Somewhere Back in Time
Anos 90
Até a década de 1990, as empresas tinham que comprar servidores físicos para hospedar seus sistemas. E também tinham que dispor de um espaço físico para acomodá-los, chamado de data center ou então de centro de processamento de dados, que era inclusive o termo mais comum nessa época. Atualmente, costuma-se também chamar esse modelo de on-premises, pois os servidores estão localizados nas próprias instalações da empresa que vai usar o sistema.
*em inglês, a expressão on premises designa os terrenos e as edificações de propriedade de uma empresa).
Em seguida, mas ainda na década de 1990, começaram a surgir data centers que hospedavam servidores físicos para terceiros. Com isso, não era mais preciso ter espaços próprios para instalar máquinas e, consequentemente, não era preciso se preocupar com instalações elétricas, climatização, no-breaks, acesso à Internet, controle de acesso físico às máquinas, etc. Esses data centers são chamados de colocation, pois no mesmo local são instalados servidores de várias empresas.
Anos 2000
Prosseguindo, no início dos anos 2000, surgiram as plataformas de cloud oferecendo servidores virtuais para as empresas contratantes. Assim, a compra ou aluguel de servidores físicos deixou de ser obrigatória. Isso passou a ser responsabilidade das empresas de cloud, que alugam servidores virtuais que executam em cima de suas máquinas físicas.
O conceito de serverless pode ser visto como a próxima evolução desse processo. Basicamente, a empresa que precisa desenvolver um sistema implementa um conjunto de funções – normalmente, chamadas de funções serverless ou funções lambda – e copia as mesmas para um sistema de cloud. Portanto, não existe mais aluguel de servidores, sejam eles virtuais ou físicos. E as funções serverless podem ser invocadas por aplicações clientes do sistema ou então serem automaticamente chamadas após a ocorrência de determinados eventos.
Uma figura para ilustrar melhor:
Um conceito pensado erroneamente
O nome serverless explica-se pelo fato de que os desenvolvedores não precisam se preocupar com instalação, configuração e escalabilidade de servidores, sejam eles físicos ou virtuais. Ou seja, para ficar bem claro, continuam existindo servidores, mas eles são mantidos e configurados pelas empresas de cloud.
Exemplo: ao se usar um serviço LAMBDA da AWS, você tira a responsabilidade do desenvolvedor de analisar, configurar e monitorar um servidor, EC2 na AWS por exemplo, e essas preocupações ficam por conta da AWS, ficando apenas a cargo do desenvolvedor realizar as configurações básicas de uma função LAMBDA.
Como se gera renda com Serverless?
Com serverless, paga-se pelo tempo de execução das funções serverless. Ou seja, apenas quando ocorre um determinado evento ou chamada é que as funções são carregadas, executadas, encerradas e cobradas do cliente.
Esse modelo de pagamento é semelhante ao de serviços utilitários, como energia elétrica. Por exemplo, você somente paga o que usa de eletricidade (ou deveria). Se não tiver nenhum uso no mês, sua conta será zero ou então igual a um valor mínimo. E se precisar aumentar o seu consumo, dentro de certos limites, você tem certeza de que a companhia de eletricidade irá prover a energia necessária.
Porém, mesmo não havendo pagamento pelo tempo de ociosidade das funções, uma solução baseada em serverless não é sempre mais barata. Isso vai depender também dos preços cobrados pelo provedor de cloud para execução de funções serverless e para aluguel de servidores virtuais.
Características de Funções Serverless
Funções serverless têm as seguintes características principais:
Elas são stateless, isto é, elas não guardam qualquer estado entre uma execução e outra. No entanto, elas podem acessar serviços externos, como bancos de dados e serviços de envio de e-mail.
Elas executam por um intervalo de tempo máximo, normalmente, da ordem de alguns minutos. Após esse intervalo, elas são automaticamente encerradas pela plataforma de cloud. Isso vem como uma medida de segurança por parte do provedor para evitar que uma função consuma muitos recursos de máquina por muito tempo.
Elas podem ser implementadas em uma variedade de linguagens de programação (JavaScript/Node.js, Ruby, Python, Java...).
CALMA!!!
Nem tudo são flores. Uma arquitetura serverless também possui desvantagens. Vou citar algumas que considero (pelo meu conhecimento) como maiores problemas:
Complexidade de gerenciar uma arquitetura constituída por um grande número de pequenas funções. Na verdade, cada função serverless é uma aplicação autônoma, no sentido de que ela deve importar todas as dependências necessárias para a sua execução. Isso inclui bibliotecas de terceiros e também outros módulos da aplicação, como módulos de domínio.
Maior latência, principalmente na primeira execução de uma função serverless. Essa latência adicional deve-se à necessidade de criar um container para executar uma função serverless e, em seguida, copiar o código da função para o container criado. Só então a função é executada. A literatura de serverless refere-se a esse problema como problema da partida a frio (cold start problem). Ele é mais crítico na primeira execução de uma função, pois depois o container pode ser mantido em cache por um certo tempo.
Riscos de alto acoplamento com a plataforma de cloud, tornando mais difícil uma mudança para uma outra plataforma. Esse problema é chamado de dependência de fornecedores (vendor lock-in). O acoplamento com a plataforma de cloud surge quando a função serverless faz uso de outros serviços oferecidos pela plataforma, como autenticação, filas de mensagens, logging, bancos de dados, etc.
Uma boa alternativa
Claramente a arquitetura serverless se apresenta como uma boa alternativa para determinados contextos, principalmente pela sua simplicidade em relação a um servidor, mas como qualquer outra solução de tecnologias, tem as suas vantagens e desvantagens. Cabe ao engenheiro de software analisar seus pontos fortes e fracos antes de optar pelo seu uso. Por exemplo, antes de ter a brilhante (ou não) ideia de migrar um sistema monolito para micros serviços, talvez adotar uma arquitetura serverless possa se tornar uma boa opção. Certas partes do sistema monolito podem ser migradas gradualmente para funções lambdas. Pode-se criar ou separar times de desenvolvedores voltados apenas para manter e criar essas funções. Reduzir custos. Dentre outras coisas, mas sempre atento aos tradeoffs que esta tecnologia acaba gerando.