Um compilador C típico tem essas etapas, exatamente nessa ordem:
- Pré-processamento.
- Análise léxica, sintática e semântica do código.
- Geração de código intermediário (código objeto, esses arquivos com extensão
.o
).
- Linkagem.
- Geração de código executável.
Vamos supor que você comece com isso no main.c
:
void teste();
int main() {
teste();
}
Observe o protótipo da função teste()
lá. Ela declara que a função existe em algum lugar, e que é responsabilidade do linkador encontrá-la. Se ele não encontrar, lançará um erro assim (supondo que você esteja usando o GCC, mas será algo parecido com algum outro compilador):
/home/blablabla/blablabla.o: In function `main':
main.c:(.text.startup+0x7): undefined reference to `teste'
collect2: error: ld returned 1 exit status
A mensagem de erro diz que a função teste
não foi encontrada. Ela poderia estar declarada em um arquivo diferente (teste.c
por exemplo):
#include <stdio.h>
void teste() {
printf("foo");
}
E então, ao compilar os dois fontes juntos, o linkador irá encontrar a função teste()
.
Você pode tentar fazer com que o pré-processador trabalhe com isso ao fazer o main
ser assim:
void teste();
int main() {
teste();
}
#ifndef _teste
# error Voce esqueceu de implementar o teste.
#endif
Se o programador não definir _teste
em lugar nenhum, esse erro vai aparecer. No entanto, essa solução é incompleta, pois não há garantia de que a função teste()
e o símbolo _teste
apareçam juntos. Por exemplo, a verificação é contornada se no teste.c
houver isso:
#define _teste
// Esqueci de implementar a função aqui!
Outro que dá errado é esse:
#include <stdio.h>
void teste() {
printf("Foo");
}
// Esqueci de dar o #define _teste
Nesse daí, o erro persiste mesmo que a função tenha sido implementada.
No entanto, isso não funciona de forma nenhuma. O pré-processador processa os arquivos separadamente, então mesmo que o programador coloque a função teste()
e o símbolo _teste
em outro arquivo, ainda assim o erro será disparado.
Você pode tentar remediar com um #include
no main.c
:
#include "teste.inc"
void teste();
int main() {
teste();
}
#ifndef _teste
# error Voce esqueceu de implementar o teste.
#endif
E então, o programador define a função teste()
e o símbolo _teste
dentro do teste.inc
. No entanto, isso não é boa prática de programação porque arquivos de cabeçalho (arquivos com extensão .h
) não deveriam ter implementação. Se bem que nesse caso, você não está usando o arquivo de cabeçalho exatamente como cabeçalho e sim abusando da definição de cabeçalho para importar uma implementação (logo usamos uma extensão diferente, .inc
).
O problema é que o pré-processador é apenas uma ferramenta para copiar-e-colar texto e na verdade, é uma linguagem totalmente apartada do C. Existe uma linguagem que é a do pré-processador e outra completamente diferente que é a do compilador e ambas não se comunicam a não ser pelo fato de a saída de uma ser a entrada da outra. Assim sendo, não é possível somente no pré-processador saber se a função foi declarada, pois o pré-processador nem mesmo sabe o que é uma função e ele vê o código dela apenas como um monte de texto a ser cegamente copiado para a saída. Por outro lado, o linkador (que também é separado do compilador e do pré-processador exceto pelo fato dele usar como entrada a saída do compilador) não tem nada que permite mensagens de erro customizadas.
Podemos pensar em uma abordagem diferente. Você pode já providenciar um esqueleto para a função teste
e abandonar o #ifdef
. Por exemplo, se for tudo feito em um único código-fonte:
#include <stdio.h>
void teste();
int main() {
teste();
}
void teste() {
# error Voce esqueceu de implementar o teste. Substitua essa mensagem pelo codigo.
}
Em múltiplos código-fonte, com a ressalva que você está abusando da finalidade do #include
, você pode fazer isso no main.c
:
#include "teste.inc"
void teste();
int main() {
teste();
}
E no teste.inc
:
#include <stdio.h>
void teste() {
# error Voce esqueceu de implementar o teste. Substitua essa mensagem pelo codigo.
}