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Ao se criar um site ou aplicação web, sempre há o problema do que fazer quando nem todos os browsers implementam todas as funcionalidades desejáveis. Pelo que tenho lido, há duas principais maneiras de se lidar com isso:

  • Graceful Degradation ("Degradação Suave") - Desenvolve-se pensando num ambiente o mais completo possível, mas assegurando-se que se a funcionalidade X ou Y estiver ausente o site ainda funcione da melhor forma possível sem ela.
  • Progressive Enhancement ("Enriquecimento Progressivo") - Desenvolve-se pensando num ambiente o mais básico possível, e acrescenta-se características extra caso a presença da funcionalidade X ou Y seja detectada.

Quais as vantagens e desvantagens de cada uma delas? Há situações em que uma é mais adequada que a outra, ou é apenas questão de preferência? Estou interessado principalmente no aspecto da manutenabilidade: à medida que características novas vão sendo introduzidas aos browsers, e versões antigas dos mesmos caem em desuso, quais as implicações disso num site/aplicação desenvolvido segundo essas estratégias?

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  • Acredito que o estabelecimento de pré-requisitos necessários é a melhor opção, e definir o que deve existir para que a aplicação funcione corretamente é o que faço. Ex: Se alguém abrir no IE eu notifico logo que é melhor abrir com o browser X,Y,Z pelos motivos G,H,Y. Se nas próximas versões os quesitos aumentarem e o browser Y não suportar, aplico a mesma técnica. Só não sei se isto se enquadra em qual "filosofia". Acredito que as coisas ficariam mais facilitadas se todos os browser tivessem no mesmo nível e features muito idênticas e padronizadas. Minha opinião.
    – Cold
    15/10/2014 às 14:26
  • @Cold Isso seria um caso de Ungraceful Degradation hehe (brincadeira, é lógico que se você teve o esforço de detectar o browser e notificar o usuário do problema, então é graceful sim)
    – mgibsonbr
    15/10/2014 às 17:49

2 Respostas 2

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Tecnicamente não há diferença

Com ambas as abordagens é possível implementar compatibilidade com qualquer navegador, em qualquer versão. A diferença entre elas é como de uma abordagem top-down ou bottom-up, mas no fim você pode alcançar os mesmos resultados.

A estratégia pode influenciar na mentalidade da equipe

Por exemplo, a Graceful Degradation ("Degradação Suave") irá de alguma forma priorizar os navegadores mais novos, já que o raciocínio é: implemente o mais novo e, caso não dê, use o plano B para manter a compatibilidade.

Já o Progressive Enhancement ("Enriquecimento Progressivo") irá produzir o efeito oposto, colocando a compatibilidade em primazia: vamos fazer o mais simples e, quando possível, melhoramos um pouco.

Limitações que fazem diferença

Infelizmente, hoje ainda é necessário que façamos testes nos vários navegadores e dispositivos diferentes para realmente garantir o funcionamento adequado de um sistema. E creio ser inevitável que a equipe acabe focando nas funções mais imediatas à sua realidade.

Então nos deparamos com duas restrições:

  • O desenvolvedor dará preferência a um ambiente específico para codificar, o que inevitavelmente aumenta a chance de erros nos ambientes "secundários" com que ele teve menos contato.
  • A limitação de tempo e recursos faz com que não seja possível realizar baterias de testes adequadas em todos os cenários possíveis.

Conclusão

Com tudo isso, minha conclusão é que a técnica de detecção de recursos de um navegador (ou a falta dele) não é mais importante do que a correta definição de uma estratégia de desenvolvimento e de testes.

Como em geral não se pode ter tudo, então é necessário uma definição clara do público alvo e dos cenários mais prováveis de uso do sistema.

Se a tendência for que os usuários usem navegadores mais modernos, então vale mais a pena começar assumindo as funcionalidades mais novas. Quando o navegador não possuir alguma funcionalidade, aplica-se a Degradação Suave. Se der algum problema, pelo menos vai atingir a minoria dos usuários.

Já em outro cenário, imaginando talvez um órgão governamental ou uma grande empresa, onde a atualização dos navegadores anda a passos bem lentos, é melhor usar menos dos novos recursos e, em certos cenários, pode-se então enriquecer o sistema. Do mesmo modo, poucos usuários serão impactados caso haja algum problema por causa disso.

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O @utluiz tem razão quando diz que tecnicamente não há diferença. O antagonismo entre os dois termos (não são técnicas, estão mais para filosofias) hoje não é tão forte quanto já foi, e é preciso lembrar de onde eles vêm. Um é na verdade uma evolução do outro, e o que se usa atualmente é o resultado dessa evolução, e de certo modo uma combinação dos dois.

Graceful degradation

Quando surgiu a expressão graceful degradation, não havia suporte padronizado aos recursos mais básicos, e imperava o caos. O browser com a maior fatia do mercado tinha inúmeros bugs de CSS, e não suportava as APIs para JavaScript do W3C. O ciclo de atualização dos browsers era bem mais lento que hoje. Muitos sites e aplicações quebravam em um ou outro navegador – sem falar em dispositivos móveis, que eram bem mais rudimentares e bem menos presentes.

Quando havia suporte a dois ou mais navegadores, isso era feito com técnicas de detecção de browsers e versões específicas de browsers, o que logo se mostrou insustentável. Então veio a ênfase numa solução mais elegante, daí graceful. Na prática, veio a troca do browser sniffing pelo feature detection. Em vez de codificar para um ou outro navegador, verifica-se se o navegador do usuário suporta um determinado recurso, e decide-se como reagir a sua presença ou ausência.

Progressive enhancement

Esse modelo foi um passo adiante em direção a uma web cross-browser. Surgiram polyfills e shims, "tampões" para recursos não suportados, nivelando melhor o que era possível fazer. Paralelamente, foram ganhando espaço o movimento pela marcação semântica, as técnicas de posicionamento em mecanismos de busca, os dispositivos móveis. Isso logo levou o foco do desenvolvimento a passar dos recursos para o contéudo. E só aí surgiu a corrente do progressive enhancement, que representou exatamente essa mudança de ênfase: da degradação (dos recursos) ao aprimoramento (do conteúdo). A distinção pode parecer sutil, mas é importante. O espírito antes era entregar conteúdo "feio" se não houvesse outro jeito. Passou a ser entregar conteúdo "pelado" e acrescentar camadas para quem puder aproveitá-las.

A técnica que possibilita isso não mudou muito, continou sendo feature detection, somada a um cuidado maior com a marcação. Isso foi ficando mais simples de concretizar conforme os browsers foram evoluindo.

Na prática

Ao iniciar o desenvolvimento de um site ou aplicação web, você sempre irá levar em conta:

  • O seu público-alvo
  • O conteúdo que será apresentado
  • Os recursos que esse conteúdo exige

Repare que eu disse exige no último item. Por exemplo, se você cria o site de uma biblioteca JavaScript para manipulação de canvas, é óbvio que as páginas de demonstração da biblioteca dependerão de suporte ao canvas. Usando feature-detection, você pode mostrar um screenshot e/ou uma mensagem dizendo que o canvas é um requisito, mas não faz sentido implementar uma versão funcional sem canvas (por exemplo, em Flash) se o propósito da sua biblioteca não for substituir o canvas quando ele não estiver disponível. Já as páginas de documentação da biblioteca, sem exemplos dela em funcionamento, devem funcionar em mais browsers e dispositivos, pois impõem menos limitações.

Ou seja: o seu conteúdo é quem manda (content is king). Isso está no espírito do progressive enhancement, mas a aplicação prática (exibir conteúdo alternativo ou aparência alternativa quando não há suporte a X) pode igualmente ser vista como graceful degradation.

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