso é auxiliar nos objetivos de engenharia (observar, medir, planejar e executar).
No nosso caso (engenharia de software), observar significa entender o problema a ser resolvido (o problema pode ser seu ou de seu cliente), medir significa estimar os recursos necessários (tempo, dinheiro, equipamentos, módulos, e por ai vai), planejar significa literalmente escolher a melhor abordagem de resolução (não apenas quais algorítmos, mas também o que dentro do problema deve ou não ser solucionado, de quais formas, usando quais interações com os usuários, etc). E, por fim, executar significa programar e, principalmente, testar se o seu produto final realmente atende à necessidade originalmente observada.
Considerando essas colocações, a decisão por usar ou não certa ferramenta ou documento depende não apenas do fato de você precisar comunicar decisões a outras pessoas, mas também do seu julgamento a respeito de algo ser útil ou não naquele escopo de projeto. Nas discussões sobre RUP x Scrum, por exemplo, é muito comum o dogmatismo (a abordagem XXX é ruim porque é burocrática/simplista, etc, etc, etc). Mas há de se perceber, sem demagogia, que tudo tem sua utilidade. Claro, regras demais que são seguidas cegamente sem propósito só geram dificuldade, e se tornam isso mesmo: burocracia.
Para não me alongar demais, vou encerrar com pequenas discussões sobre cada uma das ferramentas que você citou:
Casos de Uso. A parte fundamental na engenharia de software é o entendimento do problema a ser solucionado. Se um problema não é bem entendido, não importa a qualidade do sistema construído pois ele simplesmente não servirá. É por isso que muito do esforço na engenharia de software é colocado na tão falada análise de requisitos. Trata-se basicamente em entender muito bem o que o cliente precisa. Entretanto, sistemas de software são produtos muito menos tangíveis do que pontes, carros ou cadeiras. As vezes os clientes também não sabem descrever os detalhes do que eles desejam. É por isso que essa ferramenta existe. Por meio dela, o engenheiro constroi os cenários (casos) em que as principais funções do sistema a ser construído são utilizadas, como forma de pré-validar o entendimento de que o sistema realmente fará o que é necessário (não importa como, nesse momento). Aliás, o UML é apenas uma linguagem formal (como inglês ou notação musical) que auxilia na comunicação. Como os clientes dos nossos projetos não têm a nossa formação técnica, a comunicação com eles precisa ser a mais simples possível. Não é a toa que os diagramas de caso de uso são praticamente infantis, isto é, usam bolinhas, homenzinhos de palito e setinhas para comunicar esse tipo de informação.
Histórias de Usuário. As histórias de usuário têm exatamente a mesma intenção dos casos de uso: auxiliar no entendimento do problema. Porém elas têm a característica de descrever algo que o usuário faz ou precisa como parte do seu trabalho, primordialmente do seu ponto de vista e na forma de sentenças curtas de texto. Diferentemente dos casos de uso, não é o projetista que cria o documento formal e pergunta para o usuário se está correto o entendimento, e sim o contrário. O usuário descreve o que ele faz (conta a sua história) e transmite ao projetista. Essa aparente informalidade (aparente porque você ainda precisa armazenar essas informações para referência futura) é o que torna esse tipo de ferramenta mais atraente para metodologias ágeis (tal como XP). Além disso, as histórias não focam tanto (ao menos inicialmente) na existência do sistema, e por isso permitem ao engenheiro explorar junto com o cliente as reais necessidades de uma forma mais isenta. Por que isso é uma potencial vantagem? Porque a comunicação nem sempre é fácil, os usuários podem não saber explicar o que precisam, e as vezes a motivação para automação sequer parte deles (há outros stakeholders envolvidos). O mal entendimento das necessidades e da forma como o problema é atualmente tratado faz com que infelizmente seja comum que a implantação de um sistema altere tão drasticamente a rotina dos usuários a ponto de tornar uma tarefa que antes era considerada razoavelmente fácil em algo difícil e até despropositado. E se o usuário não está engajado no uso de um sistema, dificilmente o esforço de desenvolvimento dará o resultado esperado.
"Eu vou aqui automatizar esse seu preenchimento manual de orçamento
via bloquinho que você leva pra lá e pra cá, ok? Você ainda o
preencherá manualmente, só que tela do computador. Muito mais fácil e seguro!
Ah, eu te disse que antes de cada orçamento você precisará fazer login
com essa senha de 8 dígitos, 2 caracteres especiais e 3 números (que
você será obrigado a trocar semanalmente)? Sim, naquele único terminal
que fica láááá atrás da loja, há uns 100 metros de onde você geralmente fica."
- Diagrama de Classes. As duas ferramentas anteriores poderiam ser utilizadas em qualquer abordagem de engenharia de software que você escolher (até mesmo no projeto estruturado). O Diagrama de Classes, porém, é muito mais ligado à abordagem orientada a objetos porque ele literamente descreve as classes que o sistema utilizará para solucionar o problema. Novamente, a UML é apenas a linguagem que formaliza essa descrição. Se você a utiliza, partindo do princípio de que outras pessoas também a aprenderam porque é algo padronizado, fica fácil você eventualmente entregar esse documento para outra pessoa e ela entender rapidamente o que o sistema engloba. O que o sistema faz é mais bem descrito por outro diagrama (o Diagrama de Sequência), já que o Diagrama de Classes não representa a troca de mensagens que o sistema utiliza para executar e solucionar o problema. O Diagrama de Classes representa particularmente o domínio do problema. Isto é, quais elementos fazem parte da solução planejada/construída. Por exemplo, se você tem uma classe "Cliente", é porque você representa o cliente dentro do seu sistema e tem algum motivo forte para isso. De certa forma, a construção desse diagrama auxilia o engenheiro no desenvolvimento da solução, porque facilita que ele observe quais entidades precisam ser representadas, que tipo de dados elas precisarão manter e ter uma visão inicial dos comportamentos que elas proverão para a solução do problema. Você não precisaria construí-lo, mas isso é uma boa prática porque ela complementa o entendimento intencionado pelas ferramentas anteriores. Em verdade, equipes bem estabelecidas que usam essas ferramentas da maneira adequada chegam até mesmo a ter uma boa rastreabilidade de requisitos, isto é, saber quais peças elementais do sistema (classes, componentes, arquivos de código, etc) existem para atender quais funcionalidades (requisitos) e vice-versa. Esse tipo de análise facilita um bocado à gestão na decisão de impactos de mudanças, planejamento de prioridades, estimação de esforço, e por ai vai.
Concluindo, eu diria que não há nada que seja realmente necessário (no sentido estrito da palavra) para você iniciar um desenvolvimento sozinho. Porém, é uma boa prática você utilizar algum formalismo para descrever e documentar ao menos o entendimento do problema. Como outros colegas já comentaram, é sabido que o custo de manutenção é consideravelmente mais alto posteriormente, e isso é especialmente complicado caso você perceba apenas tardiamente que construiu algo que era desnecessário ou, pior, que não atende às necessidades. Além do mais, mesmo que você esteja no momento trabalhando sozinho, lembre-se de que essa não é a situação comum: na maioria dos projetos você irá trabalhar com outras pessoas, clientes, artistas/desginers gráficos, etc. Se você for alguém já acostumado a trabalhar com práticas estabelecidas no mercado, isso certamente facilitará que vocÊ consiga novos projetos e se integre com outras equipes.