Acessar window.a
e a
quando ambos não estão definidos geram resultados distintos porque são avaliados a partir de algoritmos distintos.
window.a
é avaliado buscando o valor da referência a
na referência window
;
a
é avaliado buscando o valor da referência de a
;
Referência
Primeiro, precisamos entender como o JavaScript referencia cada objeto, que se dá através de uma interface denominada Reference
. Um objeto Reference
é composto de três partes:
- O valor base;
- O nome da referência;
- Uma flag booleana que define se é estrito (strict);
O valor base de uma referência pode ser undefined
, um objeto, um booleano, uma string, um símbolo, um número ou um registro de ambiente. Quando o valor base é undefined
significa que o objeto Reference
não pode ser resolvido.
Com isso em mente, precisamos definir alguns procedimentos que serão necessários para entender o algoritmo mais adiante.
Acessando o objeto a
Assim, quando o código será analisado identifica-se o objeto a
internamente é definida uma referência (Reference
) para ele e como é um objeto que não poderá ser resolvido, o valor base
ficará como undefined
. Ao executar um código que demande do valor de a
, tal como console.log(a)
, será executado o método GetValue(V)
da referência seguindo o algoritmo:
ReturnIfAbrupt(V)
.
- If
Type(V)
is not Reference
, return V
.
- Let
base
be GetBase(V)
.
- If
IsUnresolvableReference(V)
is true, throw a ReferenceError
exception.
- If
IsPropertyReference(V)
is true, then
- If
HasPrimitiveBase(V)
is true, then
- Assert: In this case, base will never be
undefined
or null
.
- Set base to
!ToObject(base)
.
- Return
?base.[[Get]](GetReferencedName(V), GetThisValue(V))
.
- Else,
- Assert:
base
is an Environment Record
.
- Return
?base.GetBindingValue(GetReferencedName(V), IsStrictReference(V))
.
Neste caso temos uma referência com valor base undefined
para o objeto a
, então no passo 4, quando feita a validação IsUnresolvableReference(V)
é retornado true
e, portanto, lançado a exceção ReferenceError
.
Acessando o objeto window.a
De forma semelhante a quando é acessado diretamente o objeto a
, para que seja possível avaliar o valor de window.a
também serão definidas referências internamente, uma para o objeto window
e outra para o objeto a
. Para o objeto a
será uma referência igual a anterior, com valor base undefined
, mas a diferença está na existência da referência ao objeto window
que existe e pode ser resolvido. Assim, diferente da situação anterior, em que o valor de a
é avaliado a partir de GetValue(V)
, o valor de window.a
será avaliado a partir da função [[Get]](P, Receiver)
da interface Object
, sendo P
a referência para o objeto a
e Receiver
a referência ao objeto window
. O algoritmo executado para tal será:
- If
P
was previously observed as a non-configurable, non-writable own data property of the target with value V
, then [[Get]]
must return the SameValue
as V
.
- If
P
was previously observed as a non-configurable own accessor property of the target whose [[Get]]
attribute is undefined
, the [[Get]]
operation must return undefined
.
Como o valor P
será a referência ao objeto a
, cujo valor base é undefined
, será executado o passo 2, fazendo com que [[Get]]
retorne undefined
.
Fazer window.a
é igual a a
?
Não, como mostrado, os valores serão avaliados de forma diferente e produzirá resultados diferentes.
Mas por que então window.a === a
é verdadeiro?
Porque quando a variável é definida uma referência a ela é armazenada dentro do objeto "global" do escopo atual. Quando é definida no escopo global da aplicação, esse objeto será o window
. Quando é definida em um escopo limitado, esse objeto será outro (e não sei se é acessível em tempo de execução tal como é o window
).
Para confirmar essa informação basta verificar o algoritmo utilizado ao definir uma variável, executando PutValue(V, W)
:
ReturnIfAbrupt(V)
.
ReturnIfAbrupt(W)
.
- If
Type(V)
is not Reference
, throw a ReferenceError
exception.
- Let
base
be GetBase(V)
.
- If
IsUnresolvableReference(V)
is true, then
- If
IsStrictReference(V)
is true, then
- Throw a
ReferenceError
exception.
- Let
globalObj
be GetGlobalObject()
.
- Return
?Set(globalObj, GetReferencedName(V), W, false)
.
- Else if
IsPropertyReference(V)
is true, then
- If
HasPrimitiveBase(V)
is true, then
- Assert: In this case, base will never be
undefined
or null
.
- Set base to
!ToObject(base)
.
- Let
succeeded
be ?base.[[Set]](GetReferencedName(V), W, GetThisValue(V))
.
- If
succeeded
is false and IsStrictReference(V)
is true, throw a TypeError
exception.
- Return.
- Else,
- Assert:
base
is an Environment Record
.
- Return
?base.SetMutableBinding(GetReferencedName(V), W, IsStrictReference(V))
.
Que basicamente, quando é feito var a = 1
, novamente será definida uma referência ao objeto a
, inicialmente com valor base undefined
devido ao Hoisting.
Assim, executando o algoritmo, no passo 5 IsUnresolvableReference(V)
retornará verdadeiro e, assim, não sendo uma referência estrita, buscará a referência ao objeto global GetGlobalObject()
, que neste caso, por se tratar de uma variável global será o objeto window
, e será definido o campo GetReferencedName(V)
com o valor W
. Por isso, ao ser feito var a
teremos também o valor em window.a
(ou window['a']
).
A partir disso a referência de a
poderá ser resolvida e nas próximas vezes que houver uma atribuição ao objeto a
no código o passo 6 será executado, atualizando o valor do mesmo.
Então var a = 1
é o mesmo que fazer window["a"] = 1
?
Não, embora produza o mesmo resultado. Como vimos, ao avaliar a expressão var a = 1
será executado a operação Set(window, "a", 1, false)
, porém o valor "a"
que será a chave no objeto window
é avaliado a partir da referência ao objeto a
, através da função GetReferencedName(V)
, enquanto fazer window["a"] = 1
não é gerado esta referência interna.