Apenas para deixar registrado, seguem mais alguns casos em que isso é possível (todos retirados desta pergunta no SOen).
Vale lembrar que estes métodos não são recomendados em sistemas sérios, pois tornam o código desnecessaramente confuso. Estão mais para curiosidades, mas acho que também serve para se aprofundar um pouco nos meandros da linguagem, e quem sabe evitar que se caia nessas situações sem querer.
Enfim, vamos às "bizarrices":
Array
Ao comparar um array com um número usando o operador ==
, primeiro é feita a conversão do array para primitivo. E conforme explicado aqui, para fazer esta conversão, ele procura pelos métodos @@toPrimitive
, valueOf
e toString
, nesta ordem, e chama o primeiro que for encontrado. Depois, o retorno deste método é usado na comparação.
No caso específico de arrays, podemos nos valer do fato de que toString()
chama internamente o método join
(conforme descrito na especificação da linguagem), então podemos alterá-lo assim:
var a = [1, 2, 3];
a.join = a.shift;
console.log(a == 1 && a == 2 && a == 3); // true
Ou seja, quando o array é comparado com um número, o método toString()
chama o join
, que por sua vez chamará shift
, que é um método que remove o primeiro elemento do array e o retorna. Assim, cada vez que a comparação é feita, ele retorna o próximo elemento do array.
Objetos
Conforme explicado aqui (e pelo exemplo dado na outra resposta), um objeto pode ter um método valueOf
que incrementa seu valor, ou seja, a cada invocação ele retorna um valor diferente.
Mas só para detalhar mais, o operador ==
primeiro converte o objeto para primitivo, e para isso ele procura pelos métodos @@toPrimitive
, valueOf
e toString
, e chama o primeiro que encontrar. Então o método descrito na outra resposta funciona também se o objeto tiver quaisquer um destes métodos, desde que façam a mesma coisa (retornem um valor diferente a cada invocação). Veja o link já indicado para uma explicação mais detalhada.
Sabendo disso, podemos usar qualquer método que retorne um valor diferente a cada invocação, como por exemplo, usando uma regex que retorne o próximo match de uma string contendo dígitos:
var a = {
r: /\d/g,
valueOf: function() {
// cada vez que exec é chamado, retorna o próximo dígito
return this.r.exec('123')[0];
}
};
if (a == 1 && a == 2 && a == 3) {
console.log("todos iguais");
}
Ou retornar números aleatórios (não vai dar certo sempre, claro, mas alguma hora acontecerá):
var a = {
valueOf: function () {
return Math.floor(Math.random() * 4);
}
};
// tenta mil vezes (se não der certo nenhuma, é muito azar)
for (var i = 1; i <= 1000; i++) {
if (a == 1 && a == 2 && a == 3) {
console.log(`Todos iguais, depois de ${i} tentativas`);
break;
}
}
Unicode (sempre ele)
Isso é meio que "trapaça", já que o nome de duas variáveis não é exatamente a
:
var aᅠ = 1;
var a = 2;
var ᅠa = 3;
if (aᅠ==1 && a== 2 &&ᅠa==3) {
console.log("todos iguais");
}
Note que a primeira e terceira variáveis possuem um espaçamento diferente (a primeira tem um espaço a mais depois do a
, a terceira tem antes). Este "espaço" na verdade é o caractere HALFWIDTH HANGUL FILLER (um caractere coreano). Apesar de ser renderizado como um espaço, ele não é reconhecido como um whitespace, pois pertence à categoria "Letter, Other".
Além disso, segundo a especificação da linguagem, identificadores podem começar com qualquer caractere Unicode que tenha a propriedade ID_Start
, e depois podem ter quaisquer caracteres que tenham a propriedade ID_Continue
, e o HALFWIDTH HANGUL FILLER se encaixa nesses critérios. Portanto, "a" seguido do HALFWIDTH HANGUL FILLER é um nome válido, e HALFWIDTH HANGUL FILLER seguido de "a" também.
Ou seja, neste caso estamos na verdade com três variáveis diferentes. Mas como o nome de duas delas possuem um caractere que é renderizado como espaço, fica parecendo que estamos comparando a mesma variável.
Além disso, também é possível (embora nada recomendável) usar os caracteres ZERO WIDTH JOINER e ZERO WIDTH NON-JOINER nos nomes de variáveis. Isso deixa mais obscuro ainda, já que eles não são renderizados (afinal, "zero width" indica que eles não têm largura):
var a= 1;
var a= 2; // depois do "a" tem um zero width joiner
var a= 3; // depois do "a" tem um zero width non-joiner
if (a==1 && a==2 && a==3) {
console.log("todos iguais");
}
Enfim, há muitos outros truques similares na pergunta do SOen. E mais uma vez, nenhum deles é recomendado em aplicações sérias. Estão mais para curiosidades, que servem para mostrar os limites da linguagem.