Há uma pequena confusão entre os operadores aqui. Mas antes, preciso falar o que é uma variável.
Segundo o autor do livro Conceitos de Lingaugens de Programação Robert Sebesta, uma variável é uma região de memória que tem tipo e nome. Simples assim.
Então, o operador de desreferenciamento &
é aplicável apenas a variáveis. O resultado dele não é o endereço do ponteiro, mas o endereço (um número que aponta para a região de memória) da variável. No caso, &ponteiro
é o endereço onde está a variável ponteiro
.
O operador de referenciamento *
entretanto se aplica a valores. Esse operador vai resgatar o que tem no endereço de memória da variável. Então, para o caso de existir uma variável ponteiro
que aponta para a primeira casa do vetor {42,2,10}
, *ponteiro
retornaria 42
.
Dito isso, agora posso ficar na sua pergunta:
Gostaria que alguém me explicasse o uso do meio, somente o "ponteiro" sem o '*' e '&'
Isso mais formalmente pode ser entendido como:
Gostaria que alguém me explicasse o uso de referências, sem ser no caso de usar os operadores de desreferenciamento &
nem o de referenciamento *
Normalmente você precisa disso quando se está usando estruturas compartilhadas. No caso, a estrutura existe e você só tem a referência para ela. Você pode obter essa referência de duas maneiras:
- se for uma variável e você usar o
&
- se for uma região de memória alocada dinamicamente
De modo geral, você só tem diferença entre essas duas formas na criação (dita acima) e na hora de se desfazer dos dados, em que memória dinâmica precisa de um free
explícito para liberar a memória de volta. Mas não precisa se preocupar além disso, a manipulação geral dos dados é igualzinha, independente da origem da referência.
Então, digamos que você tenha uma árvore usada para armazenar palavras. Digamos que ela é uma árvore binária, em que cada ponto da árvore tem um ponto pai e até dois pontos filhos (chamados criativamente de esquerdo
e direito
). A estrutura dessa árvore é algo mais ou menos assim então:
struct arvore {
char *conteudo;
struct arvore *esquerdo;
struct arvore *direito;
};
Ao adicionar uma palavra na árvore, você vai fazer uma chamada assim:
struct arvore* inserir_palavra(struct arvore *raiz, char *palavra);
Em algum momento, você vai precisar definir se a palavra vai para o nó que vai morar em raiz->esquerdo
ou raiz->direito
. Se for uma árvore de busca, é uma questão de ordem lexicográfica. Então você vai precisar fazer algo assim:
int cmp_palavra = strcmp(palavra, raiz->conteudo);
if (cmp_palavra == 0) {
// a palavra já existe, pode desencanar
return raiz;
} else if (cmp_palavra < 0) {
// palavra vem antes, portanto a esquerda
// se não tiver nada a esquerda, vou inserir o novo ponto na esquerda
if (raiz->esquerdo == NULL) {
struct arvore* nodo_palavra = cria_nodo(palavra);
raiz->esquerdo = nodo_palavra;
return nodo_palavra;
} else {
// bem, não está no ponto atual e o ponto de destino está ocupado, então vou descer nesse destino
return inserir_palavra(raiz->esquerdo, palavra);
}
} else {
// não é igual nem é anterior, então é posterior, está à direita
// se não tiver nada a direita, vou inserir o novo ponto na direita
if (raiz->direito == NULL) {
struct arvore* nodo_palavra = cria_nodo(palavra);
raiz-> direito = nodo_palavra;
return nodo_palavra;
} else {
// bem, não está no ponto atual e o ponto de destino está ocupado, então vou descer nesse destino
return inserir_palavra(raiz-> direito, palavra);
}
}
Viu como estou usando apenas o ponteiro propriamente dito ao navegar na árvore? Só me interessavam neles a referência, não precisei navegar dentro do conteúdo da estrutura para isso.
O caso aqui dos ponteiros direito
e esquerdo
ilustram o que você gostaria de saber quando usar um ponteiro sem os operadores de referenciamento e de desreferenciamento.
O código mais completo da operação de inserção do exemplo acima segue após esse parágrafo. Para se desfazer da árvore chame a função liberar_arvore
. Note que estou fazendo um código intrinsicamente single thread, então não me culpe se tentar rodar em um programa com operações em paralelo e as coisas começarem a falhar.
struct arvore {
char *conteudo;
struct arvore *esquerdo;
struct arvore *direito;
};
char* copia_char_dinamico(char *original) {
char *copia = calloc(strlen(original) +1, sizeof(char));
return strcpy(copia, original);
}
struct arvore* cria_nodo(char *palavra) {
// o calloc já cria com todos os bytes zerados, não tenho então preocupação com estar esquerdo e direito para NULL
struct arvore *novo_nodo = calloc(1, sizeof(struct arvore));
novo_nodo->conteudo = copia_char_dinamico(palavra);
return novo_nodo;
}
struct arvore* inserir_palavra(struct arvore *raiz, char *palavra) {
if (raiz == NULL) {
return cria_nodo(palavra);
}
int cmp_palavra = strcmp(palavra, raiz->conteudo);
if (cmp_palavra == 0) {
// a palavra já existe, pode desencanar
return raiz;
} else if (cmp_palavra < 0) {
// palavra vem antes, portanto a esquerda
// se não tiver nada a esquerda, vou inserir o novo ponto na esquerda
if (raiz->esquerdo == NULL) {
struct arvore* nodo_palavra = cria_nodo(palavra);
raiz->esquerdo = nodo_palavra;
return nodo_palavra;
} else {
// bem, não está no ponto atual e o ponto de destino está ocupado, então vou descer nesse destino
return inserir_palavra(raiz->esquerdo, palavra);
}
} else {
// não é igual nem é anterior, então é posterior, está à direita
// se não tiver nada a direita, vou inserir o novo ponto na direita
if (raiz->direito == NULL) {
struct arvore* nodo_palavra = cria_nodo(palavra);
raiz-> direito = nodo_palavra;
return nodo_palavra;
} else {
// bem, não está no ponto atual e o ponto de destino está ocupado, então vou descer nesse destino
return inserir_palavra(raiz-> direito, palavra);
}
}
}