Você precisa de algo como o Secure Remote Password protocol (SRP). Como apontado por Earendul e André Ribeiro, simplesmente mover o hash do servidor pro cliente anula todos os benefícios de segurança - pois um atacante que obtiver uma cópia do BD pode simplesmente usar o hash armazenado para fazer login imediatamente como qualquer usuário (já que a credencial de acesso passa a ser o hash, e não a senha original). É preciso um protocolo cujas características de segurança se mantenham mesmo com o hash feito no lado cliente.
E esse protocolo é o SRP. O protocolo original possui uma fraqueza (fraqueza essa que se mantém presente na implementação padrão do SRP via SSL/TLS), que é o uso de um simples SHA-256 como função de hash, em vez de uma função lenta como o BCrypt. De modo que você teria de implementar você mesmo na camada de aplicação e/ou obter uma implementação segura da mesma forma.
Ele é um pouquinho mais complicado que a maioria dos protocolos - pois envolve diversas mensagens indo e vindo entre o cliente e o servidor. Há também alguns parâmetros a serem estabelecidos, consulte a referência indicada para mais detalhes.
Para registrar um novo usuário:
- O cliente, cuja senha é
p
, escolhe um sal aleatório s
e calcula o hash x = H(s, p)
; calcula também v = g^x
, onde g
é um parâmetro comum entre o servidor e os clientes.
- O servidor armazena
v
e s
associado ao username desse cliente. x
é descartado - de modo que mesmo se um atacante copiar o BD, ele não vai saber o resultado do hash.
Para um usuário existente fazer login:
- O cliente escolhe uma chave secreta
a
aleatória (e efêmera) e envia A = g^a
ao servidor (mais o seu username);
- O servidor também escolhe um chave efêmera
b
, calcula B = kv + g^b
(k
é um parâmetro calculado independentemente por ambas as partes) e envia B
e s
pro cliente;
- Ambos calculam
u = H(A, B)
;
- O cliente calcula
Sc = (B-kg^x)^(a + ux)
e K = H(Sc)
, fazendo uso de novo da sua senha p
para obter x
;
- O servidor calcula
Ss = (Av^u)^b
e K = H(Ss)
.
Agora tanto o cliente quanto o servidor possuem uma chave secreta e compartilhada (e efêmera), derivada em parte da senha do usuário. Resta somente cada um deles provar ao outro que chegaram ao mesmo resultado:
- O cliente envia ao servidor
M1 = H(H(N) xor H(g) | H(I) | s | A | B | K)
, e o servidor verifica usando seu valor de K
. |
significa a concatenação de strings. N
é outro parâmetro comum entre cliente e servidor, e I
é simplesmente o username.
- O servidor envia ao cliente
M2 = H(A | M1 | K)
, e o cliente verifica usando seu valor de K
.
Fonte: Wikipedia
Esse é o protocolo original, que usa SHA-256 como hash. Como você pode observar, ele é usado diversas vezes durante o protocolo, de modo que é inviável substituí-lo por um hash lento em todos os seus usos - quando tudo o que você quer é proteger a senha. Uma opção preferível - como apontada por Tom Leek no security.SE - é manter o protocolo idêntico, só aplicar p = BCrypt(s, p)
na senha antes de usá-la (pode-se usar o mesmo sal s
, mas se viável é preferível usar um sal s2
- se sua implementação der suporte é claro). Assim você ganha a proteção do hash sem aumentar a carga no servidor.
Um atacante que ganhe acesso ao BD somente verá s
e v = g^x
, de modo que ele teria que computar x
para poder fazer login no servidor ("simulando" o protocolo offline). E como para chegar em x
ele teria de refazer o hash lento, a proteção do mesmo está assegurada.