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Já vi em alguns lugares que não se deve usar algo assim:

int teste(object obj, bool especial) { ... }

Aí dentro da função alguma operação será feita ou não, dependendo do que receber em especial.

Por que é ruim usar esta forma? O que seria melhor fazer então? Ter duas funções parece um exagero. Em alguns casos pode ficar confuso fazer funções separadas, pode gerar repetição e talvez até quebrar o DRY.

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  • No .Net framework (mscorlib) apenas 1.89% das funcoes disponibilizadas (públicas) tem um boleano como último argumento. Nao quer dizer nada, mas pode ser indicativo de quao comum essa pratica é usada. 6/06/2018 às 11:24
  • @BrunoCosta sim, eu acho que deve-se usar onde cabe mesmo. Mas se analisar coisas novas apenas eu acho que tende a usar bem menos. De fato há muito caso que é abusivo.
    – Maniero
    6/06/2018 às 15:22

6 Respostas 6

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Cada caso é um caso.

Toda vez que eu vejo alguma recomendação do tipo "não faça desta forma", "isto é má prática", "evite isso", eu espero a explicação do motivo logo em seguida. Se não houver um motivo pelo qual a técnica deve ser evitada, eu faço com a recomendação o que eu faço com propagandas no Youtube: ignoro em cinco segundos.

Vou dar um exemplo no qual receber um parâmetro booleano é válido, prático e desejável. Muita gente aqui vai dizer que se você tem um parâmetro booleano, é porque você está fazendo algo do tipo:

public function comprarIngressoCinema(bool tresD) {
    if (tresD) {
        foo();
    } else {
        bar();
    }
}

Então o correto seria criar dois métodos, comprarIngressoCinema e comprarIngressoCinema3D, fim da história, seu código ficou mais limpo e o casal real viveu feliz para sempre.

Quando na verdade o que você tem normalmente é:

public function comprarIngressoCinema(bool tresD) {
    reservarLugares();
    if (tresD) {
        foo();
    } else {
        bar();
    }
    verificarPromocoes();
    pacote = tresD ? especial : normal;
    pagamento(pacote);
    if (tresD) {
        enviarOculosParaSala();
    }
}

Nesse caso, você tem duas formas de lidar com isso. Você pode utilizar a metodologia Go Horse, que prega que você deve se preocupar apenas com o "como" e não se preocupar com coisas como os "porquês":

public function comprarIngressoCinema() {
    reservarLugares();
    bar();
    verificarPromocoes();
    pacote = normal;
    pagamento(pacote);
}

public function comprarIngressoCinema3D() {
    reservarLugares();
    foo();
    verificarPromocoes();
    pacote = tresD;
    pagamento(pacote);
    enviarOculosParaSala();
}

Haverá quem diga que o código ficou melhor porque você tem métodos curtos e mais legíveis. O problema é que a quantidade de código repetido é grande, e tende a crescer com o tempo. Cada vez que você tiver que dar manutenção aí, serão dois métodos para tratar. E vai piorar se você precisar incluir mais opções de cinema como iMax, por exemplo.

A alternativa é fazer como o Martin Fowler (apenas um programador que tem mais de vinte livros publicados sobre padrões de design e arquitetura de software) sugere em seu artigo FlagArgument (em inglês). Foi a partir desse artigo que criei o meu exemplo. Seu código ficaria assim:

public function comprarIngressoCinema() {
    comprarIngressoCinema(false /*tresD*/);
}

public function comprarIngressoCinema3D() {
    comprarIngressoCinema(true /*tresD*/)
}

private function comprarIngressoCinema(bool tresD) {
    reservarLugares();
    if (tresD) {
        foo();
    } else {
        bar();
    }
    verificarPromocoes();
    pacote = tresD ? especial : normal;
    pagamento(pacote);
    if (tresD) {
        enviarOculosParaSala();
    }
}

Nós alteramos o código apresentado como público (que pode fazer parte das interfaces de uma API) para dois métodos sem parâmetros, que de fato é mais legível. Mas nós mantemos um método que recebe um parâmetro booleano. Porque assim como um utensílio de cozinha, uma ferramenta ou qualquer outra técnica de programação, isso tem sua utilidade, e se o efeito de seu uso vai ser bom ou ruim depende da habilidade de quem usa e não da técnica em si.

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  • 4
    Era essa que eu queira :), se ninguém respondesse isso, eu responderia quase idêntico.
    – Maniero
    29/03/2017 às 13:28
  • 2
    Martin fowler sempre salvando :D
    – Marlysson
    29/03/2017 às 13:43
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Porquê é ruim ?

Porque, como já alguns aqui mencionaram, anula o princípio de coesão, onde funções com apenas um propósito, passam a desempenhar duas ou mais tarefas do que as originalmente projectadas, deixando o código difícil de se reestruturar quando necessário, reduz a legibilidade (nem sempre), ou até mesmo duplicação de código ou responsabilidade, porque querendo ou não o código terá antes de verificar o estado do argumento, e escolher um caminho, sempre. Exemplo disso, poderia ser o uso de um método portador desse parâmetro em várias partes do código, onde estaria a verificar e a autorizar a mesma funcionalidade vezes e vezes. Ainda assim não deixa de ser útil em alguns casos.

Pessoalmente já algumas vezes me deparei com esse problema, enquanto fazia rasunhos, e um em especial, onde fui atribuindo flags a um método consoante as minhas necessidades, mas no final era quase doloroso inicializar esse método, porque não conseguia me identificar com as flags que defini, e tive até que criar uma documentação "para um único método", porque mesmo que seja uma única, deve-se sempre saber o que faz.

int public getA(obj n, bool a, bool b, bool c)

O que seria melhor fazer então ?

Usar métodos complementares, ou simplesmente coesos, fazer o uso de enum, ou de forma geral, encapsular.

int teste(object obj, bool especial) { ... }

Por

int teste(object obj) { ... }
() testeEspecial(object obj) { ... }

Claramente o método criado, terá de seguir a mesma lógica de funcionamento que que lhe era atribuída aquando um dos seus estados implicava algo ao método que implementava.

enum Mock {
  mckA,
  mckB;
};

int teste(object obj, Mock tt.mockA) { ... }

Usado desta maneira, pode ser demasiado explícito relativamente aos detalhes de implementação de partes intimamente relacionadas, para partes mais externas da aplicação, já para não falar que o código dentro do método, fará também o uso de estruturas de condição para saber o que fazer. Tirando isso, em comparação aos bool pode-se definir mais de 2 estados ou valores num único enum e continua a ser viável.

int teste(object obj, bool especial, bool existe, bool grande) { ... }

Em casos mais simples, a implementação de uma flag ou argumento booleano aparece dessa forma:

int teste(object obj, bool especial) { 
    if(especial){
      // mais codigo
    } else {
      // mais codigo
    }
 }

Quando, criar diferentes métodos testeEspecial e testeNormal seria bem mais simples e eficiente. Noutros casos onde o uso de flags implica a utilização de várias estruturas de condição, como nesta resposta por exemplo, pode ocorrer duplicação de código.

Ter duas funções parece um exagero. Em alguns casos pode ficar confuso fazer funções separadas, pode gerar repetição e talvez até quebrar o DRY.

Como já antes disse, e realmente é o que eu acho, nem sempre é, por isso é relativo a situação.

Se for usado um argumento do tipo bool para activar certa funcionalidade em um método que eventualmente passará a desempenhar 2 ou mais funções além das originalmente pretendidas (sem grande importância), e ao mesmo tempo declarares essa mesma funcionalidade em outro método, estaria a se criar uma duplicação do código. A verdade é que vai sempre existir um parte do código que se repete, o objectivo é evitar que isso aconteça, sempre que possível.

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Não dá para generalizar e definir que qualquer parâmetro boolean é um problema. Se é um problema ou não, vai variar do objetivo, contexto ou mesmo tamanho do método/classe que está recebendo este parâmetro booleano. E para resolvê-lo, também irá depender se estamos falando de uma classe ou método recebendo este parâmetro.

Casos mais simples: poucos parâmetros

Por exemplo, se eu estiver querendo popular um objeto Saldo:

new Saldo("1.12", false);

O primeiro parâmetro é o valor do crédito e o segundo é um booleano indicando se o saldo entrando está bloqueado ou não.

Para um caso assim, simples e direto, este booleano não vai lhe gerar dores de cabeça ou confundi-lo no uso da classe.

Agora vamos ao método. Usando seu exemplo, teríamos uma chamada deste método assim:

teste(objeto, false);

Assim como ocorre com a classe, são poucos parâmetros e geralmente não criará confusões. Claro que quando vemos simplesmente um parâmetro false, não temos qualquer indicação do que aquilo significa fora da classe e método. Nestes casos simples, uma simples extração de variável pode ajudar:

 new Saldo("1.12", isSaldoBloqueado);
 teste(objeto, isEspecial);

Algumas linguagens também contam com named parameters, o que ajuda muito no entendimento do código e substitui esta técnica de extração de variável. Outras IDEs, como o Intellij IDEA do Java, por padrão mostram o nome das variáveis booleanas internas do método na sua chamada (simulando um named parameter), facilitando muito o entendimento do código.

Em casos simples assim, acabo sendo mais prático ao invés de tentar quebrar em vários métodos ou classes o código apenas para tentar sumir com o boolean. Não estou dizendo que deixar assim é uma boa prática, mas não quero ser extremista a ponto de falar que isto não deve existir em hipótese alguma no código. Mas, sem dúvida, são códigos que merecem atenção.

Deixemos isto para os casos mais complexos, explicados a seguir.

Casos mais complexos: muitos parâmetros

Quando temos muitos parâmetros, a situação muda de figura. Imagine a seguinte instanciação de classe e chamada de métodos:

new Saldo("1,23", true, false, false);
teste(objeto, true, dataLimite, true, false);

Embora possa extrair algumas variáveis e melhorar a situação, nem sempre o resultado é satisfatório. Por ter mais variáveis booleanas, as chances de se confundir são maiores e, principalmente no caso do método, temos um inicio de bad smell: provavelmente este método está fazendo coisas demais ou o código internamente está confuso.

Como resolver nos objetos?

Nos objetos, normalmente é mais simples resolver. Você tem duas opções:

  1. Quebrar em mais classes, distribuindo melhor as responsabilidades
  2. Usar um pattern como Builder.

Ou seja, para um objeto inicialmente assim: new Saldo("1,23", true, false, false);, poderíamos refatorar para ter:

new Saldo("1,23", new Bloqueado(true, dataLimite), new Composto(false, false));

Podendo usar, também, a própria presença do objeto ou não para compor o conteúdo do próprio objeto e usando diferentes construtores para isto. No exemplo acima, poderíamos ter dois construtores para Saldo, um deles aceitando o Bloqueado e o outro não.

Outra alternativa:

Saldo.builder
    .valor("1,23")
    .bloqueado(true)
    .dataLimite(dataLimite)
    .saldoComposto(false)
    .saldoCompostoBloqueavel(true)
    .build();

Particularmente não gosto do Builder se existir a possibilidade de refatorar para separar em mais objetos as informações. Com o Builder, você pode facilmente esquecer de definir uma das informações acima e quebrar seu código sem perceber.

Agora, no caso de métodos, as coisas podem complicar um pouco.

Como resolver em métodos?

Com os métodos, temos mais opções, mas nem todas parecem boas. Vamos começar com um exemplo.

public String enviar (String mensagem, boolean erro) {

   if (!erro) 
      service.enviarSucesso(mensagem);
   else 
      service.enviarErro(mensagem);
}

Este método tem mais de uma responsabilidade. A chamada do mesmo seria:

enviar("mensagem", true);

Só quer você não quer ter este boolean. Para resolver este caso, você pode passar a responsabilidade para quem chama o método decidir:

enviarErro("mensagem");
enviarSucesso("mensagem");

Desta maneira, os métodos farão apenas uma única coisa (única responsabilidade). Contudo, isto pode resultar apenas em transferência da condição (mudar o if de classe), dependendo do código.

Outra alternativa, mais OOP, poderia ser:

Mensagem mensagem = new Sucesso("mensagem");
Mensagem mensagem = new Erro("mensagem");

Inclusive, no caso de uso de classes orientadas à objetos, técnicas como Decorator podem eliminar vários parâmetros booleanos, como demonstrado anteriormente no exemplo do Saldo.

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    Não dá para generalizar e definir que qualquer parâmetro boolean é um problema Eu faço a pergunta provocativamente mesmo, mas é bom dizer isso mesmo ;). Ainda vou ler com calma antes de votar, mas não gosto muito da ideia "aqui deveria não ser um booleano, mas é simples vou usar um assim mesmo". Mas depois mostra o adequado.
    – Maniero
    2/06/2018 às 16:50
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A divisão desta função em funções menores produzirá mais coesão, ou seja, uma função que faz uma coisa só. Dentro dessa função acabará tendo um if para verificar a condição e fazer a próxima ação necessário, não seria mais fácil dividi-la para ficar mais clara e reutilizável?

Veja o codigo:

int teste(object obj, bool especial) { 
   if(especial) {
      ...
   } else {
      ...
   }
}

Em termos de escrita será quase a mesma coisa, porém as funções estão separadas, facilitando caso você queira no futuro executar a função teste2() para outras operações.

int teste(object obj) { 
   if(condicao) {
      teste2();
   }
}

void teste2() {
   ...
}

Ou talvez:

int teste(object obj) { 
   if(teste2()) {
      ...
   }
}

boolean teste2() {
   ...
}

Portanto utilizar uma variável booleana pode não ser a melhor prática, mesmo escrevendo uma função a menos, pois nem sempre ficará mais clara e contextualizada com a operação principal da função.

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Porque o código fica pouco indutivo, por exemplo , se alguém for dar manutenção ao seu código hoje, como esta pessoa vai saber o motivo daquele parâmetro booleano estar ali ? se for verdadeiro ou falso oque irá mudar ? Seria melhor usar uma enumeração ou constantes estáticas, desde que tenha um nome indutivo. Outra opção seria separar este método em 2 funções com nome que indique a diferença. Lembre-se também de sempre inserir comentários no seu código por garantia, porém sempre deixando o código intuitivo de maneira que não precise do mesmo. E mantenha documentação atualizada do código.

//enumeração
public enum OptionsEnum{
    EXECUTE_ALL,
    EXECUTE_PARTIAL;
}
test(obj, OptionsEnum.EXECUTE_ALL); 
test(obj, OptionsEnum.EXECUTE_PARTIAL); 


//constantes estática
public class Options{
    public final static int EXECUTE_ALL = 0;
    public final static int EXECUTE_PARTIAL = 1;
}
test(obj, Options.EXECUTE_ALL);
test(obj, Options.EXECUTE_PARTIAL);

//funções separadas
public testAll(Object obj){... ; testPartial(obj);}
public testPartial(Object obj){ ...}
testAll(obj);
testPartial(obj);
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Utilizar parâmetro booleano evidencia que a função faz mais de uma coisa.

public static String render(PageData pageData, boolean isSuite) throws Exception {
   return new SetupTeardownIncluder(pageData).render(isSuite);
}

Uma chamada de método com somente um parâmetro do tipo booleano é bastante confusa:

render(true);

O ideal é separar em funções menores tornando o código mais legível:

renderForSuite();
renderForSingleTest()

Referência: Clean Code: A Handbook of Agile Software Craftsmanship

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