TL;DR
A forma correta de lidar com exceções que não deveriam ocorrer é não usá-las em primeiro lugar.
Deduzindo o cenário
Você deve ter o código mais ou menos assim:
Produto obterProduto(Loja loja, int numeracaoProduto) {
if (loja == null) throw new LojaNulaException();
...
}
Esta é uma prática comum e já trabalhei em empresas que usavam exceção para tratar todos os casos "excepcionais" dos métodos (havia até uma planilha do excel para gerar as exceções automaticamente, tamanho era o número de classes).
Analisando as Exceções
Existem pelo menos duas razões pelas quais não se deveria usar exceções assim:
1. Esse caso não é realmente excepcional.
Tratar nulos não é algo que faz parte dos fluxos planejados do sistema. Você não criaria um diagrama ou fluxograma para tratar cada parâmetro que pode ser nulo.
Com isso, não quero dizer que os parâmetros não devam ser verificados, pelo contrário. Todo bom desenvolvedor verifica bem a entrada recebida.
Entretanto, checagem de parâmetros é algo conhecido como pré-condições. Pré-condições são requisitos que precisam ser atendidos para que uma rotina realmente execute.
Como vou mostrar abaixo, existem outros mecanismos para tratar essas pré-condições.
2. Isso gera uma "burrocracia" desnecessária
Toda burocracia desnecessária torna o desenvolvimento pior. As pessoas não gostam, gasta-se mais tempo com coisas que não fazem sentido e não se resolve problema algum.
Especificamente nesse caso, você quer mesmo criar exceções específicas para todos os possíveis problemas que o seu programa pode ter? Por que não criar uma exceção para cada campo que não for preenchido.
Eu sei que muitos argumentam que isso ajuda o desenvolvedor a saber que ele não pode passar um nulo, mas isso simplesmente poderia estar documentado no método.
"Ah, mas e se não seguirem a documentação?". Bem, para isso servem os testes. Se um desenvolvedor consegue colocar em produção um código que nunca foi executado, passando um argumento inválido, você tem um sério problema no processo de desenvolvimento.
E, no fim das contas, mesmo em casos difíceis onde não se pega um erro evidente como esse, não tem muita diferença o programa travar com um LojaNula
ou NullPointer
. O usuário não vai estar feliz. E com a pilha você pode facilmente encontrar o problema nos dois casos.
Alternativas para tratar pré-condições ou casos que "não deveriam ocorrer"
Exceções mais genéricas
Existe um motivo pelo qual as exceções tem uma mensagem. Elas podem ser reusadas, mas parece que muitos arquitetos esquecem disso.
Se um parâmetro possui um valor inválido, você pode fazer isso:
if (tamanho < 0)
throw new IllegalArgumentException("Tamanho deve ser positivo!");
Se você quer evitar parâmetros nulos, uma alternativa simples é lançar:
if (parametro == null)
throw new NullPointerException("Parâmetro XYZ não pode ser nulo!");
Se por acaso você tiver algum tratamento especial para seus parâmetros nulos (o que eu duvido), pode fazer algo assim:
throw new ParametroNulo("XYZ");
E no construtor da exceção você recebe somente o nome do parâmetro e gera uma mensagem mais amigável.
Eu sempre me espanto de ver como as pessoas se esquecem de que elas podem estender Exception
e adicionar atributos e argumentos ao construtor.
Asserções
Outra forma de tratar comportamentos inesperados é através de asserções.
O ponto aqui é saber traçar uma linha entre os erros conhecidos e os inesperados.
- Um problema esperado pode ser facilmente tratado com uma exceção. Você sabe que aquela é uma situação que tem uma probabilidade legítima de ocorrer. Mesmo assim verifica se já não existe uma exceção feita para isso.
- Um problema inesperado não precisa de uma exceção, você simplesmente pode fazer uma asserção do tipo: isso nunca deveria ocorrer, mas se por acaso ocorrer, lance um erro.
O Java tem um bom suporte à asserções e elas basicamente funcionam como exceções não verificadas.
Guava é uma biblioteca conhecida for reforçar boas práticas. Uma delas é usar asserções para tratar as pré-condições.
Exemplo:
checkArgument(tamanho > 0, "Tamanho deve ser positivo: %s", count);
checkNotNull(loja, "Loja deve ser informada");
Os exemplos acima deve usar import static
para importar os métodos da classe Preconditions
e vão lançar exceções caso a checagem falhe.
Isso deixa seu código mais fácil de ler e exige menos digitação, diminuindo o emaranhado de if
s se houver muitos casos
Considerações
Todo projeto deve traçar a linha entre tratamento excepcional e de pré-condições.
Centenas e milhares de exceções não tornam o desenvolvimento melhor, então eu sugiro esquecer a velha e conhecida má prática de criar exceções padronizadas para cada entidade do seu CRUD (às vezes eu acho que as pessoas fazem isso só para se sentir no controle ou ter a impressão de que estão tendo mais produtividade).
Aliás, em todos casos onde você tem código praticamente gerado, talvez até um gerador de código, é melhor pensar e repensar dez vezes se não seria melhor criar um código unificado que possa ser reusado.
E se você caiu numa armadilha dessas e agora está tendo problemas para dar manutenção no código, reúna com a equipe e crie um mini-projeto de limpeza do código. Num projeto como o citado na pergunta, eu gastaria um ou dois dias removendo todas as exceções específicas e substituindo por outras mais genéricas e talvez asserções. Se tiverem muitos casos, uma substituição com Regex pode fazer grande parte do trabalho, senão todo.
throw e
dentro docatch
é a última coisa que deveria fazer. Essa maneira de "tratar" exceções é a pior possível. A única garantia que isto dá é que problemas ocorrerão. Coloque mais informações e eu tento dar uma resposta.