Minha percepção é de que separar os conceitos de regra de negócio e de aplicação se torna mais simples à medida que são adicionados mais agentes ao cenário. Durante a etapa de levantamento de requisitos de um software, é natural que o analista opte pelo uso de uma API/Backend para, além de persistir as informações, coordenar o fluxo dos dados. Controle de acesso, por exemplo, é uma regra de negócio definida uma vez e imposta à todos os clientes. Se você está modelando um serviço monolítico que não prevê reusabilidade de regras entre módulos ou aplicações, os limites entre características de aplicação e negócio tendem a ser menos definidos.
alguns dizem não poder ter coisas de persistência neste objeto porque ele é um mecanismo da aplicação e não faz parte do modelo de negócio.
Naturalmente, as regras de negócio são inerentes ao domínio em que está se trabalhando e estão relacionadas à processos do modelo de negócio - uma operação "cadastrar cliente" está para regra de negócio como "navegar para cadastro do cliente" está para uma operação de aplicação.
Meu entendimento sobre o conceito de regras de negócio afasta tais regras dos meios tecnológicos para implementá-las. Esta resposta para uma pergunta semelhante à sua, porém em inglês, fala algo com o que concordo muito: "Business logic is logic, that is created with collaboration and agreement with business experts". Bom, o especialista em questão não se preocupa com (e provavelmente sequer conhece) problemas específicos de implementação relacionados à aplicação.
Outro aspecto é que a regra de negócio é relevante e comum para todas as aplicações que a utilizem, logo, poderia ser compartilhada entre as mesmas - como o caso de você desenvolver duas aplicações complementares (digamos um aplicativo para celular e um website) que dependam as mesmas regras de negócio. Compartilhar regras de aplicação pode não fazer tanto sentido nesse caso.
por que o número máximo de caracteres deve ser regra de aplicação? Por que não é regra de negócio? Ou é?
Imagine um cenário de integração de sistemas, você está construindo uma aplicação cliente de um serviço governamental, digamos a Receita Federal. Sua aplicação precisa consultar dados de uma pessoa a partir do número de um documento, seja CPF. A regra de negócio diz que o CPF possui 11 dígitos numéricos, e isso é imutável. Na regra de aplicação, focando em um contexto de interface, um CPF pode ter 14 dígitos, se incluirmos a pontuação/máscara de entrada.
Respondendo a pergunta: pode ser os dois. Meu critério para separar a regra de negócio da de aplicação seria: esse limite de caracteres ainda existiria se a regra fosse implementada em outro cenário, como em papel ao invés de computadores? Se sim, então vejo como regra de negócio.
Expandindo minha própria pergunta acima: se o cenário fosse apenas outra plataforma (trocando meu banco de dados MySQL por Postgres, como exemplo), a limitação de caracteres mudaria? Se não, ponto para regra de negócio. Se sim, eu provavelmente deveria ter modelado melhor minha implementação para que a funcionalidade da aplicação não dependesse tanto de aspectos técnicos.
Atualização:
Minha dúvida principal é o que é o limite das coisas e porque se prega separar e o tempo todo os códigos juntam essas coisas [...]
Sendo honesto, eu acho que esse é mais um caso do "faça o que eu falo mas não faça o que eu faço" do mundo do desenvolvimento de software. Sabemos quais são os padrões, as boas práticas, porém nem sempre os aplicamos, seja por falta de tempo ("você tem 2 meses para desenvolver esse sistema, porém já se passaram 6 semanas"); ou pela quantidade de boilerplate ou complexidade que essas implementações indicadas possam causar.
Como assim complexidade? Boilerplate?
Me refiro à aplicações pequenas, apesar de que o entendimento desse termo varie bastante de dev pra dev. Bom, ao adicionar um método para, citando seu comentário, "pegar um hash do objeto" (e até mesmo fazer uma validação em cima disso) me questiono: isso será utilizado em algum outro lugar? Algumas respostas possíveis nos meus projetos:
- Não, é relevante apenas para essa funcionalidade e não há previsão de reutilizar qualquer trecho disso. Então implemento ali mesmo.
- Não, mas esse trecho/método não pertence ao escopo que estou trabalhando (aqui já entra a separação que estamos falando). Porém é overworking criar uma camada/classe/interface para um método de 5 linhas... Vou manter aqui, ou, com a implementação mais simples possível, colocar em outro arquivo/pacote.
- No futuro, talvez. Busco uma alternativa que não aumente significativamente a complexidade do projeto e implemento o código de maneira que possa ser reutilizado.
- Sim/Sim, porquê. A partir desse momento, a única maneira de evitar a cópia-e-cola é escrevendo código reaproveitável. Neste momento, está implícita a necessidade de seguir as boas práticas, separando as responsabilidades de maneira mais clara.
A complexidade que me refiro é subjetiva e bastante opiniativa. Criar uma "camada" da aplicação para alguma programação simples apenas para "seguir o padrão" é indicado, porém o programador pode se questionar "realmente preciso criar uma interface aqui sendo que provavelmente terei apenas uma classe concreta"? Essa é uma dúvida recorrente quando estou, por exemplo, limitado ao Java 7 enquanto crio minha aplicação Android. Quantas linhas de boilerplate seriam economizadas se pudesse usar lambdas ao invés de uma classe anônima?! Talvez seja um exagero particular meu, mas por vezes minha busca por "simplificar a arquitetura" acaba pegando alguns atalhos e descartando boas práticas que seriam mais verbosas.
TLDR;
Meu entendimento empírico do porquê as regras de aplicação e de negócio acabam misturadas é que os programadores têm limitações (tempo, recursos, conhecimento) que exigem tais medidas, e o software muitas vezes é visto como algo que sempre vai exigir manutenção (logo, poderá ser melhorado no futuro).