TL;DR
Não existe um número mágico para estimar o tempo gasto com testes, assim como não há uma solução mágica para o problema da estimação de software.
Há algum tempo assisti à uma apresentação de um especialista em testes e, em suma, o direcionamento em relação a este assunto foi algo como:
Use um número mágico a princípio e depois ajuste a proporção conforme sua produtividade e o nível de qualidade do projeto.
Sobre estimação de software
Em minha pós-graduação, desenvolvi uma monografia sobre estimação de software. No momento em que escolhi este tema, acreditava que iria encontrar um método mágico para determinar o tempo das atividades de um projeto. Assim que comecei a efetivamente a pesquisar, obviamente eu percebi que havia acreditado num grande engodo.
Um dos livros mais interessantes que li sobre o assunto foi Software Estimation: Demystifying the Black Art de Steve McConnell, cujo título já esclarece muito sobre a essência das estimativas: elas são tentativas de prever o futuro. Estimativas são chutes.
A consequência disso é que não existe, nem nunca existirá, uma regra definitiva para realizarmos a estimação das atividades do desenvolvimento de software. Na verdade, métodos "matemáticos" de estimação (COCOMO, Function Point) acabam confundindo seus usuários no sentido de que estes acabam acreditando que, por se tratar de um método matemático e estatístico, o resultado possuirá em si mesmo acurácia garantida.
É por isso, por exemplo, que metodologias ágeis não usam valores absolutos para estimar, como horas e dias. As story points (pontos de história) são grandezas relativas que podem variar de acordo com a equipe, com o projeto e com cada desenvolvedor individualmente.
Então, cuidado com soluções mágicas que podem tentar lhe vender. Embora algumas técnicas de estimação pareçam melhores, na verdade ninguém pode afirmar absolutamente que determinado método é melhor. Fazer isto seria o mesmo que afirmar que você tem um método para jogar na loteria melhor que outras pessoas, mas o resultado é aleatório.
Existe uma solução?
A técnica mais indicada pelos autores e especialistas em estimação é medir a produtividade.
Individualmente, este é um dos principais objetivos do PSP (Personal Software Process ou Processo de Software Pessoal). Tratando-se de equipes, um dos pilares do Scrum, a Inspeção, deve permitir acompanhar o progresso e a produtividade da equipe.
Embora a estimação, seja dos testes ou de qualquer outra atividade do desenvolvimento de software, seja uma tarefa mais de intuição do que um processo científico, em geral observa-se que as estimativas ficam mais próximas da realidade futura quando nos baseamos em dados históricos.
Estimativa x Compromisso
Um erro comum no dia-a-dia é confundirmos as estimativas com um compromisso por parte dos desenvolvedores.
Por exemplo, vamos imaginar que uma empresa decide estimar os testes com uma regra mágica de 50% do tempo de desenvolvimento. Mas os desenvolvedores percebem que estão gastando muito mais tempo codificando testes. Uma das reações comuns é tentar acelerar o passo ou escrever menos testes do que o planejado para não "atrasar o cronograma", como se a estimativa inicial fosse uma obrigação a ser seguida. O ideal seria revisar a estimativa inicial e não tentar se ajustar a ela, mas na prática...
Frequentemente falta aos gerentes de software firmeza de fazer o pessoal esperar por um bom produto (The Mythical Man-Month, 1975)
A qualidade é um fator determinante
A citação anterior foi extraída de um artigo sobre o Triângulo de Ferro que escrevi há algum tempo. Este conceito, o triângulo, é importante pois demonstra que a qualidade possui uma proporcionalidade com o tempo.
Isso implica em afirmar que mais qualidade exige mais tempo. Por isso, a decisão de investir em mais ou menos testes no início do projeto influenciará diretamente na qualidade final do produto.
Diminuindo o tempo despendido com testes sem prejudicar a qualidade
O título parece contradizer o que acabei de dizer. Mas, se tomarmos o conceito de separação entre atividades essenciais e acidentais do desenvolvimento como faz Brooks em No Silver Bullets, podemos dizer que, embora não haja como evitar os testes sem diminuir a qualidade, podemos diminuir as dificuldades acidentais da criação deles.
Isso pode ser alcançado de algumas formas:
- Treinando a equipe para melhorar a produtividade
- Usando ferramentas mais adequadas que facilitem a criação e execução dos testes
- Investindo na automação
- Usando tecnologias (frameworks, plataformas) que facilitem os testes