Às vezes parece que estamos falamos da mesma coisa (claro, não é) quando estes conceitos estão sendo utilizados. Qual é a real diferença entre eles? Quando utilizar um ou outro?
2 Respostas
Inversão de Controle (ou IoC, Inversion of Control) é um termo mais amplo para se referir a um comportamento (explicado abaixo). Várias são as maneiras de implementar a inversão de controle.
Injeção de Dependência já não é algo tão amplo, é na verdade considerada até um padrão de projeto.
Injeção de Dependência é uma das formas de se fazer a Inversão de Controle. Então "Quando utilizar um ou outro" não faz muito sentido.
Mas a confusão é muito comum, não é raro encontrar os termos sendo utilizados indistintamente.
Acredito que explicando um e depois o outro desmistifique essa confusão.
Inversão de Controle (IoC)
Inversão de controle é um comportamento presente quando utilizamos alguns frameworks. Basicamente a idéia é separar *o quê* de *quando*.
Seguem dois exemplos (código abstrato), a forma usual e a com IoC.
Forma usual
perguntarNome()
lerEntrada()
perguntarIdade()
lerEntrada()
SE verificarSeDadosEstaoValidos()
ENTAO cadastrar()
SENAO exibirMensagemDeErro()
Com IoC
quandoPerguntarNome(lerEntrada)
quandoPerguntarIdade(lerEntrada)
paraVerificarValidade(verificarSeDadosEstaoValidos)
paraCadastrar(cadastrar)
quandoHouverErro(exibirMensagemDeErro)
No segundo exemplo desatrelamos o quê será feito com o momento em que será feito; separamos as implementações do fluxo. Dessa maneira fica mais fácil reutilizar ou alterar apenas alguma parte do código (sem que tenha que se modificar/entender *o todo*).
Repare que existe brecha para encaixarmos diversos conceitos de programação, como princípios de orientação a objeto, desenho orientado a eventos, dentre outras coisas.
Pararei por aqui; isto é em sua essência o que chamamos de Inversão de Controle.
Injeção de Dependência
Injeção de Dependência é uma das formas de se realizar a Inversão de Controle.
A técnica consiste em passar a dependência (o serviço) para o dependente (o cliente). Isso é a chamada injeção. O importante é entender que injetamos o serviço no cliente, ao invés de o próprio cliente procurar e construir o serviço que irá utilizar.
Acho que nada melhor que um exemplo prático para entender esse conceito. Segue abaixo um (simplificado) exemplo real que já cheguei a implementar em um dos sistemas em que trabalhei (código em C#):
public interface ILogger
{
void Logar(string mensagem);
}
public class LogEmArquivo : ILogger
{
void Logar(string mensagem)
{
// Loga a mensagem em um arquivo de log
}
}
public class LogPorEmail : ILogger
{
void Logar(string mensagem)
{
// Envia a mensagem por email aos responsáveis
}
}
public class Principal
{
private ILogger _logger;
public Principal(ILogger logger)
{
_logger = logger;
}
// Chamado pelos métodos internos da classe Principal
// quando há necessidade de logar alguma informação
private void LogarInformacao(string informacao)
{
_logger.Logar(informacao);
}
}
A classe Principal
necessita de um ILogger
para funcionar, mas ela não "enxerga" ou constrói a implementação que ela irá utilizar, isso fica a cargo de quem irá construir a classe Principal
. Dessa maneira fica desacoplada a implementação da ação de log com o que quer que seja que a classe principal irá fazer.
Como disse, esse é um exemplo real que cheguei a utilizar. No meu caso, a aplicação possuía no arquivo de configuração uma diretiva indicando qual o ambiente em que ela estava sendo executada (Desenvolvimento, Testes, Homologação, Produção...). Ao iniciar, a aplicação verificava qual o ambiente e, conforme essa configuração, utiliza um logger diferente para cada ambiente. Basicamente em Desenvolvimento e Testes utilizávamos apenas um log em arquivo, enquanto em Homologação e Produção utilizámos envio de email (onde os problemas eram mais sérios).
Em tempo de execução, programaticamente, a aplicação trocava sua implementação de logger a ser utilizada. Essa é uma das vantagens de ser ter o código desacoplado.
Leitura
Um dos precursores a discutir o tema é o autor Martin Fowler. Para quem deseja aprofundar no tema convém ler os artigos sobre o assunto em seu blog:
-
2Pesquisando sobre um comentário de um autor que diz haver outros tipos de IoC além de DI, acabei ficando mais curioso sobre o tema, pois até os meus estudos atuais, só conheço o DI mesmo, porém no artigo Inversion of Control Containers and the Dependency Injection pattern - Forms of Dependency Injection Martin Fowler cita apenas que há 3 formas de DI, além disso não achei outros tipos de IoC.– DelfinoCommented 7/07/2015 às 1:19
IoC
IoC pode até não ser tão criado em projetos comuns, porém ele é muito usado em grande parte das aplicações. IoC é também o Princípio de Hollywood, onde os produtores falam para os atores "não nos chame, nós chamaremos você". Isto significa que um componente/framework toma o controle da aplicação e quando ele precisar da sua intervenção ele chama o que você terá que providenciar. O caso mais comum é um event loop presentes em praticamente todos os mecanismos de jogos e gerenciadores de janelas do mercado. Alguns ERPs também funcionam assim, eles tomam conta de todo o processo e chamam as partes que os "usuários" podem personalizar o funcionamento.
Framework é importante aqui, já que IoC é a base de frameworks.
DI
Injeção de dependência é apenas uma das formas de se aplicar o IoC. Já vi inúmeras definições formais mas o conceito é extremamente simples. Você está fazendo DI quando retira as dependências existentes em uma parte do programa, possivelmente uma classe. Ela facilita o desacoplamento.
A melhor definição de DI é permitir que estados e comportamentos sejam determinados através de passagem de parâmetros. Ou seja, é permitir que você se referencie a uma classe ainda não conhecida durante o desenvolvimento da classe atual. Você elimina a dependência de uma classe específica. Isto pode ser feito através de parâmetros nos construtores, métodos comuns ou em propriedades da classe atual.
Vantagens e desvantagens
Convenhamos que isto é uma enorme facilidade. Serve para flexibilizar a aplicação, inclusive para testá-la já que o teste normalmente precisa ser feito com premissas simuladas. É possível assim criar sistemas de plugins, configurações, mudanças de execução on-the-fly, permite a clara separação de responsabilidades, limpando o código e facilitando o desenvolvimento e manutenção, e permite o desacoplamento das classes.
Mas há quem diga que o desacoplamento total pode trazer outro problema. Você deixa a responsabilidade para o usuário. Eu sou uma destas pessoas que preferem o pragmatismo do que o academicismo. Claro que você pode ter algum caso que este total desacoplamento é realmente importante, mas na maior parte das vezes você só quer a flexibilidade. Então minha postura é criar sim o parâmetro, mas também providenciar uma dependência padrão. Assim o consumidor desta classe (ou função, ou componente) não precisa se preocupar em criar e passar nada como parâmetro quando o que se deseja é fazer exatamente o que aquela parte da aplicação sabe que é apropriado e provavelmente desejado.
A única "desvantagem" disto é que cria uma dependência para a implementação padrão. Mas por que isto é ruim? Eu acho que se fosse ruim nem existiriam frameworks. A flexibilidade é vantagem, a total independência é teoria barata. Você vai prover uma implementação para uma string como parâmetro de tudo que precise de uma string? Tudo tem limite. A diferença entre remédio e veneno é a dosagem.
Obviamente que separar as responsabilidades também significa espalhar as partes pela aplicação, o que dificulta o seu entendimento e eventualmente a manutenção. Legibilidade também tem a ver com organização. Ter as partes espalhadas torna a leitura mais difícil. Especialmente porque você passar ter muitos tipos só para cumprir a injeção e requer o planejamento muito maior do que se está fazendo (que alguns vão considerar vantagem e outros, desvantagem).
Vou exemplificar com o que o talles já fez na resposta dele:
public interface ILogger {
void Logar(string mensagem);
}
public class LogEmArquivo : ILogger {
void Logar(string mensagem) {
//Loga a mensagem em um arquivo de log
}
}
public class LogPorEmail : ILogger {
void Logar(string mensagem) {
//Envia a mensagem por email aos responsáveis
}
}
public class Principal {
private ILogger _logger;
public Principal(ILogger logger) {
_logger = logger;
}
public Principal() {
_logger = new LogPorArquivo();
}
//Chamando métodos privados da classe Principal quando precisa logar alguma informação
private void LogarInformacao(string informacao) {
_logger.Logar(informacao);
}
}
public static Aplicacao {
public static void Main() {
var logArq = new Principal(); //exemplo de uso
var logMail = new Principal(new LogPorEmail()); //exemplo injetando a dependência
}
}
Coloquei no GitHub para referência futura.
O uso destes recursos deve servir a aplicação e não a interesses externos como a necessidade de testes, por exemplo. Quando precisa testar, use um padrão de projeto adequado para testes. Testes podem ser obtidos com boas ferramentas, não com o jeito que se cria código. Organizar o código de um jeito só porque facilita o teste é algo errado, IMHO. Fazer porque facilita a manutenção e por acaso facilita o teste é ok. Se a ferramenta de testes que usa exige uma codificação específica, troque de ferramenta.
Lembrando que devemos sempre programar para a interface e não para a implementação.