De bobeira, só passeando pela documentação da biblioteca padrão do Python descobri que desde a versão 3.3, o módulo types
fornece uma classe utilitária chamada SimpleNamespace
que é capaz de construir um Namespace
a partir de uma lista arbitrária de parametros nomeados.
Bang! Isso me fez pensar na hipótese de se aplicar o **
(operador de desempacotamento
) em um dicionário a fim de passá-lo como parametro para o construtor dessa classe! Rapidamente implementei um programa básico como prova de conceito:
from types import SimpleNamespace
modelo = {
"foo": 123,
"bar": "xpto",
"numbers": {
"primes": [2, 3, 5, 7],
"odd": [{"n" : 1}, {"n" : 3}, {"n" : 5}, {"n" : 7}],
"even": {"a" : 2, "b" : 4, "c" : 6, "d" : 8}
},
"constants" : {
"pi": 3.1415,
"e": 2.7182,
"golden": 1.6180,
"sqrt2": 1.4142
}
}
print(SimpleNamespace(**modelo))
Saída:
namespace(bar='xpto', constants={'pi': 3.1415, 'e': 2.7182, 'golden': 1.618,
'sqrt2': 1.4142}, foo=123, numbers={'primes': [2, 3, 5, 7], 'odd': [{'n': 1},
{'n': 3}, {'n': 5}, {'n': 7}], 'even': {'a': 2, 'b': 4, 'c': 6, 'd': 8}})
Analisando a saída, facilmente eu percebi que ainda faltava algo nessa abordagem, a coisa funcionou parcialmente, convertendo apenas a primeiro nível do dicionário de entrada para um Namespace
... Eu precisava de algo recursivo para resolver casos onde o dicionário de entrada fosse "aninhado".
Depois de algum tempo tomando bofetadas das exceptions
no meu caminho, eu cheguei de encontro ao seguinte código:
from types import SimpleNamespace
model = {
"foo": 123,
"bar": "xpto",
"numbers": {
"primes": [2, 3, 5, 7],
"odd": [{"n" : 1}, {"n" : 3}, {"n" : 5}, {"n" : 7}],
"even": {"a" : 2, "b" : 4, "c" : 6, "d" : 8}
},
"constants" : {
"pi": 3.1415,
"e": 2.7182,
"golden": 1.6180,
"sqrt2": 1.4142
}
}
def DictModel(obj):
if isinstance(obj, dict):
ns = SimpleNamespace(**obj)
for k, v in ns.__dict__.items():
ns.__dict__[k] = DictModel(v)
return ns
elif isinstance(obj, list):
return [DictModel(i) for i in obj]
elif isinstance(obj, list):
return tuples(DictModel(i) for i in obj)
return obj
print(DictModel(model))
Saída:
namespace(bar='xpto', constants=namespace(e=2.7182, golden=1.618, pi=3.1415,
sqrt2=1.4142), foo=123, numbers=namespace(even=namespace(a=2, b=4, c=6, d=8),
odd=[namespace(n=1), namespace(n=3), namespace(n=5), namespace(n=7)],
primes=[2, 3, 5, 7]))
Eureka! Era justamente o que eu precisava! A coisa é capaz de criar Namespaces
recursivamente! Com um pouco mais de esforço, fiz minha cachola se lembrar de uma técnica de iteração em dicionários usando a biblioteca json
, que era algo mais ou menos assim:
import json
def callback(d):
print(d)
return d
def iterator(dic, clbk):
return json.loads(json.dumps(dic), object_hook=clbk)
modelo = {
"foo": 123,
"bar": "xpto",
"numbers": {
"primes": [2, 3, 5, 7],
"odd": [{"n" : 1}, {"n" : 3}, {"n" : 5}, {"n" : 7}],
"even": {"a" : 2, "b" : 4, "c" : 6, "d" : 8}
},
"constants" : {
"pi": 3.1415,
"e": 2.7182,
"golden": 1.6180,
"sqrt2": 1.4142
}
}
iterator(modelo, callback)
Saída:
{'n': 1}
{'n': 3}
{'n': 5}
{'n': 7}
{'a': 2, 'b': 4, 'c': 6, 'd': 8}
{'primes': [2, 3, 5, 7], 'odd': [{'n': 1}, {'n': 3}, {'n': 5}, {'n': 7}], 'even': {'a': 2, 'b': 4, 'c': 6, 'd': 8}}
{'pi': 3.1415, 'e': 2.7182, 'golden': 1.618, 'sqrt2': 1.4142}
{'foo': 123, 'bar': 'xpto', 'numbers': {'primes': [2, 3, 5, 7], 'odd': [{'n': 1}, {'n': 3}, {'n': 5}, {'n': 7}], 'even': {'a': 2, 'b': 4, 'c': 6, 'd': 8}}, 'constants': {'pi': 3.1415, 'e': 2.7182, 'golden': 1.618, 'sqrt2': 1.4142}}
Combinando tudo isso, cheguei no seguinte código:
from types import SimpleNamespace
import json
def DictModel(**kwargs):
return json.loads(json.dumps(kwargs),
object_hook=lambda o: SimpleNamespace(**o))
modelo = {
"foo": 123,
"bar": "xpto",
"numbers": {
"primes": [2, 3, 5, 7],
"odd": [{"n" : 1}, {"n" : 3}, {"n" : 5}, {"n" : 7}],
"even": {"a" : 2, "b" : 4, "c" : 6, "d" : 8}
},
"constants" : {
"pi": 3.1415,
"e": 2.7182,
"golden": 1.6180,
"sqrt2": 1.4142
}
}
obj = DictModel(**model)
print(obj.foo) # 123
print(obj.bar) # xpto
print(obj.numbers.primes) # [2, 3, 5 ,7]
print(obj.numbers.odd[0].n) # 1
print(obj.numbers.odd[1].n) # 3
print(obj.numbers.odd[2].n) # 5
print(obj.numbers.odd[3].n) # 7
print(obj.numbers.even.a) # 2
print(obj.numbers.even.b) # 4
print(obj.numbers.even.c) # 6
print(obj.numbers.even.d) # 8
print(obj.constants.pi) # 3.1415
print(obj.constants.e) # 2.7182
print(obj.constants.golden) # 1.618
print(obj.constants.sqrt2) # 1.4142
Saída:
123
xpto
[2, 3, 5, 7]
1
3
5
7
2
4
6
8
3.1415
2.7182
1.618
1.4142
E, supreendentemente, com apenas 3 linhas, a coisa resolveu o problema de forma padrão e elegante, tirando uma pulga que estava morando atrás da minha orelha há meses e aumentando ainda mais minha paixão pela linguagem.
Apesar de aparentemente idênticas, as duas soluções apresentadas possuem diferenças, vantagens e desvantagens.
A primeira solução utiliza recursividade para iterar nas chaves e valores do dicionário de entrada. Em algumas esferas soluções recursivas são coisa do capeta e devem ser evitadas ao máximo. Esse tipo de implementação limita a profundidade de alcance do iterador dentro da árvore do dicionário, possibilitando o lançamento de uma exceção do tipo RecursionError
. No meu caso, o intento é trabalhar com dicionários relativamente pequenos, com poucos níveis de profundidade, o que torna essa hipótese bem remota.
A grande vantagem dessa primeira implementação, é a possibilidade de se tratar de forma independente qualquer tipo de dado contido na estrutura do dicionário de entrada, onde o tipo do dado pode ser identificado com a função isinstance()
e tratado de forma customizada conforme a necessidade.
Na solução onde o módulo json
é usado para codificar o dicionário de entrada em formato JSON
para imediatamente decodificá-lo, só que de forma personalizada, tirando proveito do parametro object_hook da função de codificação json.loads()
.
As principais desvantagens dessa técnica são: 1) Performance. Toda essa manipulação de dados em formato JSON
não é nada eficiente quando comparada com a versão recursiva da função; 2) Integridade. Apesar de possuirem uma estrutura bem semelhante, um dicionário não é a mesma coisa que um objeto JSON
. Por exemplo, ao se codificar um dicionário para o formato JSON
por meio da função json.dumps()
, as listas as tuplas são interpretadas da mesma forma e são convertidas para uma array
, isso impossibilita a reconstrução fiel do dicionário original.