O seu problema
O problema é o seguinte: Imagine um prédio com 100.000 andares e que os bombeiros pedem insistentemente milhares de vezes para saber quantas pessoas têm até o último andar. Isso vai fazer o seu programa consumir um tempão calculando e recalculando o totalPessoas
. Cada consulta percorreria n andares e são q consultas no total, logo o tempo nesse caso vai ser proporcional a O(nq).
Outras soluções que não funcionam
Você poderia pensar em uma abordagem de recalcular tudo só quando alguém se mudar e guardar o resultado numa variável. Mas daí, deve haver algum teste onde ocorrem milhares de mudanças e o seu programa vai de novo estourar o tempo com O(nq).
Você pode pensar em fazer um array auxiliar que mostre o acumulado de pessoas até cada um dos andares, para consultá-lo quando os bombeiros chegarem. Mas nesse caso, você teria que reconstruir a tabela quando houverem mudanças a partir do andar onde ocorreu a mudança, e deve haver algum teste onde ocorrem milhares de mudanças no primeiro andar, e o resultado é novamente O(nq).
Divisão e conquista
Talvez uma abordagem de dividir e conquistar seja a solução. Se você manter uma contagem do número de pessoas na metade inferior do prédio em uma variável (vamos chamar de x
), a consulta dos bombeiros na metade superior ficará bem mais rápida, pois você não precisará recontar a metade inferior, basta usar o valor x
). Da mesma forma, se houver alguma mudança na metade inferior do prédio, você só precisará recalcular o valor x
da metade inferior do prédio, sem se preocupar com os valores da metade superior.
Usando-se essa ideia recursivamente, subdivide-se cada bloco de andares pela metade até chegar a um ponto onde se tem um bloco de apenas um andar. Então junta-se os blocos de 2-em-2 somando-se o número de pessoas em cada andar. Depois, junta-se esses blocos maiores de 2-em-2 também formando blocos ainda maiores até você ter um bloco que representa o prédio inteiro.
Para um prédio de 12 andares, o resultado é o que está abaixo:
Andares que não existem por estarem depois do último são considerados como zeros. Por exemplo, o 193 da quarta coluna deveria agrupar 8 andares ao invés de 4, mas o prédio acaba antes disso e portanto o que tem depois são apenas zeros.
Como descobrir quantas pessoas têm até algum andar?
Ok, mas como podemos saber quantas pessoas têm nos 9 primeiros andares, por exemplo?
A resposta é que os 8 primeiros andares têm 134 pessoas e o 9º tem 77. Logo a resposta é 134 + 77 = 211 pessoas.
E se quisermos os 7 primeiros andares?
A resposta é que os 4 primeiros tem 88, o 5º e o 6º juntos têm 9 e o 7º tem 24. Logo a resposta é 88 + 9 + 24 = 121 pessoas.
E se em um prédio maior que esse, quisermos até o 42º andar?
Nesse caso pega-se o número de pessoas dos 32 primeiros andares, mais o número de pessoas dos 8 andares do 31º ao 40º e então o número de pessoas do 41º junto com o 42º.
Mas como saber quais desses blocos de tamanhos diferentes escolher?
É só olhar para o número escrito em binário. Por exemplo:
9 é 1001, ou seja, 8 + 1. Então pega-se um bloco correspondente a 8 andares seguido de um bloco de 1 andar.
7 é 111, ou seja, 4 + 2 + 1. Então pega-se um bloco correspondente a 4 andares seguido de mais um de 2 andares e então um de 1 andar.
42 é 101010, ou seja, 32 + 8 + 2. Então pega-se um bloco de 32 andares, um de 8 e um de 2.
Na imagem do prédio, o próprio prédio azul corresponde aos blocos de tamanho 1, a fila amarela à sua direita os de tamanho 2, depois os de tamanho 4, 8, 16 e assim por diante. Dessa forma, é possível saber de quais colunas os blocos devem ser escolhidos.
Note que nunca dois blocos da mesma coluna são acessados nesta operação.
Como mudar a quantidade de moradores de um andar?
Essa é fácil, altera-se o bloco correspondente ao andar e todos os blocos à direita dele. Os demais blocos não precisam ser recalculados.
Complexidade da solução.
Quantas blocos (cada um numa coluna diferente) cada operação de mudança ou de contagem pelos bombeiros é acessado?
Num prédio de 1 andar, 1 bloco.
Num prédio de 2 andares, 2 blocos.
Num prédio de 3 a 4 andares, 3 blocos.
Num prédio de 5 a 8 andares, 4 blocos.
Num prédio de 9 a 16 andares, 5 blocos.
Num prédio de 17 a 32 andares, 6 blocos.
...
Num prédio de 32.769 a 65.536 andares, 17 blocos.
Num prédio de 65.537 a 131.072 andares, 18 blocos.
Isso começou a ficar legal. Nesse caso, qualquer operação que exija a recontagem das pessoas (seja a mudança ou seja os bombeiros) vai acabar consumindo tempo proporcional a 1 + log2 n. Portanto a complexidade total é O(q log2 n). Considerando que n é 100.000, e que 1 + log2 n é próximo a 18, isso claramente é bem melhor que qualquer solução O(nq).
Organizando a solução
Agora precisamos ver como organizamos isso na memória. Podemos usar uma matriz com 18 x 100.000, afinal de contas, 18 é o máximo de colunas de blocos que temos e 100.000 é o máximo de andares. Declaramos então pessoas[CAMADAS][MAX_N]
, onde CAMADAS
é 18 e MAX_N
é 100.000.
Os blocos são organizados sequencialmente em cada fileira da matriz assim:
Com essa lógica, o bloco i
da coluna t
é pai dos blocos 2 * i
e 2 * i + 1
da coluna t - 1
. Isso é importante para construir esses blocos depois que o prédio for montado:
pessoas[t][i] = pessoas[t - 1][2 * i] + pessoas[t - 1][2 * i + 1];
Pelo lado contrário, o bloco k
da coluna t
é filho do bloco k / 2
da coluna t + 1
(e portanto k / 2
é pai de k
). Note que essa divisão é inteira.
Assim sendo, o irmão do bloco i
em uma coluna t
qualquer é o bloco i ^ 1
nessa mesma coluna. Esse ^ 1
serve para inverter o último bit de um número, transformando um número par num ímpar e um ímpar num par.
Ao atualizar o valor do andar k
(na verdade k - 1
, pois como você já percebeu, esse - 1
serve para começar a contar do 0), o bloco pai vai receber a soma dos valores dos filhos. Logo, a expressão para atualizar um bloco pai na coluna t
a partir do valor alterado no filho k
é:
pessoas[t][k / 2] = pessoas[t - 1][k] + pessoas[t - 1][k ^ 1];
Para os bombeiros verificarem o número de pessoas até determinado andar k
, para cada camada t
, olha-se os blocos k
dessa camada. Para atualizar o k
na hora de pular da camada t
para a camada t + 1
, basta fazer k /= 2;
. No entanto, só são considerados os blocos que correspondem aos bits 1 tal como já explanado, o que pode ser verificado com k & 1
, considerando-se que o k
está mudando nessa iteração. Ou seja:
for (t = 0; t < CAMADAS && k > 0; t++) {
if (k & 1) totalPessoas += pessoas[t][k - 1];
k /= 2;
}
Código resultante
No final, o resultado é isso:
#include <stdio.h>
#define MAX_N 100000
#define CAMADAS 18
int main() {
int n, q, k, p, t, contEventos, evento, totalPessoas, i, pessoas[CAMADAS][MAX_N];
scanf("%d %d", &n, &q);
for (i = 0; i < n; i++) {
scanf("%d", &pessoas[0][i]);
}
for (; i < MAX_N; i++) {
pessoas[0][i] = 0;
}
for (t = 1; t < CAMADAS; t++) {
for (i = 0; i < MAX_N / 2; i++) {
pessoas[t][i] = pessoas[t - 1][2 * i] + pessoas[t - 1][2 * i + 1];
}
for (; i < MAX_N; i++) {
pessoas[t][i] = 0;
}
}
for (contEventos = 0; contEventos < q; contEventos++) {
scanf("%d", &evento);
scanf("%d", &k);
if (evento == 0) {
scanf("%d", &p);
k--;
pessoas[0][k] = p;
for (t = 1; t < CAMADAS; t++) {
pessoas[t][k / 2] = pessoas[t - 1][k] + pessoas[t - 1][k ^ 1];
k /= 2;
}
} else if (evento == 1) {
totalPessoas = 0;
for (t = 0; t < CAMADAS && k > 0; t++) {
if (k & 1) totalPessoas += pessoas[t][k - 1];
k /= 2;
}
printf("%d\n", totalPessoas);
}
// Para mostrar a tabela.
/*for (int y = 0; y < CAMADAS; y++) {
printf("\n|");
for (int z = 0; z < n; z++) {
printf("%d ", pessoas[y][z]);
}
printf("|\n");
}*/
}
return 0;
}
Os laços que têm pessoas[0][i] = 0;
e pessoas[t][i] = 0;
servem para limpar as posições não utilizadas da tabela para evitar que sujeira/lixo pré-existente na memória atrapalhem o cálculo.
Note que a tabela desperdiça uma boa quantidade de memória, pois grande parte das posições dela ficam sempre vazias mesmo para um prédio de 100.000 andares cheio de gente em todos os andares. A tabela tem 1.800.000 posições, e até é possível reduzir-se o tamanho dela com algumas operações matemáticas para 199.985 posições, que é o tamanho mínimo dela. No entanto o código para fazer isso ficaria bem mais complexo e mais difícil de entender e o ganho de desempenho seria desprezível.
Veja aqui funcionando no ideone.