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Ao começar a desenvolver um sistema, e inclusive ao longo do processo de desenvolvimento, é comum mantermos uma lista com os requisitos funcionais do mesmo. No meu entendimento sempre começamos montando essa lista e depois a partir dela escrevemos casos de uso para descrever em detalhes a interação entre o usuário e o sistema. É importante ressaltar que não estou falando de diagrama de casos de uso, mas sim dos casos de uso em si.

Acontece que nos ultimos tempos estou lendo um livro sobre análise e projeto em orientação a objetos e o livro sugere que além disso seja feito também o contrário, ou seja, ao escrever um caso de uso verificar se é preciso adicionar mais algum requisito a lista.

Não entendi isso, por que isso seria feito? Ao meu ver, listar os requisitos funcionais é justamente pra encontrar os casos de uso e saber o que é necessário descrever do sistema. Qual o fundamento de fazer o processo reverso e começar pelo caso de uso? No meu entendimento começando pelo caso de uso não existe nenhuma utilidade em adicionar nada na lista de requisitos funcionais.

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  • qual a referência bibliográfica?
    – kabstergo
    22/02/2015 às 18:40
  • É o livro "Use a cabeça! Análise e Projeto Orientados a Objetos". 22/02/2015 às 18:44
  • Não é uma questão adequadamente classificada como projeto-de-software (software design). Remover esta marca facilitará a localização de questões.
    – user158926
    18/08/2019 às 19:25

1 Resposta 1

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Quando se adota um processo formal de Engenharia de Software, é importante que os diversos artefatos (documentos, modelos) estejam consistentes entre si. Pois se esses artefatos existem, é para serem consultados, e se um ou mais deles estão defasados, eles perdem a utilidade como material de referência - se tornam "trabalho inútil", que alguém desperdiçou tempo escrevendo para no final ser jogado fora.

Por essa razão, se ao longo do projeto você determina que uma funcionalidade nova é interessante, mas você já está bem avançado no desenvolvimento, é tentador simplesmente implementá-la e deixar ela de fora de tudo o que foi feito lá atrás (especificação de requisitos, modelos de análise, etc). Ao fazer isso, não só você contribui para a inconsistência entre o que é descrito que o sistema faz e o que o sistema faz de fato, como também incorre no risco adicional de se estourar o prazo e o orçamento (pois os mesmos foram estimados com base no projeto, e essa estimativa precisa ser continuamente revista à medida que os requisitos mudam). Por fim, você pode estar sendo vítima de scope creep - caso em que se começa a agregar funcionalidades novas ao sistemas simplesmente "porque pode" ou "porque o cliente quer", sem que isso se justifique dada a missão do sistema.

Ok, mas isso significa então que cada documentozinho precisa ser atualizado sempre que algo mudar? Aí depende do seguinte: essa "lista de requisitos" é um documento permanente ou não? É algo que faz parte da linha de base do projeto, ou algo que você escreveu como brainstorm, para ser usada e jogada fora depois? Alguns processos mais burocráticos exigem (ou tentam exigir) que tudo seja meticulosamente documentado, que nada saia dos planos, e que a cada mudança todos os artefatos sejam atualizados para refleti-la, mesmo quando isso é inviável na prática e/ou esses documentos e modelos raramente ou nunca sejam consultados por ninguém. Outros já prevêem - ainda que de forma organizada - a obsolescência de certos artefatos, e preferem arquivá-los a mantê-los atualizados.

Cabe então a você determinar, caso a caso, o que faz sentido manter e o que faz sentido arquivar. Essa "lista de requisitos" ajuda a quem? Ao cliente? Só aos desenvolvedores? A outros atores no processo de desenvolvimento? E a relação de casos de uso, ajuda a quem? Cada empresa, cada equipe, pode fazer isso de forma diferente, com prós e contras que são alvo de muita discussão acalorada. O mais importante, seja numa equipe organizada ou mesmo numa desorganizada (i.e. que se propõe a seguir um processo, mas que sempre acaba se desviando dele) é diferenciar quais documentos estão consistentes com o sistema tal como está (ou tal como ficará) e quais estão obsoletos, para que outros não percam tempo e/ou tenham suas expectativas frustradas por estar consultando algo que não condiz com a realidade do projeto.

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    Muito obrigado pela sua resposta @mgibsonbr, estou com um projeto multidisciplinar da faculdade e pensei sobre essa questão, a única coisa que altero na análise é o protótipo geralmente, não estou chegando a mudar os casos de uso, mas é um ótimo aprendizado essa relação e o que você respondeu aqui nessa pergunta. +1 25/10/2015 às 16:05

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