Eu estava pesquisando na internet sobre porque o Python não tem o operador ++
e vi alguém dizendo que dá pra criar esse operador.
Como se faz isso? Como criar um operador em Python?
Eu estava pesquisando na internet sobre porque o Python não tem o operador ++
e vi alguém dizendo que dá pra criar esse operador.
Como se faz isso? Como criar um operador em Python?
atualização para o Python 3.8
A resposta e considerações abaixo são de 2017, e continuam válidas.
Mas em outubro de 2019, foi lançado o Python 3.8 com o novo operador de "Assignment Expressions" - popularmente chamado de "Walrus operator" por lembrar um emoji ASCII de uma morsa (walrus): :=
.
Com o uso desse operador e parênteses, pode-se efetivamente emular as formas prefixas de ++
e --
- de forma mais verbosa, mas sem nenhum dos efeitos colaterais abaixo - é só escrever:
y = (x:= x + 1)
para ter o equivalente a y = ++x
(e a mesma substituição em qualquer expressão mais complexa).
A forma pós-fixa, que retorna o valor atual e na sequência altera o valor da variável continua sem equivalente.
resposta original:
Tem alguns fatores envolvidos aí - resumindo: pode ser "possível" criar alguma forma de "++" e "--" - mas terão limitações, e, esse operador em particular, viola uma das premissas da linguagem - então mesmo sendo possível, não quer dizer que seja uma boa ideia.
Então, por partes: como está nas outras respostas, em Python é possível definir o comportamento dos operadores existentes nas classes que você cria para você mesmo.
Para isso, basta você colocar na sua classe algum dos métodos com nome pré-definido - como está no Data Model da linguagem.
Isso permite que os objetos que você define, (e até classes), possam fazer o que quiserem com os operadores, aritméticos ou não, binários já definidos: - + * @ / // % ** ^ | & in << >>
e talvez algum outro que eu tenha esquecido - e permite mudar o comportamento para alguns operadores unários (alguns dos quais são aplicados com a chamada de uma função): not len + -
, e até operadores de "augmented assignment":
+= -= *=`, etc...
Operadores que usem outros símbolos dos que o que já estão mapeados, como seria o caso de novos "++" e "--" não podem ser definidos desta forma.
Primeiro, vamos entender por que Python não tem esses operadores para começar: uma das premissas do Python é tentar manter o código bem legível e mantível, com menos propenção a erros. Então desde o começo do Python, qualquer coisa que atribua um valor a uma variável (assignment) é um "comando" (statement), não é uma expressão. Isso significa que você não pode, ordinariamente, alterar valores de variáveis dentro de uma expressão, seja dentro de um if
ou outro comando, dentro de um parênteses para calcular parâmetros para uma função, ou a direita de um sinal de igual.
Para ficar claro, em C, e as linguagens derivadas, como Java, Javascript, etc... isso aqui é válido:
a = 0;
b = 1;
a = (b = 3) + 1;
e a terceira linha modificará a variável b
, e a a
baseada no novo valor de b
. Em Python isso é ilegal, por que o "=" não é um "operador", ele é um "statement" e não pode ser parte de uma expressão.
Isso exige uma linha a mais quando se quer escrever expressões desse tipo, por outro lado evita "erros" do tipo:
if (user.gid = 0){
// usuário é root, validar operação
}
Veja o que era pra ser um teste se o id do usuário é 0, não só sempre dá certo, como ainda transforma aquele usuário em id 0 dali pra frente, por que digitaram =
em vez de ==
.
Então, mesmo nos operadores de augmented assignment - += *=
, etc, que você pode criar para os seus objetos - você pode alterar a parte que "faz a conta" - mas a atribuição do resultado final para a variável à esquerda do operador é feita pela linguagem, e não dá pra mexer nisso.
Ou seja, nesse código:
a = MeuObjeto()
a += 5
O Python vai chamar o método MeuObjeto.__iadd__
com os parâmetros self
(a própria instância a
) e o valor 5
. Esse método faz operações e retorna um valor - esse valor é atribuido a variável a. Se o objeto for "mutável" e ele puder fazer a operação "nele mesmo", sem criar uma nova instância, ele deve retornar self
. Senão, ele retorna uma nova instância, a instância anterior é "esquecida" e apagada pelo garbage colector, e a vida continua.
nb: A regra de "variáveis não podem ser alteradas dentro de expressões" não é uma "mágica" - ela se aplica ao uso da sintaxe dos operadores de atribuição. Python permite que a maior parte dos valores que tem associados a nomes seja alterado por chamadas de funções e métodos, tais como setattr
e __setitem__
- como essas chamadas podem ser usadas dentro de uma expressão, é possível alterar alguns valores - com a not[avel exceção de variáveis locais e não locais. (Para variáveis globais, você pode colocar, dentro de uma expressão globals().__setitem__("nome_da_variavel", valor)
)
Bom, se deu pra entender por que Python não permite a mudança de valores dentro variáveis dentro de uma expressão, é fácil perceber que os operadores ++
e --
fazem exatamente isso - e por isso não foram inclusos na linguagem.
Ainda há no entanto uma outra razão pela qual esses operadores em particular não funcionariam com números em Python: Os números nativos em Python são objetos imutáveis - ou seja, uma vez criados com um valor, aquele valor não pode ser alterado "inplace". O uso de operadores como +=
numa variável numérica na verdade criam um outro objeto númerico e atribui o novo objeto à variável. Experimente fazer:
a = 0
print (id(a))
a += 1
print(id(a))
No modo interativo do cpython você vai ver id's distintos, indicando que o nome a
aponta para instâncias diferentes. Isso é bem prático para muitas coisas em linguagens dinâmicas, permitindo que os tipos numéricos sejam usados como chaves de dicionários, etc...Para cálculos que usam muita memória e precisam de velocidade, você pode usar outros tipos de dados, como array.array
e as várias estruturas de dados providas pelo numpy
para ter tipos numéricos nativos (com 1, 2, 4 ou 8 bytes), que são alterados "in place" na memória nas operações necessárias. Mas uma instância de um int ou float em Python, bem como uma string (str), são imutáveis.
Ou seja, um operador ++
numa variável a
não poderia alterar o número que é apontado por a
.
Bom, já deve ter sido entendido que só podemos modificar o comportamento de operadores para novas classes. Para classes existentes, como int, float, dict, etc..., só usando coisas como o Forbidden Fruit, que permite alterar os tipos nativos de Python alterando a memporia do processo e o comportamento do runtime do Python, e ai ele pode alterar o comportamento de tipos nativos, como é feito na linguagem Ruby.
Se você fizer isso em um programa maior (e muito mais em código para produção), a chance de outros módulos Python que seu sistema usa quebrarem, possivelmente com um segmentation fault é de 950%. No hack a seguir, não vamos fazer isso.
Perceba que nada impede que você crie uma nova classe que se comporte como um tipo numérico. Basta implementar as operações que o seu tipo numérico vai suportar usando os métodos descritos no data model. O próprio Python implementa tipos numéricos extras como o decimal.Decimal
- que até recentemente era implementado em Python puro (agora tem uma implementação em código nativo para maior performance). E o seu tipo numérico pode ser mutável in place. Para ter um tipo bem indistinguível de outros números, você pode marca-lo como uma subclasse de numbers.Number
.
Para manter a coisa simples, vamos criar um tipo que suporte as operações +
e -
binárias, mas que seja alterável "in place". Um tipo desses não pode ser usado como chave de dicionário, mas pode ser usado em contas. Para isso, temos que ter um atributo interno que guarde o valor real do nosso número.
Se implementarmos __add__
, __sub__
, podemos usar nosso número com os operadoes +
e -
. Se desejar outros operadores, é só implementa-los paulatinamente - (__mul__
, __div__
, __pow__
). Se implementarmos os métodos __iadd__
e __isub__
- pronto, nosso número pode ser alterado "inplace" com os operadores +=
e -=
class MutableNumber:
def __init__(self, value):
self.value = value
def __add__(self, other):
return MutableNumber(self.value + other)
def __sub__(self, other):
return MutableNumber(self.value + other)
# define __mul__, __div__ and others if desired.
def __iadd__(self, other):
self.value += other
return self
def __isub__(self, other):
self.value -= other
return self
def __repr__(self):
return repr(self.value)
E podemos testar isso no ambiente interativo (eu uso o ipython):
In [37]: a = MutableNumber(5)
In [38]: id(a)
Out[38]: 140138783472496
In [39]: a += 10
In [40]: a
Out[40]: 15
In [41]: id(a)
Out[41]: 140138783472496
E agora o "hack" possível para implementar o "++" e o "--" passar por esse caminho: o data model preve os operadores unários +
e -
e chama os métodos __neg__
e __pos__
da classe do objeto. O interpretador simplesmente vai chamar duas vezes seguidas esses métodos se encontrar ++a
, por exemplo. Note que algo como a++
vai ser um erro de sintaxe, ou, no caso do código ser algo como a++ + b
o que vai acontecer é a + (++b)
. Por que o parser não vai entender ++
ele simplesmente interpreta cada +
como um operador.
Em suma, já que temos nosso tipo mutável, basta implementar um estado interno que saiba se __pos__
ou __neg__
foram chamados, e a cada segunda chamada altere o valor.
Note ainda que para isso "funcionar" de forma limpa bem seria necessário ter uma forma de detectar que as duas chamadas em para __pos__
foram feitas "no mesmo local". Não vamos fazer isso aqui, portanto se você usar +a
em lugares diferentes do código, vai ocasionar o incremento de valor.
Há dois caminhos para fazer isso: usar "frame introspection" dentro do código dos operadores unários, e verificar se uma chamada foi de fato próoxima a outra no código fonte de origem. E outra é "controlar" todos os usos da classe em todos os métodos especiais (aqueles definidos no data model) possíveis - qualquer chamada intermediária entre duas chamadas ao método unário, reseta o contador. Podemos fazer isso para os métodos que definimos, pelo menos.
class MutableNumber:
def __init__(self, value):
self.value = value
self.reset()
def reset(self):
self.inc_counter = 0
self.dec_counter = 0
def __add__(self, other):
self.reset()
return MutableNumber(self.value + other)
__radd__ = __add__
def __sub__(self, other):
self.reset()
return MutableNumber(self.value + other)
def __rsub__(self, other):
self.reset()
return MutableNumber(other - self.value)
# define __mul__, __div__ and others if desired.
def __iadd__(self, other):
self.reset()
self.value += other
return self
def __isub__(self, other):
self.reset()
self.value -= other
return self
def __pos__(self):
self.inc_counter += 1
self.dec_counter = 0
if self.inc_counter == 2:
self.value += 1
self.reset()
return self
def __neg__(self):
self.dec_counter += 1
self.inc_counter = 0
if self.dec_counter == 2:
self.value -= 1
self.reset()
return self
def __repr__(self):
self.reset()
return repr(self.value)
(Nesta versão eu implementei também o __radd__
e __rsub__
- as versões "a direita" para as operações de + e - isso permite que esses números possam estar de qualquer lado do operador binário).
E voilá:
In [53]: a = MutableNumber(0)
In [54]: a
Out[54]: 0
In [55]: b = 2 + ++a
In [56]: b
Out[56]: 3
In [57]: a
Out[57]: 1
Lembrando que basta estender a implementação para ter __mul__
, __rmul__
e os outros operadores, para fazerem contas com self.value
como acima e essa classe pode ser usada como um tipo numérico normal. Em particular implemente também __int__
e __float__
retornando __self.value__
.
(como autor, declaro para os devidos fins que este código está sob a licença padrão do stackoverflow, ou pode ser usado sob a LGPL v3.0)
+++a
e depois +a
, o valor de a
será incrementado duas vezes (repl.it/NVAB/0), embora o "operador" ++
tenha sido chamado explicitamente apenas em +++a
. Será que teria alguma forma de impedir isso?
reset
em todos os métodos (mágicos e outros que tenha na classe), você fecha bem a coisa. Mas o "meio incremento" em linhas distintas, sem nenhuma operação intermediária, ele não fecha.
A linguagem não provê esta capacidade. É possível criar um comportamento específico para operadores existentes (veja resposta do Math), mas não permitiria criar o ++
. A resposta do jsbueno mostra uma curiosidade interessante, mas não faça isto, é procurar sarna pra se coçar. Se já não bastasse que a linguagem deliberadamente não quis ter este operador, pior ainda forçar a criação dele com truques para enganar o parser.
Cuidado para não abusar da sobrecarga de operadores. Nunca faça nada nele que não seja a semântica esperada para ele. Então não faça um +
ou +=
se comportar como se fosse um ++
.
Até onde eu sei não é possível modificar o comportamento dos operadores para os tipos primitivos da linguagem, como inteiros.
Há muitos questionamentos se os operadores ++
e --
são bons. Eu gosto deles e sabendo usar não tem problema, mas eles não são tão intuitivos assim para muita gente e poucos sabem de todas as características e consequências deles. Provavelmente por isto a linguagem preferiu deixá-los de fora.
Quando vê em algum lugar deve pedir fundamentação.
Se colocar onde viu isto talvez eu possa melhorar a resposta.
Em Python você não consegue criar operadores, mas consegue sobrescrevê-los, para isso você precisa reimplementar os métodos mágicos também conhecidos como dunders (abreviação de double underlines). Veja a lista de todos os métodos especiais no data model da linguagem.
Um exemplo de classe que sobrescreve o método de adição:
class Sobrecarga:
val = 0
def __init__(self, val):
self.val = val
def __str__(self):
return '{}'.format(self.val)
def __add__(self, other):
if other == '+':
self.val += 1
else:
return self.val + other
a = Sobrecarga(1)
print(a) # saida: 1
a+'+' # gambi :P
print(a) # saida: 2
a+1 # resultado da operação não é armazenado
print(a) # saida: 2
print(a+1) # saida: 3
Não é exatamente o que você quer, pois o operador +
foi sobrecarregado para quando o parâmetro for o string literal +
somar o self.val
em 1 e armazenar o novo valor nele mesmo, mas se tentar fazer a++
vai dar erro de sintaxe pois isso não pode ser interpretado em Python. Para todos os outros casos a operação de soma vai fazer a operação normal de soma e retornar o valor.
Veja funcionando no Ideone