É uma boa pergunta. Vou me concentrar nas "subperguntas" (em diferente ordem) para elaborar uma resposta...
E se a classe faz coisas como conexão com a rede, leitura e escrita de arquivos (o que ainda por cima pode depender do estado do sistema de arquivos), conexão com bancos de dados, etc?
Nem tudo é teste unitário
A primeira coisa é que não estamos falando de testes unitários de verdade.
Testes unitários são isolados e em geral devem garantir que um método ou, no máximo, uma classe apresentam o comportamento esperado com base no conceito simples de entrada, processamento e saída, ou seja, data a entrada X
, devo receber Y
e assim por diante.
Em segundo ligar, é importante entender que nem tudo necessariamente precisa ser testado nos testes unitários. Para outras situações servem testes de integração, de sistema em outros tipos de teste.
Testes de integração
Testes de integração servem para saber se as partes continuam funcionando quando colocadas em conjunto.
Nada impede de um teste de integração acessar arquivos, rede ou banco de dados. A questão importante aqui é o quanto isso é confiável para que fatores externos não influenciem o resultado dos testes, levando a falsos positivos ou falsos negativos.
Casos comuns são:
- Depender que um arquivo exista no disco: pode levar a problemas caso alguém esqueça de colocar o arquivo no local correto.
- Depender de um banco de dados existente: testes devem resetar o banco de dados a cada execução, caso contrário dados existentes podem interferir e problemas nunca serão detectados, tal como o caso de não existirem registros numa tabela.
- Depender de um serviço externo pela rede: se o teste precisa de um web service para funcionar, você pode prover um endpoint fictício, por exemplo.
Testando entrada e saída
No caso de arquivos no disco, não é nada complicado e nem é errado que a classe de teste grave alguns arquivos no disco e execute uma rotina que vá ler os arquivos e gerar outros, sendo que no final você lê os arquivos gerados e vê se estão corretos.
Outra possibilidade é criar suas classes usando abstrações como InputStream
e OutputStream
ao invés de passar um File
ou Path
. Assim você testa suas rotinas de geração e leitura sem realmente usar o disco. Muito mais eficiente.
Testando bancos de dados
Existe várias formas. A mais eficiente é usar um banco de dados em memória.
Outras formas é criar uma rotina que limpa e/ou restaura um banco de dados. O ideal é que o banco seja local, para evitar que várias pessoas executem o teste ao mesmo tempo e haja conflito.
Outra alternativa é usar um container como Vagrant para executar os testes de forma isolada e eficiente. Vagrant usa o VirtualBox e você pode configurar uma máquina virtual que simule o ambiente de produção.
Testando a rede
Para testar como seu sistema reage a serviços externos, você pode criar um serviço local, inicializado durante os testes, que retorne valores fixos de acordo com o teste.
Se você tiver acesso ao WSDL ou à especificação do serviço esterno isso é até bem simples.
Se o seu sistema for distribuído você pode criar situações isoladas de stress para verificar se o código é resiliente. Por exemplo, se o seu sistema possui dois componentes que fazem o papel de produtor e consumidor e você quer testar se a comunicação funciona bem, pode criar um produtores e consumidores que geram e consomem mensagens uma grande quantidade de mensagens sem realizar um processamento pesado de verdade. No final você simplesmente verifica algum contador para saber se nenhuma mensagem foi perdida.
O que você não precisa testar
De qualquer forma, existem coisas que você simplesmente não testa porque não faz parte do escopo do projeto.
No caso de arquivo, eu usei como exemplo o uso de InputStream
, afinal você quer testar se o seu sistema é capaz de decodificar a entrada, não é? Ou será que agora você quer testar se a API do Java funciona?
No caso de um web service ou serviço de rede, você também não quer testar o sistema de terceiros, ou quer? Você não precisa e nem deve invocar sistemas de terceiros durante o teste. Você simplesmente assume que eles funcionam conforme alguma documentação, isto é, você manda X
ele deve retornar Y
. Se esse for o contrato, assuma que ele vai cumprir.
O caso da classe que manipula arquivos é até prático, mas e pra uma classe que depende de um serviço tão pouco amigável e imprevisível como rede?
Eu sei que na prática vários erros em tempo de execução podem ocorrer que não são encontrados em testes isolados.
Aqui entram conceitos como MVP, continuous delivery ou protótipo de arquitetura.
Basicamente, para integrações com sistemas de terceiros você deve criar protótipos isolados para testar se a integração ocorre com sucesso.
Não espere o sistema estar funcionando para fazer isso!
Uma forma de fazer isso é criar um tipo de biblioteca em um projeto separado que possa ser chamado via linha de comando ou algo parecido. Isso não faz parte do projeto principal, portanto não atrapalha o ciclo de desenvolvimento. Entretanto, sempre que houver um problema ou mudança você pode executar os testes manualmente.
Além disso, com releases frequentes do sistema, priorizando as áreas de maior risco, você coloca essas partes que apresentam risco de falha em "produção" logo de cara e antecipa problemas.
Como se prova em tempo de desenvolvimento que essas classes funcionam?
Aqui vai um resumo de tudo, mas antes de tentar provar que algo funciona, vamos pensar primeiro em como dividir tudo isso.
Primeiro, as funcionalidades do seu sistema precisam ser testadas de forma unitária. Se não é possível fazer isso, você tem um problema de modelagem.
Por exemplo, se você tiver algo do tipo:
rotina(arquivoEntrada, arquivoSaida) {
String s = lerArquivo(arquivoEntrada)
String r = processarArquivo(s)
gravarResultado(r, arquivoSaida)
}
Você deve profundamente considerar mudar para algo como:
rotina(inputStream, outputStream) {
Data data = ler(inputStream)
Result result = processar(data)
gravarResultado(result, outputStream)
}
Agora você pode testar cada rotina de forma independente.
Segundo, você não precisa testar tudo. Não carregue o fardo de testar a API do Java, por exemplo.
Terceiro, caso haja integrações com sistemas externos, você deve fazer três coisas:
- Teste essas integrações manualmente o mais cedo possível para garantir que elas funcionam como esperado.
- Coloque o código de teste num local separado, para que ele não atrapalhe o desenvolvimento do sistema principal.
- Priorize colocar as integrações em produção o mais cedo possível de forma que problemas ocultos apareçam o mais cedo possível.
Finalmente, posso dizer que você não deve se preocupar em provar que tudo funciona. Claro que, quanto melhor forem seus testes, melhor será a qualidade do sistema.
Entretanto, sempre vão existir casos que não dá para antecipar e que muitas vezes somente a experiência e um pensamento analítico vão conseguir pegar. Um exemplo comum é que a leitura de disco, do banco ou integração com outros sistemas se torne um gargalo em relação ao desempenho.
Isso acontece porque seus testes podem estar 100% corretos, mas frequentemente nós testamos com uma massa de dados que dificilmente ultrapassa 10 elementos, quando não 2 ou 3.
Portanto, o "arquiteto" ou as pessoas mais experientes que participam do desenvolvimento da aplicação devem analisar clinicamente quais são os pontos críticos e determinar se serão necessários testes adicionais de carga, stress, resiliência, etc.
try-catch
para para esse tipo de teste, sempre que perde a conexão com um servidor, ele libera um erro e vai para a exceção, e é ai que é decidido oque será feito em seguida (normalmente).