A recomendação inicial é sempre usar o recurso existente na linguagem até que exista um motivo para não usar.
Funcionamento da propriedade
Entenda que uma propriedade é apenas syntax sugar, ou seja, na prática o compilador transforma uma propriedade em dois métodos. Por exemplo, se criar uma propriedade do tipo string
chamada Nome
, na verdade internamente terá um campo privado com nome semelhante a __Nome
e dois métodos com nomes próximos a string __getNome()
e void __setNome(string value)
.
A implementação do primeiro deve ser apenas return __Nome;
e do segundo __Nome = value;
Otimização
Algumas pessoas devem olhar para isso e achar que chamar um método e fazer o set
ou get
é mais lento que acessar o campo direto. Mas isso pode não acontecer porque provavelmente o compilador JIT vai otimizar e acabará fazendo o acesso direto ao campo, eliminando a chamada ao método. E se não conseguir fazer a otimização, deve haver um bom motivo para isso.
Então, inicialmente não há razão para criar métodos getNome()
e setNome()
manualmente. Nenhuma vantagem. Pode ter a desvantagem de alguém não entender porque você fez isso.
Quando não usar
Existem algumas situações que um método é preferível, mas não necessariamente a troca pura e simples da propriedade por um par de métodos get e set. A questão é saber se algo deva ser uma uma propriedade simples ou algo mais abrangente.
Uma propriedade:
- deve ser simples, não deveria executar operações complexas;
- não deveria lançar exceções explícita ou implicitamente através de chamadas a outros métodos internamente, principalmente o get deve fornecer um resultado sempre;
- não pode demorar (provavelmente poucos nanosegundos são recomendados);
- evita efeitos colaterais extras (mudar estado de outras propriedades);
- não é uma conversão de dados;
- costuma ser determinística;
- não retorna uma cópia de estado interno a não ser que seja um tipo por valor;
- não retorna um objeto muito grande, em geral um array.
O programador espera que uma propriedade seja tão trivial quanto pegar ou colocar um valor em uma variável. Se o código da propriedade não atender as diretrizes acima é provável que ela não seja uma propriedade mesmo. Mas nada é tão preto no branco.
Acesso a dados grandes ou externos
Se você vai criar uma propriedade chamada Clientes
que devolve uma lista de clientes obtidos através de uma consulta ao banco de dados. Isto não é uma propriedade.
Algo que é complexo, faz acesso a recursos externos, pode ter várias exceções, é demorado (milissegundos é uma eternidade) não pode ser uma propriedade. Em casos assim, um método é mais adequado porque o programador espera que um método seja algo mais complexo e que muitas coisas podem ocorrer nele.
Então a solução é criar um campo Clientes
e um método getClientes()
?
Até pode ser a solução. Mas entenda que não é uma substituição direta da propriedade, é outra operação. Por isso seria bom até ter um outro nome e mais sugestivo do que ele faz. Por exemplo ObtemTodosClientesNoDB()
ou ObtemClientesSelecionadosNoDB()
. Se vai guardar o resultado em um campo privado da classe ou só retornar para quem pediu, vai da necessidade.
Se você está pensando em qualquer lógica não trivial de acesso e atribuição do valor, provavelmente não está pensando em propriedade.
Mudança de estado
Se uma propriedade não deveria mudar seu valor por conta própria. Muitas vezes vemos até o .NET errando nisto. Por exemplo a propriedade Now
da classe DateTime
não tem um valor estável. Então a recomendação seria utilizar um método (provavelmente DateTime.GetCurrentDateTime()
) e não uma propriedade.
Há controvérsias se um campo de um banco de dados deveria ser representado por uma propriedade. O campo pode ser alterado por outros agentes externos a sua aplicação executando naquele momento. Ele não é estável. Por outro lado um campo tem a cara de uma propriedade. Você não acessa campos em um DB com métodos, você acessa com o nome do campo ou atribuição a este nome. Porém algumas classes representam uma imagem de um dado do banco de dados na memória e não o exato registro. Se pensar desta forma, você não está violando a recomendação da estabilidade do seu conteúdo. De qualquer forma, recomendações foram criadas para serem violadas quando há bom motivo para isto.
Propriedades não deveriam ter estado mutável. Por isso não deveria ser estruturas complexas, especialmente coleções de dados. Mas sempre há exceções.
Pense nos campos (estado) e os métodos (comportamento) que uma classe deve ter. Daí transforme seus campos em propriedades. Essa é uma "regrinha" que ajuda definir o que é o que. Se por acaso sua propriedade exige alguma lógica simples no get
e/ou no set
, aí você implementa.
Uma propriedade é melhor que um campo público
Pelo menos pode dar mais flexibilidade para manutenção futura. Mas nem sempre essa flexibilidade é necessária.
Contrato e abstração
Um campo público não pode ser substituído sem quebrar o "contrato" da classe. O acesso ou atribuição de valor em um campo não pode ser "interceptado" para executar alguma coisa diferente no processo de obtenção ou atribuição de valor, muito menos colocar uma intervenção dessas depois que o campo já foi disponibilizado publicamente para outros usarem. Não dá para fazer isso sem quebrar o contrato.
Então com a propriedade, que costuma ser pública, você encapsula o campo privado (detalhe de implementação), esconde a implementação concreta e publica apenas a abstração. Mesmo que não tenha nada o que fazer com a propriedade, ter isso desde o início na criação da classe permite que no futuro você possa alterar o comportamento dela sem quebrar nenhum contrato.
Por isto que só o JITter faz a otimização, ela é feita até o último momento, a otimização é feita levando em consideração, inclusive, o versionamento da sua aplicação.
O que é válido fazer em uma propriedade
Normalmente o máximo que uma propriedade possui de código é uma validação antes da atribuição, um cálculo simples antes de retornar um resultado, uma gravação no log, uma verificação de cache, etc. Quando tem!
Algumas pessoas acham que a utilização de cache em propriedade deveria ser desincentivada porque a primeira execução pode ser lenta. Mas há outra corrente que pensa que todas os demais acessos são muito rápidos e por isso a propriedade cai como uma luva. A propriedade apenas lê o valor armazenado no cache exceto no primeiro acesso que pode executar um processamento mais complexo. Eu gosto desta última, até porque isso já é bem comum em várias classes. Me parece uma boa exceção.
O que não fazer
Uma propriedade deve ser vista como uma substituta para uma campo público. Não como substituta de métodos. Se esses métodos não estão fazendo estritamente operações ligadas de forma direta a um campo privado específico, então eles não deveriam ser pensados como propriedades.
Não há nenhum problema em ter métodos getIsso()
ou setIsso()
independentes se eles executam operações que vão além de simplesmente acessar e atribuir valores para um campo.
Simplificação
Note que a forma mais comum para declarar uma propriedade é
public string Nome { get; set; }
Ou seja, praticamente é o mesmo que declarar um campo público, mas tem a vantagem da abstração, isto é, permite que no futuro você adicione alguma lógica no get
e/ou set
. É raro usar lógica dentro desses elementos.
Com a propriedade você facilita a compatibilidade de fonte e binária. Além disso ganha capacidade de reflexão que um campo não tem. E é mais fácil debugar uma propriedade (campos não podem ter breakpoint) - recurso melhorado no Visual Studio 2015.
Contraponto
O que muitas pessoas não percebem é que sistemas muitos simples que serão usados para poucas coisas, que a manutenção dele será quase inexistente e feita por uma pessoa, isso não é tão importante assim. Em sistemas assim pode ser melhor ir na solução mais simples que é deixar o campo público mesmo. A não ser que você saiba de antemão que vá precisar de algum processamento no acesso ou atribuição. Mesmo que um dia você tenha que alterar um acesso, em um sistema simples, mudar todos os locais de uso é bem fácil, ainda mais se estiver usando o Visual Studio e mais ainda com Resharper.
Claro que se o sistema complicar um pouquinho vai te obrigar mexer nisso para dar mais tranquilidade de manutenção. Então tenha certeza que o sistema vai permanecer simples antes de fazer acesso direto.
Seu problema específico
getDia
, getMes
, getAno
e isBissexto
seriam suas propriedades, certo? Vamos mudar um pouco os nomes delas. Dia
, Mes
, Ano
e isBissexto
. Pronto, agora fica mais condizente. Onde você guarda o dia chama Dia
, onde guarda o mês, chama Mes
e p/ guardar ano, chama Ano
. Por fim onde você determina se é bissexto, chama isBissexto
.
Estilo de código
É padrão adotado por boa parte dos programadores que valores booleanos tenham sempre um "Is" (ou "Eh" para quem gosta de aportuguesar, ou É
para quem gosta de acentos) antes do nome da propriedade para deixar claro que ali é um valor binário true ou false. A propriedade poderia muito bem chamar apenas Bissexto
, mas um IsBissexto
ou EhBissexto
deixa mais claro que o que está guardado lá é se "é ou não é".
Exemplo
Então vamos supor que queira que algum código de fora da classe não possa setar essas propriedades, elas seriam implementadas assim:
public byte Dia { get; private set; }
public byte Mes { get; private set; }
public byte Ano { get; private set; }
public bool IsBissexto { get; private set; }
Lembre-se que não convertemos um método para uma propriedade, convertemos um campo para uma propriedade.
Raciocínio correto
Seu raciocínio sobre o IsBissexto
está correto. Mesmo que exista uma lógica para obter se o ano é bissexto ou não, ele ainda é uma propriedade. De fato pode ser que o IsBissexto
nem tenha o que chamamos de backing field, que é um campo privado que guarda um valor. É como se o IsBissexto
fosse um campo virtual. Ele consegue te dar o resultado calculando algo. Uma implementação simplificada (calcular bissexto é mais complicado que isso) seria:
public bool IsBissexto {
get {
return (Ano % 4 == 0);
}
}
Na classe da prova, realmente tudo ali parece ser propriedade. Claro que você poderia ter, hipoteticamente, um método AceitarResposta()
que não só colocaria uma valor em repostaAluno
mas também aproveitaria para atualizar acertos
e talvez mais uma ou outra coisa que fossem necessárias quando uma resposta é aceita na instância do objeto. Se esse AceitarResposta
opera em várias propriedades, se ele faz mais que apenas atribuir um valor para uma propriedade específica, ele é claramente um método, um comportamento da classe.
Classes pobres (anêmicas)
Não há problema se uma classe tenha só propriedades. Não é tão comum, mas existem casos assim.
Claro que não entramos na questão do construtor da classe. Nestes casos é comum ter pelo menos um construtor para setar os valores inciais das propriedades quando um objeto desta classe é criado. Mas aí já é outro assunto.
C# moderno
Em C# 6 isso é mais fácil e até pode, em certos casos, dispensar a existência de um construtor específico. Em C# 6 uma propriedade pode ter um inicializador:
public Decimal Nota { get; set; } = 0.00M;
Em C# 9 é possível deixar a propriedade apenas ser inicializada:
public Decimal Nota { get; init; };
Propriedade que faz processamento
A única ressalva que faço é na questão de haver lógica ou não. Uma propriedade pode ou não ter lógica (conceitualmente ela sempre tem a implementação indicada na segunda seção deste texto).
O que a lógica contida nela executa é que determina se é uma propriedade de fato ou deveria ser um método. Nos casos citados a lógica possível existente é só algo simples para dar acesso a informação, um cálculo com membros da classe. Eventualmente se o set
estiver disponível você poderia implementar assim:
private byte mes;
public byte Mes {
get {
return mes;
}
set {
if (value > 0 && value <= 12) {
mes = value;
}
}
}
Note que nos casos que você implementa uma lógica no set
ou no get
, não pode usar a forma compacta da sintaxe da propriedade. Neste caso deve declarar um campo privado (normalmente se usa o mesmo nome que a propriedade, só que iniciando com minúscula) e depois declarar o corpo do método (porque esse set aí em cima é um método disfarçado).
value
é uma "variável" de contexto. Dentro de um set
sempre existe esse value
e ele sempre é do mesmo tipo da propriedade. Ele é o parâmetro do set
que recebe o valor que você passou com sintaxe de atribuição.
Então usar:
objeto.Mes = 3;
internamente será algo parecido com
objeto.__setMes(3);
Exemplo de uso errado
Um último exemplo para refletir como uma propriedade pode ser errada se ela está tentando substituir um método:
class BoxedInt {
public int Value { set; get; };
}
que é o mesmo que:
class BoxedInt {
int value;
public int Value {
set { this.value = value; }
get { return this.value; }
}
}
Parece tudo ok, mas não é bem o que deveria ser. No fundo não temos um propriedade aí. Neste caso quando você quer colocar um valor neste classe é quando você está criando a instância da classe. Portanto o set
na verdade é o construtor. E quando você está pegando o valor, você está fazendo mais do que pegar um valor, você deveria deixar explícito qual é a operação que está sendo feita que é o desencaixotamento do valor (unboxing), então você pede para fazer o Unbox
. Assim a intenção fica mais explícita:
class BoxedInt {
int value;
public BoxedInt(int v) { this.value = v; }
public int Unbox() { return this.value; }
}
Métodos getter e setter
Em C# não é comum o uso de método só para fazer o get
e o set
de valores. Ainda que as propriedades sejam justamente métodos getter e setter, não criamos métodos mesmo, como ocorre em outras linguagens.
Tem uma pergunta sobre isso e lá falo que nem sempre a propriedade é útil.
Coloquei no GitHub para referência futura.
async Task SetValueT(T value)