O uso de uma flag volatile
, como apresentado na questão, não traz benefício algum além de uma sensação por parte do desenvolvedor de ter em suas mãos o "controle" de execução. :)
A API de Threads do Java implementou uma flag de uso genérico para gerenciar interrupção de threads "pausadas".
Se uma thread está pausada numa chamada a Object#wait()
, Thread#join
ou Thread#sleep
, o método interrupt()
é capaz de "acordá-la". Na prática, é como se houvesse ocorrido um erro na chamada a um desses métodos e ele lançasse a exceção InterruptedException
.
Determinadas operações de entrada e saída (I/O) também podem ser afetadas, por exemplo as que usam InterruptibleChannel
.
A implementação da flag de interrupção é nativa, portanto a JVM pode utilizar mecanismos mais otimizados para comunicação entre as threads.
Portanto, se usada corretamente, a API provê mecanismos avançados para interromper a execução de uma thread mesmo quando há operações demoradas sendo executadas, como acesso a arquivos e rede.
Interrupções e laços
Tal flag também é comumente usada para interromper laços, como no exemplo da pergunta.
O único perigo em se fazer isto é não controlar o estado da flag de interrupção devidamente.
Por exemplo, se você tratar a exceção de interrupçã:
public void run() {
while(!Thread.interrupted()) {
// Começa algo
try {
// Faz algo que pode lançar InterruptedException
} catch (InterruptedException e) {
log.error(e);
}
// Finaliza algo
}
}
O código acima vai resultar num laço infinito porque capturar a exceção limpa a flag e a condição de saída do laço será sempre falsa!
Por causa disso, se houver necessidade de capturar tal exceção, em geral recomenda-se que se restaure a interrupção no catch
, assim:
public void run() {
while(!Thread.interrupted()) {
// Começa algo
try {
// Faz algo que pode lançar InterruptedException
} catch (InterruptedException e) {
Thread.currentThread().interrupt();
log.error(e);
}
// Finaliza algo
}
}
Como o tratamento da exceção pode estar "escondido" dentro de outro método, alguns recomendam, por precaução, sempre chamar o interrupt
dentro de um catch
que capture tal exceção.
Flag volatile
Controlar manualmente com uma flag possui algumas desvantagens, dentre as quais eu considero as piores:
- Necessário o compartilhamento de variáveis. As threads precisam se comunicar diretamente, aumentando o acoplamento.
- Incapacidade de interromper threads em espera.
- Desenvolvedores que não entendem o
volatile
. Alguns tentam imitar o uso e se esquecem do modificador, podendo levar a condições de corrida e comportamentos inesperados.
Por outro lado, há vantagens nesta abordagem:
- Se a flag não for simplesmente um
boolean
, isto é, se existe algum objeto mais complexo que é compartilhado. Por exemplo, no caso de threads consumindo uma fila, a "flag" pode ser a fila estar vazia.
- Se um número arbitrário de threads depende da mesma flag.
- Se não é desejado que não ocorra interrupção imediata da atual iteração da thread. Pode ser, por exemplo, que o objetivo seja apenas finalizar o laço, mas qualquer operação aguardando por
wait
ou join
deve continuar até o final.
- O uso de uma flag num laço trivial como da questão é mais simples de entender, comparado com a API.
API confusa
Infelizmente, a API para controle de interrupção do Java é um tanto confusa. Compare os métodos disponíveis:
Thread.interrupt()
: interrompe uma thread. Deve ser chamado diretamente num objeto, que pode ser a thread atual (como no exemplo mais acima) ou alguma outra thread, caso você queira interrompê-la. Este método ativa a flag de interrupção.
Thread.isInterrupted
(): verifica se a flag de interrupção está ativa para uma dada thread. Também deve ser chamado num objeto, que pode ser a thread atual ou outra thread.
Thread.interrupted()
: retorna o estado da flag de interrupção e limpa a flag. Este é um método estático da classe, portanto é chamado sem um objeto e sempre faz referência à thread atual.
Os dois primeiros métodos fazem muito sentido, mas o último é um tanto estranho, pois uma vez que seja invocado ele efetivamente limpa a flag. isto leva a situações inusitadas como quando uma expressão booleana usada num if
modifica o estado e o código a seguir "vê" outros valores.
Considerações
Minha sugestão é utilizar a API por padrão, quando isto se aplicar ao problema. Se houver uma necessidade mais específica, uma solução manual é necessária e não há problemas com isto.
Não é errado usar uma flag, mas para um desenvolvedor maduro é importante aprender a usar a API do Java - ou qualquer linguagem que usa. Faz parte disso evitar soluções ad hoc quando possível.