Um princípio básico amplamento aceito na Orientação a Objetos é a separação de responsabilidades.
Veja Princípio da Separação de Responsabilidades para mais detalhes.
Quatro responsabilidades
Um padrão de projeto amplamente utilizado identifica pelo menos 4 responsabilidades na solução deste problema:
1) Entidade
Objeto que representa a entidade; no caso, um usuário do sistema. Possui os atributos e comportamentos de negócio da entidade.
2) Repositório
Objeto que abstrai a persistência e recuperação da entidade.
Possui métodos CRUD, se necessários, e outros métodos de pesquisa.
Exemplo:
class UsuarioRepo
Usuario[] usuariosAtivos()
O repositório também pode ser genérico, onde um único objeto abstrai a persistência e recuperação de todos os tipos de entidade do sistema:
class Repositorio
T[] obtem<T>(CriteriosPesquisa)
Mas o Repositório não detém a informação da estrutura do banco de dados, tampouco conhece as especificidades do banco que está sendo utilizado. Em outras palavras, o repositório não sabe nada sobre as tabelas no banco e não sabe fazer comandos SQL.
Para fazer o seu trabalho, o repositório se utiliza dos objetos a seguir (e depois de falarmos sobre eles, voltaremos ao repositório).
3) Mapeamento Entidade para Banco de dados
Baseado nas definições em arquivos XML ou em metadados declarados na classe da entidade, este objeto entrega um mapeamento entre entidades e tabelas e colunas do banco de dados.
Este objeto tem o conhecimento da estrutura do banco e da sua relação com as entidades, mas ele também não sabe fazer comandos SQL.
4) Interação com a base de dados
Aqui nós temos um ou mais objetos especializados em montar comandos SQL.
Pode haver um objeto ou um conjunto de objetos tratando as especifidades de cada servidor de banco de dados suportado.
Pode haver ainda uma abstração dessa interação com a base de dados, principalmente no caso de ser suportado mais de um banco.
De volta ao Repositório
Como eu disse, o repositório utiliza os outros objetos para fazer o seu trabalho. Por exemplo:
class UsuarioRepo
Usuario[] usuariosAtivos()
{
var mapeamentoUsuario = mapeamento.get<Usuario>()
var sql = sqlBuilder.select(mapeamentoUsuario).criterio("ATIVO = 'S'")
return conexao.executeSelect<Usuario>(sql)
}
Veja que eu abstraí outras responsabilidades nesta resposta, como o objeto de conexão e os objetos que executam comandos contra o banco de dados.
ORM
Se você implementar esta solução, você terá desenvolvido um framework de ORM, mas você também pode usar um de mercado.
Um ORM oferece recursos de mapeamento Entidade/Banco de dados e abstrai a conexão com o banco, a construção de comandos SQL e a execução destes comandos no banco de dados.
Os ORMs para Java, Ruby (on Rails*) e .Net são muito simples de se utilizar e, embora sejam complexos, não adicionam complexidade ao projeto porque esta complexidade está encapsulada dentro deles.
Usando um ORM, o código fica mais ou menos assim:
@Entity("TAB_USUARIO")
class Usuario
@Column("LOGIN")
username
@Column("SENHA")
password
class UsuarioRepo
Usuario[] usuariosAtivos()
{
return orm.query<Usuario>("select u from Usuario u where u.ativo = true").result()
}
Repare que este comando não é código SQL nativo do banco de dados e nem é sobre tabelas, mas sim sobre nomes de entidades conforme sua classe. O ORM, por sua vez, tratou o mapeamento, as especifidades do banco em questão, pool de conexões, etc.
Ainda há a opção de usar lambda e outros patterns em vez de escrever o comando como string; e o .Net ainda oferece o LINQ.
Você ainda pode optar por não encapsular persistência e recuperação em repositórios mas, ao invés, escrever as queries cada vez que precisar delas - como são queries contra entidades e não SQL nativo contra tabelas, você não estaria espalhando código de banco de dados pela sua aplicação. Eu geralmente uso repositórios devido a algumas características do meu contexto.
*O Rails usa o modelo ActiveRecord, onde os comportamentos de persistência e recuperação pertencem à entidade e sua classe, respectivamente, e não a um objeto em separado.
Conclusão
A separação de responsabilidades pode ir muito além de escrever o SQL em uma classe diferente da classe da entidade.
Você deve fazer esta separação conforme as características do seu contexto.
Por exemplo, se o software atende uma necessidade complexa, separar bem as responsabilidades pode ajudar a evitar que a complexidade do domínio contamine o código. Quanto mais complexo o domínio, mais compensa a separação de responsabilidades, a qual ajuda a manter o código mais simples (embora esta afirmação possa ser um pouco contraituitiva).
Por fim, geralmente você não precisará desenvolver um ORM para ajudar na separação das responsabilidades pois há bons frameworks para isso disponíveis no mercado.