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Pesquisei sobre encapsulamento, inclusive li alguns tópicos por aqui, mas ainda não vi um exemplo real do uso disso de forma que consiga me mostrar suas vantagens, quais problemas ele evita.

Tenho um atributo do tipo public, mas é um costume dos programadores fazê-lo private e criar suas propriedades get e set. Pois bem, mas nunca mostram um exemplo real, de um sistema que já fizeram, das vantagens de se utilizar isso e dos problemas que ocorreram e foram solucionados.

Vi exemplificações em vídeos do YouTube, mas não vejo o porquê de terem alterado do public para o private, não demonstram quais problemas evitariam. Já li alguns artigos, vi alguns vídeos, mas eu só queria um exemplo real e objetivo mostrando as variáveis para o private porque evita esse tipo de problema e as vantagens são exatamente essas.

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  • Chegou a ver: Getters e setters são uma ilusão do encapsulamento?
    – rray
    24/04/2018 às 20:56
  • Pior que eu já vi, não ficou claro para mim essa questão, mas vou ver de novo...
    – HeyJoe
    24/04/2018 às 21:01
  • Nesses casos sempre lembro do clássico exemplo da conta do banco. Se você deixar tudo público e acessível de qualquer parte do código, campos importantes como saldo poderão ser acessados de maneira indesejada por qualquer um, sem o cuidado necessário à segurança. Por isso é necessário que tais campos sejam private e possam ser acessados apenas pelos geters e setters.
    – Evilmaax
    24/04/2018 às 23:30
  • 1
    @Max sinto te dizer que este é o motivo errado para encapsular, o exemplo é ruim (eu sei que todo mundo usa ele, por isso que OOP é tão mal usado por aí), e getter/setter não resolve o problema. Eu vou responder.
    – Maniero
    24/04/2018 às 23:57
  • @HeyJoe A resposta resolveu o que estava em dúvida? Precisa que algo mais seja melhorado? Acha que é possível aceitá-la agora?
    – Maniero
    4/08/2018 às 4:49

2 Respostas 2

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Não é obrigação de um objeto ter getter e setter para cada atributo campo (porém expô-los diretamente como públicos costuma ser pior ainda). Tem que criar esses métodos somente quando é necessário expor diretamente a informação (o que geralmente não deveria ser a intenção) e nem precisa ser o par, pode ser por exemplo só um deles.

Campos internos do objeto são detalhes de implementação, juntamente com os algoritmos internos que os manipulam. No espírito da orientação a objetos está um princípio mais geral que é deixar a implementação escondida e expor somente uma interface de programação (um conjunto de métodos acessíveis externamente - leia-se não-privados, no caso do Java) estável que permite manipular e fazer uso desse estado interno, e que não necessariamente possui uma relação de um para um com os campos do objeto.

Um getter ou setter pode ser meio caminho andado nesse sentido, se houver a necessidade de realmente expor esse tipo de interface. O artigo Encapsulation is not information hiding, que pode lhe interessar, cita o exemplo de um objeto representando uma coordenada geográfica: latitude e longitude só admitem certos intervalos de valores, e o encapsulamento ajuda a setá-los dentro de limites válidos. Esse é um exemplo de setters que fazem validação dos valores recebidos.

Não uso tanto setters, mas faço bastante validação em construtores. Se um parâmetro argumento foi passado incorretamente eu já disparo por exemplo uma IllegalArgumentException: "você está tentando construir errado o objeto!" Também é uma forma de encapsulamento.

Em projetos reais também já usei um getter que precisava retornar uma cópia de uma coleção (sabe o que é, né? Uma classe que armazena elementos, como uma lista, um conjunto, etc). Dentro do objeto havia uma coleção de elementos imutáveis. Eu queria retornar um subconjunto dessa coleção ou então uma cópia dela, para que se o código-cliente tentasse modificar a coleção retornada, não modificasse minha coleção original. Modificar os elementos já estava garantido que não seria possível, pois estes eram imutáveis. Fiz então um getter que retornava uma cópia ou subconjunto da coleção. Pronto.

Outro exemplo: um getter que retornava o status conectado (verdadeiro ou falso) de uma central de alarme. Essa central encapsulava um Socket do Java e a informação de conectado vinha de socket.isClosed(). Observe que não é um simples getCampo() ou isCampo(). Ele faz um processamento, embora mínimo, que é inverter o valor retornado (isClosed() retorna se está fechado, eu tinha um isConectada() que retorna se a conexão está aberta).

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  • Já leio com calma mas gostei da notação do riscado pra indicar que se usa o termo errado :)
    – Maniero
    25/04/2018 às 0:28
  • @Maniero Acredite, é mais lembrete para mim do que para os outros :P apesar de que de tanto errar a gente vai aprendendo :)
    – Piovezan
    25/04/2018 às 0:32
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Você tem razão, a maioria das pessoas seguem estas "recomendações" porque viram em algum lugar e elas que estão "ensinando" outras pessoas também não sabem porque fazem isto. Algumas acham que sabem.

De fato, as respostas dadas no link acima do rray mostra bem que getter e setter por si só não podem ser considerados encapsulamento. Só porque deixou um campo (e não atributo) privado não quer dizer que está encapsulando algo, principalmente quando coloca um getter e setter direto para ele sem pensar no que está fazendo.

Cada vez mais estou convencido que getter/setter e outros métodos que servem de anteparo para acessar o real estado é abstração e não encapsulamento. Ok, sei que não será bem aceito porque a definição que é usual no nosso meio diz que esse mecanismo é o encapsulamento. Então não espero que as pessoas mudem sua visão e não vou insistir nisso. Me parece que encapsulamento é deixar tudo o que é necessário ao objeto no próprio objeto. Se alguém perguntar mais sobre, eu posso dar uma resposta.

De que adianta ter um campo privado e um par de métodos que acessa normalmente o campo da mesma forma que ele seria acessado direto? Como isso pode ser encapsulamento? Acho que pode ser abstração, porque a abstração pressupõe que o mecanismo interno concreto não importa.

Encapsulamento tem a ver com o fato de que o comportamento para mudar o estado do objeto está junto do próprio objeto. Então haverá um método que fará a mudança ou acesso ao valor do campo. Mas nada diz que deve ser getter ou setter. E pra mim isso viola a abstração maior do objeto porque é apenas um anteparo para o detalhe de implementação, ajuda, mas não resolve por completo o problema de mater o conceito do objeto genérico, você não está expondo o detalhe de implementação, mas está expondo como é esse detalhe, o que dá quase na mesma.

Mas pode ser também. Se o único comportamento para acessar/mudar o campo é diretamente relacionado ao estado de forma pura e simples, tudo bem. O importante para o encapsulamento é que o comportamento que permita o acesso/mutação do campo esteja no mesmo objeto.

Há uma corrente que prega que nunca deveria ter métodos setters e talvez nem getters. Essas pessoas dizem, e até dou razão, que deveria ter métodos que mandam fazer certas ações que vão manipular o estado de alguma forma, mas que não seja algo tão direto.

Discordo um pouco porque há muitos casos que a única coisa que você deve fazer com o campo é mudar seu valor, e em grande parte das vezes para pegar algum dado é só pegar o valor do campo.

Claro, o pessoal abusa, até por não entender como aplicar essa técnica corretamente. Quando uma classe está cheia de getters e principalmente setters realmente deve ter algo errado. Aí prefiro um modelo anêmico simples.

Para exemplificar usando o motivador do max nos comentários acima: você não deve ter um getSaldo() e setSaldo(), deve ter um Depositar() e Sacar(), entre outros métodos que podem mudar o saldo. Talvez um getSaldo() faça sentido, mas uma simples mudança de nome de método pode dar uma outra impressão, algo como ObtemSaldo() ou PedeSaldo(). Precisa entender o que é operação para dar bons nomes, uma das coisas que eu gosto em DDD :).

Note que o método Sacar() faz muito mais que apenas mexer no saldo, ele não é um simples setter, além da obviedade que ele não muda o saldo de forma direta, ele fará uma subtração.

Eu fiz um exemplo em Qual a relação entre encapsulamento e polimorfismo?. Acho que ele serve como o exemplo pedido.

Se você usa um construtor adequadamente então tem uma necessidade bem baixa de usar setters. A validação ali pode ser considerada como um encapsulamento conforme disse o Piovezan em sua resposta, afinal ela está junto do seu objeto.

Pra mim o maior erro do uso desses mecanismos é ser só um anteparo para o campo como é quase todos getters e setters que eu vejo sendo usados.

Muitas vezes o adequado para pegar informação é pegar um conjunto e não apenas um campo só, aí também entraria a mesma ideia que o método não deve só retornar o estado de um campo. Claro, para fazer isso provavelmente criará uma complicação porque talvez tenha que criar uma classe só para suportar o conjunto de campos que retornará em determinada situação.

Ainda seguindo a resposta do Piovezan, mesmo que ele tenha usado o termo getXXX() em algum método, não sei se todos podem ser considerados como getters. Se ele retorna um subconjunto de uma coleção de dados, será que isso por si só já não é um método com um significado especial? Chamar algo de getter significa que ele não tem função alguma além de dar um valor, não tem semântica específica, ele passa ser parte do mecanismo do objeto e não do seu significado.

Note que algumas linguagens oferecem melhores mecanismos para trabalhar com essas coisas, como propriedades e tuplas.

Eu sei que isso é algo complicado de explicar, abstrações são pouco entendidas pelos humanos. Imagine criar abstrações certas, por isso falo que OOP é muito difícil. Preciso achar um jeito de melhor explicar sobre mecanismo e semântica.

Coloquei no GitHub para referência futura.

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  • Vou defender meu getter. O princípio do encapsulamento dita que implementação é separada da interface fornecida pelo objeto. Então embora o getter deva retornar uma informação do objeto, não há obrigação dele retornar um campo. Essa informação poderia ser gerada em tempo real, por exemplo. No caso ela está sendo gerada a partir dos valores de um campo, e embora não seja o caso de se chamar getCampo(), ela é ainda um getAlgumaCoisa() (como no caso eram getSetoresInibidos()). Em todo caso, vou retirar da resposta, ou trocar por outro exemplo.
    – Piovezan
    25/04/2018 às 1:06
  • Você tem razão nisso, talvez eu não tenha sido tão claro, é que não é o típico getter. Eu acho que ele é mais que um getter, além de ser um getter, ele tem significado, ele funciona como algo mais útil para o objeto do que um getter. Eu não disse que é um erro seu e não acho que deva retirar, note que eu faço perguntas e não afirmações. Eu vou tentar melhorar, mas antes preciso pesquisar um pouco, porque é dessas respostas que vai me fazer pensar bastante e concluir coisas interessantes.
    – Maniero
    25/04/2018 às 1:12
  • Apenas uma idéia que pode ajudar o pessoal mais leigo (como eu) a entender: uma aplicação de objeto que não tenha "getter e setter típicos" em algo mais comum, como sistema de usuários, produtos, funcionários etc. Na minha opinião, os getter e setter simples são muito usados porque a maioria dos sistemas são relativamente simples
    – Costamilam
    26/04/2018 às 2:04
  • @GuilhermeCostamilam você tem razão, eu só não entendo porque alguém usa OOP em sistema simples. OOP é pra gerenciar complexidade.
    – Maniero
    26/04/2018 às 2:48
  • Pessoalmente eu não uso OOP nem em sistema complexo (exceto aplicação android nativa), em PHP uso mais funções separadas apenas por arquivos (organização) e array para guardar dados, em JS quando preciso de um objeto, para enviar para o banco por exemplo, crio um anônimo com {var1: 'var 1', ...}
    – Costamilam
    26/04/2018 às 2:54

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