Definição
Em resumo, DAO é um padrão de projetos onde um objeto:
- provê uma interface que abstrai o acesso a dados;
- lê e grava a partir da origem de dados (banco de dados, arquivo, memória, etc.); e
- encapsula o acesso aos dados, de forma que as demais classes não precisam saber sobre isso.
Arquitetura
Numa aplicação web comum seguindo o modelo MVC, os DAOs ficam junto com o Model fazendo um trabalho de suporte, integrando a fonte de dados ao modelo de objetos do sistema.
Fonte: Introdução ao JDBC
Responsabilidades
Seguindo o princípio de responsabilidade única, um DAO não deve ser responsável por mais do que acesso aos dados.
Definir quem faz o que pode ser um problema quando pensamos na arquitetura de um sistema, mas grande parte disso é porque misturamos as coisas.
Se olhar bem o diagrama acima, fica fácil identificarmos a responsabilidade de cada elemento.
Suponha que o usuário está acessando a página inicial do sistema web. Então uma interação comum poderia ser:
- Um controller recebe a requisição do usuário
- Esse controller chama o método do service adequado para obter as informações para aquela página
- O service chama um ou mais métodos de DAOs para obter as informações necessárias e retorna os dados para o controller
- O controller recebe os dados e redireciona o usuário para uma view que vai renderizar o HTML da página
Adicionalmente, temos que:
- Controllers executam lógica relacionada à navegação do usuário no sistema, isto é, qual URL ou qual ação exibe qual página.
- Services executam a lógica do sistema, que pode incluir gerenciar transações e processar os dados
Portanto, em geral, cada método do DAO deve fazer uma única leitura ou gravação no banco de dados e não deve controlar transações ou realizar operações adicionais, tal como realizar alterações nos dados recebidos do serviço.
Posso dizer por experiência que muitas vezes é uma tentação você colocar regras de negócio ou controle transacional no DAO, afinal é um lugar pelo qual toda informação vai eventualmente passar. Porém, cedo ou tarde isso vai entrar em conflito com alguma outra parte do sistema. Portanto, se houver uma regra comum a ser aplicada em uma entidade, crie um serviço específico para isso e faça com que todos os outros serviços apontem para ele.
Implementação
A vantagem de usar uma classe específica para o acesso a dados é evitar espalhar SQLs em todo lugar, tornando a manutenção e evolução de um sistema um pesadelo.
Em geral, agrupa-se os acessos aos dados por similaridade, por exemplo, uma classe por tabela. Porém, não é sempre que isso faz sentido, principalmente quando o sistema não é somente feito de cadastros simples (CRUD).
Um exemplo claro são sistemas que possuem buscas avançadas em que acessam várias tabelas. Nesse caso, cada situação precisa ser analisada caso a caso. No exemplo das buscas, um DAO específico para isso seria interessante.
Usar interfaces é opcional. Veja, Java tem uma péssima reputação por usar muitas interfaces, mas isso tem seus motivos, por exemplo:
- Permitir várias implementações para bancos de dados diferentes sem alterar o sistema
- Permitir versões diferentes convivendo na mesma versão do sistema (isso pode ser útil em alguns casos, como quando algum campo pode ou não existir e você quer atualizar o sistema sem obrigar a criação do campo)
- Facilitar testes unitários criando implementações Fakes dos DAOs, por exemplo, que usam listas em memória, embora frameworks como Mockito consigam gerar mocks dinamicamente sem uma interface
Com Interface
Tenho um exemplo bem simples, mas completo, no meu GitHub de um DAO que encapsula a entidade Usuario
.
A interface fica assim:
public interface UsuarioDao {
Usuario findByNomeUsuario(String string);
void atualizarUltimoAcesso(Integer id, Date data);
}
E a implementação usando Spring JDBC Template:
public class UsuarioDaoImpl implements UsuarioDao {
@Autowired
private JdbcTemplate jdbcTemplate;
public Usuario findByNomeUsuario(String nomeUsuario) {
try {
return jdbcTemplate.queryForObject(
"select * from usuario where nome_usuario = ?",
new UsuarioRowMapper(),
nomeUsuario);
} catch (EmptyResultDataAccessException e) {
return null;
}
}
public void atualizarUltimoAcesso(Integer id, Date data) {
jdbcTemplate.update(
"update usuario set ultimo_acesso = ? where id = ?", data, id);
}
}
Sem Interface
O mesmo DAO sem interface e usando JDBC puro fica assim:
public class UsuarioDao {
private DataSource ds;
public void setDataSource(DataSource ds) {
this.ds = ds;
}
public Usuario findByNomeUsuario(String string) {
Connection con = null;
PreparedStatement ps = null;
try {
con = ds.getConnection();
ps = con.prepareStatement("select * from usuario where nome_usuario = ?");
ps.setString(1, string);
ResultSet rs = ps.executeQuery();
if (rs.next()) {
Usuario usuario = new Usuario();
usuario.setId(rs.getInt("id"));
usuario.setNomeUsuario(rs.getString("nome_usuario"));
usuario.setSenha(rs.getString("senha"));
usuario.setNome(rs.getString("nome"));
usuario.setUltimoAcesso(rs.getTimestamp("ultimo_acesso"));
return usuario;
} else {
return null;
}
} catch (SQLException e) {
e.printStackTrace();
throw new RuntimeException(e);
} finally {
if (con != null) {
try {
con.close();
} catch (SQLException e) {
e.printStackTrace();
}
}
}
}
public void atualizarUltimoAcesso(Integer id, Date data) {
Connection con = null;
PreparedStatement ps = null;
try {
con = ds.getConnection();
ps = con.prepareStatement("update usuario set ultimo_acesso = ? where id = ?");
ps.setTimestamp(1, new java.sql.Timestamp(data.getTime()));
ps.setInt(2, id);
ps.executeUpdate();
} catch (SQLException e) {
e.printStackTrace();
throw new RuntimeException(e);
} finally {
if (con != null) {
try {
con.close();
} catch (SQLException e) {
e.printStackTrace();
}
}
}
}
}
Devemos usar DAO hoje em dia?
Muitos diriam que não.
ORMs como Hibernate ou Eclipselink tentam fazer todo o trabalho pesado para transitar os dados entre os objetos e as tabelas. Já vi sistemas que manipulavam diretamente as entidades JPA nas regras de negócio.
Eu diria que esse tipo de solução não é escalável, o que significa que vai gerar problemas na medida em que o sistema cresce. Justamente por causa disso, muitos usam o padrão de projeto Repository, que é um tipo de DAO um pouco diferente, mesmo quando usam JPA.
Na minha opinião, o padrão DAO ainda é, em geral, a melhor forma de se implementar a interface com o banco de dados em um sistema. Digo isso porque interagir com o banco é uma responsabilidade que faz parte de quase todo sistema e, se você não colocar no DAO, vai acabar colocando em algum outro lugar. E você não vai querer misturar responsabilidades, vai?