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Em programação Python é comum ouvir o termo pythônico (ou pythonic), veja:

O que significa o termo pythônico e o que diferencia um código não-pythônico de um código pythônico?

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O que é Pythonico?

A expressão pythonico, originada no inglês, pythonic, é uma expressão vaga, isto é, sem um significado exato. Geralmente é utilizada para referenciar um código idiomático em Python. O termo ficou famoso e mundialmente utilizado principalmente pelo sucesso que o Python faz com algumas soluções extremamente simples. Já cheguei a ouvir citações dizendo: "se você não fez em uma linha de código, você fez errado". Claro que isso não é literal, mas expressa bem como é a abordagem da linguagem.

O que faz um código ser considerado pythonico?

Criado com Tim Peters, um BDFL da linguagem Python, e extremamente bem recebido pela comunidade, o grupo de 20 aforismos conhecido como The Zen of Python (PEP 20) é o ponto principal para definir se um código é idomático ou não. Definido pelo próprio Guido van Rossum, criador da linguagem, como a perfeita descrição da filosofia do Python, basta fazer um código consistente com todos os aforismos para ter um código idiomático. São eles:

(1) Beautiful is better than ugly.

Bonito é melhor que feio.

(2) Explicit is better than implicit.

Explícito é melhor que implícito.

(3) Simple is better than complex.

Simples é melhor que complexo.

(4) Complex is better than complicated.

Complexo é melhor que complicado.

(5) Flat is better than nested.

Plano é melhor do que aninhado.

(6) Sparse is better than dense.

Esparso é melhor que denso.

(7) Readability counts.

Legibilidade conta.

(8) Special cases aren't special enough to break the rules.

Casos especiais não são especiais o bastante para quebrar as regras.

(9) Although practicality beats purity.

Ainda que praticidade vença a pureza.

(10) Errors should never pass silently.

Erros nunca devem passar silenciosamente.

(11) Unless explicitly silenced.

A menos que sejam explicitamente silenciados - vide aforismo 2.

(12) In the face of ambiguity, refuse the temptation to guess.

Diante da ambiguidade, recuse a tentação de adivinhar.

(13) There should be one-- and preferably only one --obvious way to do it.

Deveria haver um — e preferencialmente só um — modo óbvio para fazer algo: o modo pythonico.

(14) Although that way may not be obvious at first unless you're Dutch.

Embora esse modo possa não ser óbvio a princípio a menos que você seja holandês.

(15) Now is better than never.

Agora é melhor que nunca.

(16) Although never is often better than right now.

Embora nunca frequentemente seja melhor que agora.

(17) If the implementation is hard to explain, it's a bad idea.

Se a implementação é difícil de explicar, é uma má ideia.

(18) If the implementation is easy to explain, it may be a good idea.

Se a implementação é fácil de explicar, pode ser uma boa ideia - mas não necessariamente.

(19) Namespaces are one honking great idea -- let's do more of those!

Namespaces são uma grande ideia — vamos ter mais dessas!

Se reparar, o aforismo 7 indica que legibilidade do código é algo importante. De fato, é, tanto que um dos principais itens levados em conta pelo Guido van Rossum ao criar a linguagem foi que o código devesse ser legível aos humanos na mesma facilidade que uma máquina conseguisse lê-lo. Isto é, as estruturas deveriam seguir uma organização que se aproximassem ao máximo da escrita cotidiana do desenvolvedor, utilizando os blocos de indentação para gerenciar contextos. A formatação do código é tão importante no Python que a principal Python Enhancement Proposals (PEP) é a que define o guia de estilos para códigos Python: PEP 8. E ninguém mais indicado que o próprio criador da linguagem para definir o que é melhor para ela, certo? O documento é relativamente longo e inviável transcrevê-lo aqui, mas isso não deve reduzir sua importância. Para facilitar, você pode instalar em seu editor algum componente relacionado ao Python Lint que provavelmente ele te guiará conforme todas as recomendações da PEP 8.

Exemplos

Segue abaixo uma lista de exemplos simples que são considerados e aceitos pela comunidade como pythonicos.

  1. Permutar valores em variáveis

    Outras linguagens:

    int x = 1,
        y = 2,
        temp;
    
    temp = x;
    x = y;
    y = temp;
    

    Em Python:

    x = 1
    y = 2
    
    x, y = y, x
    

    O código funciona pois o que na verdade ocorre é um tratamento de tuplas. A sintaxe do lado direito, y, x, gera uma tupla de dois valores (tuple packing). Já a sintaxe do lado esquerdo faz o oposto (tuple unpacking), atribuindo cada posição da tupla à uma variável, fazendo com que x receba o valor de y e y o valor de x.

  2. Declaração de switch?

    Outras linguagens:

    int num = 3;
    
    switch (num) {
        case 0:
            ...
        case 1:
            ...
        case 2:
            ...
        default:
            ...
    }
    

    Não existe uma construção switch no Python. O modo pythônico de fazer é usando um dicionário.

    opcoes = { 
        1: uma_funcao_qualquer,
        2: outra_funcao_qualquer,
        3: mais_uma_funcao
    }
    

    E chamar a função assim:

    opcoes[variavel_inteira]()
    

    Desta forma, opcoes[variavel_inteira] retornará a respectiva função e será executada imediatamente devido aos () no final da linha.

  3. Declaração de do .. while?

    Para a validação de um valor de entrada do usuário, por exemplo, é comum que tenhamos que ficar pedindo um novo valor até que o mesmo seja válido. Em outras linguagens há a estrutura do..while, mas em Python não. Veja o exemplo para a leitura de um valor natural:

    Outras linguagens:

    int num;
    
    do {
        scanf("%d", &num);
    } while (num < 0);
    

    Python:

    while True:
        num = int(input())
        if num >= 0:
            break;
    

    Ou seja, em Python cria-se um loop infinito com while True e internamente é verificado se a condição desejada foi satisfeita, encerrando o loop com break.

  4. Percorrendo uma lista com chave/valor:

    É bastante comum que tenhamos que percorrer uma lista de valores utilizando tanto a chave quando o valor desta lista. Algumas linguagens fornecem a estrutura foreach que retorna o par chave/valor, porém no Python, a estrutura for retorna apenas o valor.

    Outras linguagens:

    int seq[5] = {0, 1, 2, 3, 4};
    
    for (int i = 0; i < 5; i++) {
        printf("%d, %d\n", i, seq[i]);
    }
    

    Python:

    seq = [0, 1, 2, 3, 4]
    
    for key, value in enumerate(seq):
        print(key, value)
    

    O acesso ao par chave/valor é feito através da função enumerate, que retorna uma tupla de dois valores: o primeiro a chave e o segundo o valor. Dentro da estrutura do for é feito uma tuple unpacking para as variáveis key e value.

  5. Testando Vazio/Nulo:

Em Python, toda e qualquer variável testada como booleano devolve False nos seguintes casos:

  • False
  • None
  • 0, seja qual for o tipo numérico
  • Sequências vazias ('', (), [])
  • Mapeamentos vazios: {}
  • Instâncias de classes "vazias", cujas classes implementem ou __nonzero__() (e devolvam False) ou __len__() (e devolvam zero).

Isso é útil para testar sequências com valores vazios, falsos ou zerados:

for item in lista:
    if item: print(item)
  1. Percorrer linhas de um arquivo

    Python:

    with open("/tmp/arquivo.txt") as file:
        for line in file:
            print(line) # line possui o conteúdo de cada linha
    

    Para mais detalhes do with, leia Para que serve o with no Python?. A função nativa open retorna um generator que iterará sobre o arquivo, desta forma é possível utilizar o objeto diretamente em um laço de repetição, sem ter que armazenar o conteúdo inteiro do arquivo em memória.

Referências e leituras obrigatórias

[1] The Zen of Python: https://www.python.org/dev/peps/pep-0020/

[2] Style Guide for Python Code: https://www.python.org/dev/peps/pep-0008/

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    Muito boa sua resposta, Anderson. Só acrescentar que o texto "The Zen of Python" também é uma PEP (Python Enhancement Proposal), é a PEP 20. 25/05/2017 às 20:08
  • 1
    Eu costumo usar if/elif/else no lugar do switch.
    – Gabriel
    19/07/2018 às 18:19
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A maneira "tradicional" - se é que eu posso chamar assim - de escrever um código da maneira que conhecemos pode ser simplificado usando Python, quando você olha a estrutura de um loop construído em Java ou C:

Em C por exemplo:

//aloca 1000 posições
int vetor[1000]; 

for( int i=0; i < 1000; i++) {
    vetor[i] = i;
}

É um for tradicional que preenche as 1000 posições do vetor conforme vai incrementando até o final. Esse código pode ser escrito em Python, certo?

Seguindo a mesma estrutura do C, em Python:

#aloca 1000 posições
vetor= [None] * 1000

for i in range(1000):
    vetor[i]=i

A grosso modo, Python é conhecido por ser uma linguagem de rápido desenvolvimento, como dizemos por aí: "rápido e rasteiro" quando você faz um for em Python da maneira que te mostrei, não está errado, ele funciona, mas não é considerado uma maneira pythônica, você esta desperdiçando as vantagens que a linguagem te dá. Você pode fazer isso de outra maneira, mais simples, mais rápido, mais prático, mais organizado, etc... Veja o que é considerado uma maneira pythônica de fazer o mesmo for:

vetor = [i for i in range(1000)]

O que diferencia um código não-pythônico de um código dito pythônico?

Tá ai um exemplo prático, você aproveitou os artifícios da linguagem para fazer a mesma coisa em uma só linha, você está usando as vantagens da linguagem no seu código, se você olhar no wiki do Python, veja as prioridades da linguagem:

Prioriza a legibilidade do código sobre a velocidade ou expressividade. Combina uma sintaxe concisa e clara.

Tá aí uma explicação menos teórica e mais prática :-)

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  • 1
    Ótima explicação também, com um exemplo prático. 25/05/2017 às 20:14
  • 1
    eu faria vetor = list(range(1000))
    – JJoao
    21/09/2018 às 14:04
  • 1
    @JJoao a intenção não foi mostrar como criar um vetor de 0 até 1000, a intenção foi demonstrar como fazer um for(loop) de maneira Pythônica ....
    – ederwander
    21/09/2018 às 15:25
  • @ederwander, eu sei, eu sei. A tua resposta está optima (+1). Eu só comentava porque implicitamente à noção "pytónica" para mim há associada algo de comparativo, e de "não há uma solução mais pythónica que" :-)
    – JJoao
    24/09/2018 às 8:25
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As expressões idiomáticas de uma linguagem de programação são definidas por seus usuários. A comunidade Python concebeu e vem utilizando o adjetivo pythônico para descrever qualquer código que siga um estilo em particular. Os desenvolvedores Python preferem ser explícitos, escolhem o simples em vez do complicado e maximizam a legibilidade.

Quando você vem de outra linguagem de programação para o Python, querendo ou não, você vem com o sotaque das outras que aprendera, e passa a escrever seu código em Python como se fosse nelas.

Siga o Guia do Estilo PEP 8, que é o guia de estilo para formatar o código em Python. Você pode escrever o código em Python da maneira que bem entender, desde que a sintaxe seja válida. Contudo empregar um estilo consistente deixa seu código mais fácil de ler e distribuir.

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Pythonico significa idiomático.

Código idiomático é aquele que é escrito usando as estruturas e convenções mais comuns de uma determinada linguagem.

Exemplo:

A maioria dos programadores Python escreve:

for elemento in minha_lista:
    #faca alguma coisa

Ao inves de:

   for i in range(0, len(minha_lista)):
       #faca alguma coisa

A idea de escrever código idiomatico é que as pessoas vão entender o seu trabalho mais facilmente.

Não existe uma pessoa ou entidade que define 100% o que é Python idiomatico, mas boa parte da maneira que as pessoas escrevem Python vem da:

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