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Se eu criar uma classe cujo objetivo a agrupar uma quantidade de métodos relacionados. Suponha uma Classe Boi{} e ela possuir diversos métodos mas nenhum elemento.

Por exemplo:

public class Ruminante{
      public String mugir(Animal animal){
            return "Muuu";
      }
      public void comer(Mato grama){
             //processa grama
      }
      public void darCabecada(Animal animal){

      }
      public void darCoice(Animal animal){

      }
}

E quando eu quiser chamar fizer:

public class Principal(){
       Boi boi = new Boi();
       Ruminante r = new Ruminante();
       r.mugir(boi); 
}

Qual a perda de desempenho? Há outras desvantagens em fazer desta forma? É muito pior do que se tudo na classe Ruminante fosse estático?

2 Respostas 2

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Métodos de instância de java são por padrão virtuais. Isso quer dizer que (salvo nos métodos estáticos ou marcados como final) sempre que um deles é chamado, há um lookup na tabela virtual do objeto para determinar se o objeto é realmente da classe Ruminante (e não de uma de duas subclasses) e dependendo da classe do objeto, é obtido o ponteiro para a função que deve ser chamada. Se a função é marcada como static ou final, então o linking é feito estaticamente, ou seja, o lookup na tabela virtual não é necessária, e o código é "mais eficiente".

Agora, tendo dito o parágrafo acima, para a grande, grande maioria das aplicações essa "perda de performance" não vai fazer diferença alguma. Salvo o caso em que você esteja executando a função num loop muito grande, sem outras chamadas, a perda de performance será insignificante. Na grande maioria dos casos, é melhor você escrever um código que faça sentido (que alguém possa endendê-lo e mantê-lo facilmente) que pensar em otimizações precoces. Ou de acordo com Donald Knuth: "Premature optimization is the root of all evil." (otimização prematura é a raiz de todos os males).

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Otimizações do Compilador

Uma vantagem do Java em relação a linguagens compiladas como C++ é que o JIT (Just in time compiler) consegue fazer otimizações a partir do bytecode no momento em que o código vai ser executado. Além disso, o próprio compilador Java está preparado para fazer várias otimizações já nas fases de compilação.

Essas técnicas permitem, por exemplo, transformar uma chamada a um método em código inline dentro de um loop, evitando assim o overhead repetitivo de busca de métodos em chamadas polimórficas.

Tornar uma chamada de método em execução inline significa que o código do método é executado como se tivesse sido escrito diretamente no lugar onde o método é chamado. Dessa forma, não há overhead de busca do método a ser executado, alocação de memória, novo contexto de variáveis.

Código que executa melhor

Há um artigo da Oracle intitulado Performance Techniques (Técnicas de Desempenho) que fala explicitamente sobre "qual formato de código a JVM otimiza melhor" (What code shapes does the JVM optimize best?).

Vejamos alguns pontos:

  • Métodos static, private, final são fáceis de colocar inline.
  • Chamadas a métodos virtuais ou interfaces são frequentemente colocados inline se a hierarquia de classes permitir. Uma dependência é registrada se posteriormente uma nova classe da hierarquia for carregada.
  • Se houver várias chamadas a um método virtual ou interface o código será otimizado com uma "checagem otimista". Se o tipo concreto mudar de entre uma chamada e outra, então o código será "desotimizado", fazendo então a busca na tabela de métodos virtuais. Por exemplo, num laço com uma lista de objetos de tipos diferentes. Veja aqui um artigo demonstrando a diferença de desempenho.
  • Chamadas a tipos "monomórficos" (isto é, não polimórficas) são mais fáceis de colocar inline.
  • A primeira chamada a um tipo polimórfico pode gerar um inline cache, que fará com que as chamadas consecutivas ao mesmo objeto sejam mais rápidas.

Otimização prematura

Apesar das "curiosidades" acima, concordo plenamente com o @carlosfiqueira: otimização prematura é ruim, sendo preferível escrever código legível.

Porém, toda regra tem sua exceção.

É importante lembrar que o desenvolvimento de um software é sempre baseado em suposições. A qualidade final do software depende do quanto essas suposições estavam corretas. Então, se o domínio do problema for estudado corretamente e sabe-se de antemão que determinada rotina vai precisar processar um grande volume de dados, é possível tomar certas decisões de arquitetura e implementação para garantir o desempenho, sem inibir uma boa modelagem.

Porém, isso só é viável quando há desenvolvedores experientes e especializados, capazes de escrever código robusto e "performático" em suas áreas de especialidade. Funciona mais ou menos assim: primeiro você escreve um sistema pensando no modelo, nas regras de negócio e na manutenibilidade. Então vai se deparar com diversos desafios, sendo um deles o desempenho, tendo que refatorar o sistema. Portanto, no próximo projeto, as lições aprendidas o ajudarão a tomar decisões de projeto (design) que provavelmente lhe pouparão de muita dor de cabeça.

Também é possível otimizar cedo quando o princípio de "resolver o problema primeiro e codificar depois" é seguido, pois através da análise estática de um algoritmo pode-se ter uma ideia dos possíveis gargalos.

É claro as primeiras otimizações não chegam em um nível tão baixo a ponto de se pensar bytecode, chamadas polimórficas e métodos final. Nem creio que é possível desenvolver um sistema totalmente otimizado de primeira, pois a experiência demonstra que em todos os casos muitos dos pressuspostos iniciais de um software mudam ao longo do projeto.

O que poderia dizer para sintetizar o meu pensamento é que os programadores experientes, ao invés de tentarem otimizar demais, simplesmente evitam escrever código ruim e cometer erros bobos que os iniciantes geralmente cometem, além de realizar testes com frequência ao invés de confiar cegamente que suas decisões estão sempre certas.

Conclusão

Escrever código bom, legível e com desempenho satisfatório, não é algo que se possa alcançar com um conjunto de regras rígidas.

Entretanto, é, sim, possível otimizar o código para situações específicas.

Além disso, a experiência (unindo estudo e experimentação) fazem que o desenvolvedor naturalmente produza código de mais qualidade e rápido.

Na maioria dos sistemas cotidianos, um profiler certamente vai mostrar gargalos de processamento grosseiros num nível bem mais alto que chamadas de métodos, geralmente associados à Leitura e Gravação de dados (I/O), que resolvem 80% dos problemas de desempenho.

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  • 1
    Muito bom, @utluiz. Para completar, apenas sugiro que você explique o que é inline, pois seu link, além de mandar para a página inicial do site, parece que iria mandar para um conteúdo em inglês. 27/11/2015 às 5:28
  • 2
    @Pablo Valeu! Fiz alguns ajustes. Depois de mais de um ano tem muito coisa que daria para melhorar. :D
    – utluiz
    27/11/2015 às 6:09

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