Toda expressão regular, seja em Python ou qualquer outra linguagem, é compilada: é feito o parsing para saber se a sintaxe está correta, se a expressão é válida, para obter todos os seus tokens, etc (os detalhes, claro, podem variar de acordo com a implementação). No fim, tudo é transformado em alguma estrutura interna, contendo todas as informações necessárias para que ela possa fazer o matching.
No caso do Python, uma regex compilada resulta em uma instância de re.Pattern
.
Segundo a documentação, o funcionamento - usando compile
antes ou apenas match
direto - será similar. Ou seja, as 2 formas abaixo funcionarão da mesma forma:
prog = re.compile(pattern)
result = prog.match(string)
# ou
result = re.match(pattern, string)
O mesmo vale para os métodos search
, findall
, etc. Todos tem a opção de receber a expressão como parâmetro, ou poder ser chamada a partir da regex pré-compilada.
A diferença que a documentação cita é:
but using re.compile()
and saving the resulting regular expression object for reuse is more efficient when the expression will be used several times in a single program.
Ou seja, usar compile
é mais eficiente caso a expressão seja reusada várias vezes. Mas no caso de usar apenas uma vez, não fará diferença significativa.
Só que a mesma documentação também diz o seguinte:
The compiled versions of the most recent patterns passed to re.compile()
and the module-level matching functions are cached, so programs that use only a few regular expressions at a time needn’t worry about compiling regular expressions.
Ou seja, as expressões mais recentes são cacheadas internamente, então programas que usam poucas expressões e/ou não reusam tanto não devem se preocupar muito com isso.
E só lembrando que no fim, a expressão sempre é compilada, o que muda é quando isso acontece: re.match(expressao, string)
acaba compilando a expressão, caso ela não esteja no já mencionado cache.
Nesta pergunta do SOen há várias respostas discutindo a respeito, e uma delas menciona a legibilidade que traz ao usar compile
, pois pode deixar mais claro que aquela expressão será reusada várias vezes. Não vou repetir tudo que tem lá, mas é uma boa fonte para complementar o assunto.
Como curiosidade, fiz um teste rápido:
import re
texto = "# 44,739 % of all cache refs 12,345 lorem ipsum # 98,736 % etc 45,678 blablbla"
exp = r'# (\d+,\d+) %'
from timeit import timeit
# executa 1 milhão de vezes cada teste
params = { 'number' : 1000000, 'globals': globals() }
# usando a expressão compilada
print(timeit('r.findall(texto)', setup='r = re.compile(exp)', **params))
# não usando a expressão compilada
print(timeit('re.findall(exp, texto)', **params))
Na minha máquina, em média, a versão com compile
demorou entre 0,5 e 0,8 segundos, enquanto a outra opção demorou entre 1,3 e 1,7 segundos. Ou seja, mesmo com o cache interno, usar compile
ainda apresentou um ganho. Testando no IdeOne.com e no Repl.it, os resultados foram similares (a versão com compile
foi mais rápida).
Meu palpite é que isso ocorra porque match
precisa fazer o lookup no cache, então mesmo que a regex já esteja lá, ainda tem esse custo adicional de procurá-la. Já usando compile
, eu uso a instância pré-compilada diretamente, sem precisar procurar no cache.
Mas como sempre, o que vale no final é testar o seu caso específico para saber se faz diferença ou não.
Brincando um pouco com o cache
Só como curiosidade, fiz um pequeno teste com o cache (atenção, fiz isso no Python 3.7, então em versões diferentes isso pode não funcionar, já que depende de detalhes da implementação interna do módulo re
, que inclusive já mudou várias vezes).
Enfim, no Python 3.7 o cache de regex é um dicionário, então primeiro criei uma subclasse de dict
, para logar quando um elemento é adicionado ou obtido do mesmo:
class DictWatch(dict):
def __init__(self, *args):
dict.__init__(self, args)
def __getitem__(self, key):
val = dict.__getitem__(self, key)
print('obtendo item no cache:', key)
return val
def __setitem__(self, key, val):
print(f'guardando item no cache: {key}={val}')
dict.__setitem__(self, key, val)
E em seguida eu sobrescrevo o cache, e faço um teste inicial só para ver se ele funciona:
import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima
print('\ncompilar abc')
re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\ncompilar abcd')
re.compile('abcd')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\ncompilar abc de novo')
re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\ncompilar abcde')
re.compile('abcde')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\ncompilar abcdef')
re.compile('abcdef')
print('cache:', re._cache.keys())
A saída é:
compilar abc
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
compilar abcd
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcd', 0)=re.compile('abcd')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0)])
compilar abc de novo
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0)])
compilar abcde
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcde', 0)=re.compile('abcde')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0), (<class 'str'>, 'abcde', 0)])
compilar abcdef
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcdef', 0)=re.compile('abcdef')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abcd', 0), (<class 'str'>, 'abcde', 0), (<class 'str'>, 'abcdef', 0)])
Repare que ao compilar abc
pela segunda vez, a regex é obtida do cache, pois ela já estava lá. E quando o tamanho máximo é atingido, abc
é retirada, para que se coloque a última regex compilada.
Agora fazendo o teste com re.match
:
import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima
print('match')
re.match('abc', 'xyz')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\nmatch de novo')
re.match('abc', '123')
print('cache:', re._cache.keys())
A saída é:
match
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
match de novo
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
Indicando que na primeira vez que re.match
é chamado, a regex é compilada e guardada no cache. Na segunda vez ela não é mais compilada, pois agora ela é obtida do cache.
Agora usando compile
:
import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima
print('compile')
r = re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\nmatch')
r.match('xyz')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\nre.match passando a regex compilada')
re.match(r, '123')
print('cache:', re._cache.keys())
print('\nre.match passando a regex como string')
re.match('abc', '123')
print('cache:', re._cache.keys())
A saída é:
compile
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
match
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
re.match passando a regex compilada
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
re.match passando a regex como string
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])
Repare como o uso direto da instância pré-compilada não faz a busca no cache (mesmo se passarmos ela como parâmetro para re.match
), enquanto se passarmos a expressão como uma string para re.match
, a busca no cache é feita.
re.Pattern