A anotação @Transactional
demarca transações (você pode iniciar transações aninhadas, propagar transações para outras camadas, etc). A transação é uma unidade de trabalho isolada que leva o banco de dados de um estado consistente a outro estado consistente. Pense em termos de transações de negócio mesmo.
A recomendação por não demarcar a camada de DAO e sim a camada de negócios é devido a própria natureza e granularidade de operações de cada camada. Operações da camada DAO geralmente possuem granularidade fina (insira algo, atualize algo, consulte algo, etc). Já a camada de negócio é de granularidade mais grossa, e pode agrupar várias operações da camada DAO (bem como de outras camadas; e.g., filas JMS).
Bean de Negócio
@Autowired BeanDAO1
@Autowired BeanDAO2
@Transactional
meu método de negócio() {
consulta algo do DAO1
faz um processamento
insere algo no DAO2
faz um update no DAO1
}
Veja que métodos de negócio são bons candidatos para "unidades de trabalho" transacionais. A ideia é que a unidade de trabalho que leva o banco de um estado consistente a outro estado consistente execute várias operações. Você quer que uma de duas coisas ocorra:
- O método de negócios seja executado com sucesso e um commit de tudo seja feito
- Uma exceção qualquer ocorra, nesse caso um rollback deverá ser feito para o estado anterior (como se nenhuma das operações tivesse ocorrido).
Agora imagine que você anotou o método de inserção do DAO2 com @Transactional(propagation=Propagation.REQUIRES_NEW)
(algo que fazia sentido em determinado pedaço da sua aplicação). Caso faça isso o seu método de negócio não vai mais fazer rollback do que foi inserido no DAO2 (já que o insert acontece em sua própria transação). Imagine agora que o update no DAO1 falhou e disparou uma exceção; com isso será feito um rollback desse update, porém o valor inserido pelo DAO2 no passo anterior será mantido, potencialmente deixando seu banco de dados em um estado inconsistente. Dessa maneira é boa prática fazer com que a camada de DAO seja uma mera "consumidora" de transações, e não uma agente ativa de demarcações.
Open Session in view substitui a demarcação transacional?
Não. Ok, fui um tanto quanto categórico aqui; porém a verdade é que se todas as transações da sua aplicação possuem o mesmo escopo da requisição (transaction-per-request) esse é um forte indicativo que há algo errado.
O propósito do padrão Open Session in View (OSiV) é facilitar a vida do programador, permitindo que entidades sejam carregadas de maneira preguiçosa (lazy) em tempo de renderização da view (evitando LazyInitializationException
e similares).
<!-- Poderia disparar uma exceção se a sessão estivesse fechada -->
#{minhaEntidade.listaDeOutrasEntidadesLazy}
Eu já tive várias discussões sobre o padrão OSiV, pessoalmente considero-o um anti-padrão, ou ao menos uma má prática. Enquanto existem vários defensores do padrão, eu não estou sozinho na lista de dissidentes. OSiV é certamente útil e poupa tempo do programador evitando que ele tenha que se preocupar em checar se os objetos esperados foram corretamente carregados. Por outro lado abusar desse tipo de técnica também estimula a proliferação de vários problemas. Descaso com a demarcação transacional é um deles, assim como problemas do tipo N + 1
consultas.
Digamos por exemplo que o seu provedor JPA tenha que fazer uma consulta para recuperar cada uma das entidades de uma lista lazy, isso gerará vários selects desnecessários; algo que poderia ter sido facilmente resolvido com um JOIN FETCH
potencialmente passará indetectado para produção devido ao uso de OSiV. No melhor caso OSiV age como uma rede de segurança e esconde o problema, no pior caso ele cria um problema ainda maior.
Do ponto de vista arquitetural sessões longas transversais acabam amarrando as camadas: exceções da camadada de dados potencialmente afetam a view, podendo acontecer em tempo de renderização. Do ponto de vista de performance sessões de longa duração acabam consumindo mais recursos. Do ponto de vista de confiabilidade o padrão acaba abrindo espaço para falhas inesperadas, etc, etc, etc.
De qualquer maneira, como o assunto é polêmico, deixo claro que essa é apenas a minha opinião.
Agora sobre o controle transacional não há muito o que ser discutido; seus métodos de negócio devem ter transações bem demarcadas conforme as regras da sua aplicação. Se eventualmente você quiser utilizar OSiV para carregar algo na view ok, mas nessa etapa todas as transações de negócio já devem ter sido commitadas. Ou seja, uma coisa são as transações de negócio com operações de escrita potencialmente destrutivas e outra completamente diferente é a sessão que fica aberta na view para fins de carregamento tardio de objetos de determinada consulta.