7

Gostaria de saber como elevar um número a uma potência fracionada, por exemplo 2^2.5, 3^0.7 ?

Para números inteiros positivos funciona mais ou menos assim :

#include <iostream>
#include <math.h>
using namespace std;

int main()
{
    int exp=4,num=2,soma=1;

    for(int i=1;i<=exp;i++){
        soma=soma*num;
    }
    cout << "o resultado eh  " << soma << endl;
    return 0;
}

Mas como seria para números fracionários ?

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2 Respostas 2

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Não quer usar a biblioteca matemática e o método pow? Pois bem, vamos à definição crua.

O @Phelipe comentou sobre uma fonte muito interessante de como calcular potenciação. Vamos às definições vistas no ensino médio e então entramos em assunto de séries convergentes com funções formadas pela soma infinita de polinômios.

Exponenciação natural

A partir de agora, vamos indicar em texto a operação na forma b^n, que quer dizer:

  • b é a base da exponenciação
  • ^ é o operador da exponenciação
  • n é o expoente

Por questão de simplicidade e para evitar complexos, mantenhamos b estritamente positivo e diferente de 1.

ATENÇÃO

Abaixo eu vou pular diversos passos formais para focar no entendimento um pouco mais intuitivo da questão. Então, se você estiver sentindo falta de algum formalismo ou que eu pulei rapidamente para uma conclusão sem ter todas as ferramentas necessárias para tal conclusão, não me crucifique. Tentarei colocar referências para uma demonstração correta.

A exponenciação natural é igual direta ao ponto (desconsidere o 0 como natural agora). O expoente indica quantas vezes você deve multiplicar a base no seguinte algoritmo:

  1. se n == 1, retorne b
  2. caso contrário, retorne b * b^(n-1)

Essa definição, no entanto, só nos fornece resultados para n natural. Para o seu caso, n como ponto flutuante (que é um subconjunto dos racionais), precisamos ir além. Precisamos por em cheque algumas questões:

  1. números negativos
  2. n nulo/zero
  3. números fracionados

Vamos incluir os números inteiros <= 0?

Exponenciação inteira

O que acontece quando conhecemos a potência de uma determinada base, e precisamos pegar o número logo abaixo dela?

Pela definição, conhecemos o valor de b^(n+1) e precisamos chegar em b^n. Podemos ignorar totalmente o valor de b^(n+1) e fazer n multiplicações ou, se formos espertos, fazer apenas uma única divisão. Como? Analisando a definição, óbvio.

Nós sabemos pela definição recursiva que b^(n+1) = b*b^n para todo n natural. Então a maneira com menos operações para obter b^n é fazer b^n = b^(n+1)/b.

Isso faz sentido, pois é como se tirássemos uma vez o fator b da jogada. Então, uma generalização é dizer que 1/b = b^-1. Então, o que seria (1/b)^4? Seria 1/b * 1/b * 1/b * 1/b a partir da definição da exponenciação natural, o que dá sinais de que estamos no caminho correto.

Com isso incluímos os inteiros negativos. E para n == 0? Bem, podemos chegar nele fazendo o seguinte pensamento:

Podemos extrapolar que b^n * b == b^(n+1) é sempre verdade. Então, para n == 0, temos que b^0 * b == b^(0+1) == b^1. Por definição, b^1 == b. Podemos tratar b^0 como uma incógnita, portanto b^0 == b/b == 1.

Conseguimos estender a exponenciação natural para a exponenciação inteira. Para estender para os racionais, antes gostaria de apresentar a operação inversa.

Logaritmicando

O logaritmo é a operação inversa da exponenciação. Isso significa que, dados b e b^n, é possível se obter qual seria esse n. Como que o logaritmo é definido? Bem, vamos a notação:

log_b(x) = n

Aqui estamos pergunta qual seria o expoente n tal que a base b elevando a n resultasse no operando x, portanto x = b^n. Existe uma base muito especial nos logaritmos que é o número de Euler e. Ele é tão importante que tem até mesmo notação própria:

ln(x) = log_e(x)

As vezes fontes dizem que esse ln é logaritmo natural, outras que é logaritmo de Napier/logaritmo neperiano (neperiano nesse caso é referente a Napier). Eu gosto da segunda forma de chamar porque lembra do matemática Napier que fez a primeira referência a essa constante, mesmo que de maneira tortuosa

Com essa notação e também com o fato de que ln(x) é o inverso de e^x, então temos que e^(ln(x)) == x.

Uma outra propriedade de um logaritmo é que ln(b^c) == c*ln(b), dado que:

  • qualquer c
  • b real positivo diferente de 1.

Mas em que isso me ajuda? Porque ambas as funções unários de exponenciação por e e logaritmo são definidas matematicamente.

e^x

A função exponencial é definida por um limite de um somatório:

exponencial como soma infinita

Podemos usar somas infinitas no computador? Por incrível que pareça, sim, podemos, mas desde que ela seja convergente.

Mesmo assim, estamos assumindo um risco de perder precisão. Eu dou um exemplo de como incorrer na perda de precisão ao calcular 30% de imposto sobre a venda de 72 itens a 574.75 nessa resposta. Em outra nota eu discorro sobre a perda de precisão, pois depende do método usado

Para começar a responder, primeiro precisamos verificar se essa série infinita converge. A definição formal é muito chata, mas podemos usar algo derivado dela para chegar em algo mais fácil de manusear.

Pegue uma série infinita S. Seja Sn o n-ésimo termo da série. Seja f(n) = |Sn| uma função dos inteiros nos reais. Se f for decrescente para todo x >= N, então S converge.

Ok, e qual o termo Sn para o exponencial? É x^n/n! (que é um número não negativo). Então precisamos encontrar algum valor para n tal que S_(n+1) < Sn. E depois demonstrar que isso é válido para qualquer valor acima de n+1. Fácil, né?

No primeiro passo, vamos ver o que acontece com Sx (para um x inteiro)? Temos exatamente x^x/x!. Pela definição de fatorial temos que x! == x * (x-1)!. Pela definição de exponenciação, temos que x^x == x^(x-1) * x. Daí:

x^x/x!
x*x^(x-1) / x * (x-1)!
(x/x)  *  (x^(x-1)/(x-1)!)
1 * x^(x-1)/(x-1)!

Olha só, que coincidência! Sx == 1*S_(x-1). E se consinuarmos a aumentar? Digamos, para S_(x+1):

x^(x+1) / (x+1)!
x * x^x / (x+1) * x!
(x^x/x!) * (x/x+1)
Sx * (x/x+1)

Como x/x+1 é menor do que 1, temos que multiplicamos por um valor menor do que 1. Para x+2, vamos pegar S_(x+1) e multiplicar por x/x+2, que é menor do que x/x+1. Portanto, temos que, para n >= x, a função f(n) = Sn se torna decrescente. Então converge.

E se tivermos um x não inteiro? Um x real? Bem, nesse caso, podemos extrapolar esse pensamento para pegar y o primeiro inteiro menor do que x. O nosso número de corte, para o qual f(n) se torna decrescente, é y (porque x/y > 1 e x/y+1 < 1, portanto se tornando decrescente a partir desse ponto).

Agora que temos uma série convergente, como fazer essa soma? A grosso modo, até a soma ter importância no nosso ponto flutuante.

Soma importante com ponto flutuante

Tomemos um número qualquer, a. Ele é um número pertencente ao conjunto de números de mantissa finita de n dígitos (assim como o IEEE754 também, para 24 bits).

Vou assumir aqui que a mantissa é 4 e estamos falando de dígitos na base 10, mas não é difícil extrapolar.

Isso significa que a está no seguinte formato:

x.yzk * 10^e

Um valor possível para a, portanto, seria:

6.473 * 10^7

O que acontece se somarmos com um número com expoente 6 (7-1)? Vamos pegar um exemplo em que não ocorra nenhum carry por simplicidade:

6.473 * 10^7   +
5.112 * 10^6
-----------------
6.473 * 10^7   +
0.5112 * 10^7
-----------------
6.9842 * 10^7

Porém, como 2 é o quinto dígito, ele não está mais representável em um número de mantissa fixa. Portanto não é possível distinguir entre essa soma de cima com está outra soma:

6.473 * 10^7   +
5.110 * 10^6
-----------------
6.473 * 10^7   +
0.5110 * 10^7
-----------------
6.9840 * 10^7

Isso significa que o valor do dígito menos significativo se tornou irrelevante. Inclusive, se pegarmos um número y = 0.009 * 10^6 e fizermos s = a+y, o valor de s será s == a.

Como não estamos falando da nossa aritmética de todo dia, tem algumas coisas que vale a pena falar. A soma, por exemplo, não é associativa. Vamos provar isso?

Sabemos que a+y == a por conta do passo anterior. Isso significa, também, que:

a == a+y
a == (a+y)+y
a == ((a+y)+y)+y
...

E por aí vai. Porém, e se agruparmos y de outra maneira? Por exemplo, somemos assim:

a + (y+y+y+y+y+y+y+y+y+y)

Ora, aqui somamos a com y*10. O que isso significa? Que o dígito de y agora se torna relevante. Então a + (y+y+y+y+y+y+y+y+y+y) > a.

Numa série infinita convergente, nos interessa fazer a soma de Sn para índices crescentes. Isso significa que, enquanto Sn + S_(n+1) > Sn, a soma tem relevância e devemos continuar. Porém, se Sn + S_(n+1) == Sn, então chegamos a um ponto em que os valores novos obtidos se tornam irrelevantes.

Para somar os termos de f(x) que tem relevância, podemos fazer assim:

int n = 0;
double sum = 0;
while (sum + f(n) > sum) {
    sum += f(n);
    n++;
}

Esse algoritmo pode ser otimizado, principalmente se soubermos o comportamento de f(x+1) em relação a f(x) (mas também pode ser absurdamente otimizado sem saber disso), mas a ideia geral é essa.

ln(x)

Essa é a função que define o logaritmo natural de um número:

fórmula de logaritmo neperiano de um número através de uma integral

Podemos usar alguns métodos matemáticos distintos para calcular a integral, o meu favorito é o método dos trapézios. Veja aqui para uma implementação JavaScript.

Pondo tudo junto

Para calcular tudo, conforme a resposta indicado pelo @Phelipe, basta fazermos e^(ln(b)*n).

Então, primeiramente, calculamos o valor de ln(b) usando o método dos trapézios para calcular a integral. Então, multiplicamos esse resultado por n, seja n um número qualquer. Sobre o resultado dessa multiplicação, aplicamos o resultado então na série infinita que descreve a exponenciação, somando seus termos individualmente até que encontremos um índice i qualquer tal que somar Si seja irrelevante para a precisão da mantissa fixa usada: somatorio_ateh_i + Si == somatorio_ateh_i.

Vale ressaltar que o método dos trapézios e a soma da série infinita são extremamente ineficientes.

Conclusão

Foi uma bela brincadeira matemática, mas se precisar usar exponenciação de dois números não inteiros... Faça com operações da biblioteca padrão, elas lhe pouparão problemas de performance. Igual ao que o @Phelipe e o @epx comentaram.

9
  • 1
    Ótima resposta. Queria entender como funcionava esse cálculo com pontos flutuantes.
    – Beto
    28/01/2018 às 18:55
  • 1
    Ok. Ficou melhor para entender, obrigado.
    – Beto
    28/01/2018 às 23:54
  • 2
    E tem quem acha que calcular pow(x, y) só adiciona o custo de uma chamada de função a mais no código :D
    – Woss
    29/01/2018 às 0:10
  • 1
    Usar pow() da biblioteca pode ser bom porque talvez use instruções otimizadas do processador.
    – epx
    29/03/2018 às 5:24
  • 1
    @epx, pode ser bom? Pois eu tenho certeza que será melhor. A ideia da resposta era que partisse dessa premissa (já descrita na primeira linha): "Não quer usar a biblioteca matemática e o método pow?" Acho que vou por uma conclusão no final da resposta indicando que o pow é o melhor dos casos quase sempre 29/03/2018 às 5:28
3

Você já está usando a biblioteca matemática que trás diversas funções para trabalhar com cálculos matemáticos. Para fazer a potenciação você pode usar a função pow

Segue um exemplo de como fazer isso:

#include <iostream>
#include <math.h>
using namespace std;

int main()
{
    float exp=4.9,num=2.0;
    cout << "o resultado eh  " << pow(num,exp) << endl;
    return 0;
}

Caso queira saber mais você pode acessar esse link:

3
  • Queria saber como fazer isso na mão mesmo. Para entender o funcionamento na programação.
    – Beto
    28/01/2018 às 0:37
  • 1
    Você pode olhar aqui então. Tem desde o algorítimo até uma explicação de como a função pow funciona. pt.stackoverflow.com/questions/5250/…
    – Phelipe
    28/01/2018 às 0:40
  • 2
    Lembrando que não é recomendável você usar suas próprias funções para fazer esse tipo de cálculo. As funções existentes são as mais otimizadas possíveis e testadas por um grande número de pessoas.
    – Phelipe
    28/01/2018 às 0:44

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