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Em uma outra pergunta deste site, reparei que, embora as duas respostas fizessem uso de expressões regulares, caminhos diferentes foram tomados:

  • Uma delas utilizou a função re.search para realizar a operação de busca.
  • A outra utilizou a função re.compile para, como entendo, criar uma expressão regular compilada e, a partir do objeto retornado, utilizar um método como search.

Diante dessa situação, fico com algumas dúvidas:

  • O que seria uma expressão regular "compilada" (conforme o nome da função sugere)?
  • Qual a vantagem de utilizar expressões regulares desse jeito?
  • Há alguma desvantagem?
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1 Resposta 1

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Toda expressão regular, seja em Python ou qualquer outra linguagem, é compilada: é feito o parsing para saber se a sintaxe está correta, se a expressão é válida, para obter todos os seus tokens, etc (os detalhes, claro, podem variar de acordo com a implementação). No fim, tudo é transformado em alguma estrutura interna, contendo todas as informações necessárias para que ela possa fazer o matching.

No caso do Python, uma regex compilada resulta em uma instância de re.Pattern.


Segundo a documentação, o funcionamento - usando compile antes ou apenas match direto - será similar. Ou seja, as 2 formas abaixo funcionarão da mesma forma:

prog = re.compile(pattern)
result = prog.match(string)

# ou
result = re.match(pattern, string)

O mesmo vale para os métodos search, findall, etc. Todos tem a opção de receber a expressão como parâmetro, ou poder ser chamada a partir da regex pré-compilada.

A diferença que a documentação cita é:

but using re.compile() and saving the resulting regular expression object for reuse is more efficient when the expression will be used several times in a single program.

Ou seja, usar compile é mais eficiente caso a expressão seja reusada várias vezes. Mas no caso de usar apenas uma vez, não fará diferença significativa.

Só que a mesma documentação também diz o seguinte:

The compiled versions of the most recent patterns passed to re.compile() and the module-level matching functions are cached, so programs that use only a few regular expressions at a time needn’t worry about compiling regular expressions.

Ou seja, as expressões mais recentes são cacheadas internamente, então programas que usam poucas expressões e/ou não reusam tanto não devem se preocupar muito com isso.

E só lembrando que no fim, a expressão sempre é compilada, o que muda é quando isso acontece: re.match(expressao, string) acaba compilando a expressão, caso ela não esteja no já mencionado cache.


Nesta pergunta do SOen há várias respostas discutindo a respeito, e uma delas menciona a legibilidade que traz ao usar compile, pois pode deixar mais claro que aquela expressão será reusada várias vezes. Não vou repetir tudo que tem lá, mas é uma boa fonte para complementar o assunto.


Como curiosidade, fiz um teste rápido:

import re
texto = "# 44,739 % of all cache refs 12,345 lorem ipsum # 98,736 % etc 45,678 blablbla"
exp = r'# (\d+,\d+) %'

from timeit import timeit

# executa 1 milhão de vezes cada teste
params = { 'number' : 1000000, 'globals': globals() }

# usando a expressão compilada
print(timeit('r.findall(texto)', setup='r = re.compile(exp)', **params))
# não usando a expressão compilada
print(timeit('re.findall(exp, texto)', **params))

Na minha máquina, em média, a versão com compile demorou entre 0,5 e 0,8 segundos, enquanto a outra opção demorou entre 1,3 e 1,7 segundos. Ou seja, mesmo com o cache interno, usar compile ainda apresentou um ganho. Testando no IdeOne.com e no Repl.it, os resultados foram similares (a versão com compile foi mais rápida).

Meu palpite é que isso ocorra porque match precisa fazer o lookup no cache, então mesmo que a regex já esteja lá, ainda tem esse custo adicional de procurá-la. Já usando compile, eu uso a instância pré-compilada diretamente, sem precisar procurar no cache.

Mas como sempre, o que vale no final é testar o seu caso específico para saber se faz diferença ou não.


Brincando um pouco com o cache

Só como curiosidade, fiz um pequeno teste com o cache (atenção, fiz isso no Python 3.7, então em versões diferentes isso pode não funcionar, já que depende de detalhes da implementação interna do módulo re, que inclusive já mudou várias vezes).

Enfim, no Python 3.7 o cache de regex é um dicionário, então primeiro criei uma subclasse de dict, para logar quando um elemento é adicionado ou obtido do mesmo:

class DictWatch(dict):
    def __init__(self, *args):
        dict.__init__(self, args)

    def __getitem__(self, key):
        val = dict.__getitem__(self, key)
        print('obtendo item no cache:', key)
        return val

    def __setitem__(self, key, val):
        print(f'guardando item no cache: {key}={val}')
        dict.__setitem__(self, key, val)

E em seguida eu sobrescrevo o cache, e faço um teste inicial só para ver se ele funciona:

import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima

print('\ncompilar abc')
re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\ncompilar abcd')
re.compile('abcd')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\ncompilar abc de novo')
re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\ncompilar abcde')
re.compile('abcde')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\ncompilar abcdef')
re.compile('abcdef')
print('cache:', re._cache.keys())

A saída é:

compilar abc
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

compilar abcd
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcd', 0)=re.compile('abcd')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0)])

compilar abc de novo
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0)])

compilar abcde
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcde', 0)=re.compile('abcde')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0), (<class 'str'>, 'abcd', 0), (<class 'str'>, 'abcde', 0)])

compilar abcdef
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abcdef', 0)=re.compile('abcdef')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abcd', 0), (<class 'str'>, 'abcde', 0), (<class 'str'>, 'abcdef', 0)])

Repare que ao compilar abc pela segunda vez, a regex é obtida do cache, pois ela já estava lá. E quando o tamanho máximo é atingido, abc é retirada, para que se coloque a última regex compilada.

Agora fazendo o teste com re.match:

import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima

print('match')
re.match('abc', 'xyz')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\nmatch de novo')
re.match('abc', '123')
print('cache:', re._cache.keys())

A saída é:

match
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

match de novo
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

Indicando que na primeira vez que re.match é chamado, a regex é compilada e guardada no cache. Na segunda vez ela não é mais compilada, pois agora ela é obtida do cache.

Agora usando compile:

import re
re._MAXCACHE = 3 # mudar tamanho máximo para 3
re._cache = DictWatch() # sobrescreve o cache com meu dicionário acima

print('compile')
r = re.compile('abc')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\nmatch')
r.match('xyz')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\nre.match passando a regex compilada')
re.match(r, '123')
print('cache:', re._cache.keys())

print('\nre.match passando a regex como string')
re.match('abc', '123')
print('cache:', re._cache.keys())

A saída é:

compile
guardando item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)=re.compile('abc')
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

match
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

re.match passando a regex compilada
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

re.match passando a regex como string
obtendo item no cache: (<class 'str'>, 'abc', 0)
cache: dict_keys([(<class 'str'>, 'abc', 0)])

Repare como o uso direto da instância pré-compilada não faz a busca no cache (mesmo se passarmos ela como parâmetro para re.match), enquanto se passarmos a expressão como uma string para re.match, a busca no cache é feita.

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