Sim há outras vantagens para utilizar polimorfismo em seu código. Ou, nas suas palavras, referenciar objetos por sua superclasse.
Duas, por exemplo:
Substituir if
s por polimorfismo
Vamos supor que, no seu exemplo de músicos, você queira criar uma página Web para exibir os detalhes de cada um deles. Caso o músico seja um baterista, você deseja exibir uma imagem (avatar) de uma bateria. Caso seja um guitarrista, uma guitarra; violinista, violino, e assim sucessivamente.
Então, em uma primeira versão, você escreve:
public void exibirAvatar(PaginaWeb pagina, Musico musico) {
String imagem;
if (musico instanceof Baterista) {
imagem = "/img/bateria.jpg";
} else if (musico instanceof Guitarrista) {
imagem = "/img/guitarra.jpg";
} else if (musico instanceof Violinista) {
imagem = "/img/violino.jpg";
} else {
imagem = "/img/imagem-padrao.jpg";
}
pagina.exibirAvatar(imagem);
}
Acho que todos já escrevemos algum tipo de código parecido com este.
O problema é que, por vezes, esquecemos que código não é estático, isto é, esquecemos que:
- Código vai precisar de manutenção;
- Você poderá ter que fazer a manutenção do seu próprio código;
- Outra pessoa poderá ter que fazer a manutenção do código que você escreveu; e
- Você poderá ter que fazer a manutenção de um código escrito por outra pessoa.
De maneira mais prática: e se mais para frente, for necessário adicionar Baixistas, vocalistas, saxofonistas, etc? Neste caso, inclusive, seria melhor ter pensado em outra modelagem para as classes, mas isto não vem ao caso agora.
Aí, em uma segunda versão, você altera seu código inicial. Mas, na pressa, e utilizando CTRL-C, CTRL-V (uso todos os dias, que fique claro):
public void exibirAvatar(PaginaWeb pagina, Musico musico) {
String imagem;
if (musico instanceof Baterista) {
imagem = "/img/bateria.jpg";
} else if (musico instanceof Guitarrista) {
imagem = "/img/guitarra.jpg";
} else if (musico instanceof Violinista) {
imagem = "/img/violino.jpg";
} else if (musico instanceof Baixista) {
imagem = "/img/guitarra.jpg";
} else if (musico instanceof Saxofonista) {
imagem = "/img/saxofone.jpg";
} else {
imagem = "/img/imagem-padrao.jpg";
}
pagina.exibirAvatar(imagem);
}
Baixista já está com a imagem incorreta... Uma solução alternativa, utilizando polimorfismo, é 'mover' os if
s para cada uma das subclasses:
public void exibirAvatar(PaginaWeb pagina, Musico musico) {
String imagem = musico.getImagem();
pagina.exibirAvatar(imagem);
}
public class Baterista extends Musico {
public String getImagem() {
return "/img/bateria.jpg";
}
}
public class Guitarrista extends Musico {
public String getImagem() {
return "/img/guitarra.jpg";
}
}
// etc
Substituindo, assim, uma série de if
s encadeados por polimorfismo.
Utilizar implementações falsas/alternativas em testes
Este é um exemplo que costumo dar a quem trabalha comigo. Suponha que você esteja desenvolvendo um sistema para enviar mensagens SMS quando algum evento ocorra. Por exemplo, quando um servidor na sua rede cai, você quer notificar todos os sysadmins.
Para facilitar o exemplo, vamos supor que a sua operadora de telefonia provê uma biblioteca em que, para enviar mensagens SMS, basta saber o número do celular e o conteúdo da mensagem.
Em uma primeira versão, você escreve:
public interface Notificador {
void notificar(PossuiCelular pessoa, String mensagem);
}
public class NotificadorProducao implements Notificador {
private final OperadoraTelefonia operadora; // biblioteca da sua operadora
public NotificadorSysadmin(OperadoraTelefonia operadora) {
this.operadora = operadora;
}
public void notificar(PossuiCelular pessoa, String mensagem) {
String celular = pessoar.getCelular();
operadora.enviarSms(celular, mensagem);
}
}
e aí, onde periodicamente verifica-se efetivamente o status dos servidores:
public class VerificadorStatusServidor {
private final Sysadmins sysadmins;
private final Servidores servidores;
private final Notificador notificador;
public NotificadorSysadmin(Sysadmins sysadmins,
Servidores servidores,
Notificador notificador) {
this.sysadmins = sysadmins;
this.servidores = servidores;
this.notificador = notificador;
}
public void check() {
for (Servidor servidor : servidores.getTodos()) {
if (servidor.naoResponde()) {
notificarSysadmins(servidor);
}
}
}
private void notificarSysadmins(Servidor servidor) {
for (Sysadmin admin : sysadmins.getTodos()) {
notificador.notificar(admin, "Servidor " + servidor.getNome() + " não responde");
}
}
}
Como boa prática, você escreveu um teste para isto (e utilizou TDD inclusive).
public void sysadmin_deve_ser_notificado() {
Sysadmins admins = new Sysadmins();
admins.add(new Sysadmin("A", "555-0000"));
admins.add(new Sysadmin("B", "555-1111"));
admins.add(new Sysadmin("C", "555-2222"));
Servidores servidores = new Servidores();
servidores.add(new Servidor("1", "online"));
servidores.add(new Servidor("2", "offline"));
servidores.add(new Servidor("3", "offline"));
Notificador notificador = new NotificadorSysadmin(new OperadoraTelefonia());
VerificadorStatusServidor verificador = new VerificadorStatusServidor(admins, servidores, notificador);
verificador.check();
// assertivas
}
Todos os testes passam e todos ficam felizes.
A única questão é que, um mês depois, o gerente de seu projeto pergunta:
"Nossa conta de telefonia teve um aumento de 1200%!!!!!!!!!!! Quem ligou trocentas vezes para os sysadmins?"
E a verdade é que ninguém ligou, apenas o servidor de integração que rodou os testes a cada commit. E cada vez que o teste acima rodou, enviou um SMS real, com custo real de telefonia para os sysadmins.
A solução, neste caso, é utilizar implementações falsas. Substituir o Notificador
real por um para ambiente de testes. Ou seja, no código do teste acima, substituir
Notificador notificador = new NotificadorSysadmin(new OperadoraTelefonia());
por
Notificador notificador = new NotificadorFalso();
Sendo que NotificadorFalso
é:
public class NotificadorFalso implements Notificador {
private List<Notificacao> notificacoes = new ArrayList<Notificacao>();
public void notificar(PossuiCelular pessoa, String mensagem) {
Notificacao n = new Notificacao(pessoa, mensagem);
notificacoes.add(n);
}
}
Assim, acessando a lista de notificacoes
do seu NotificadorFalso, você ainda é capaz de verificar se o seu VerificadorStatusServidor
funciona corretamente, sem ter os custos reais de envio de SMS.
Inclusive é possível simular casos em que a comunicação SMS falha, por exemplo:
public class NotificadorComErroSMS implements Notificador {
public void notificar(PossuiCelular pessoa, String mensagem) {
throw new ExcecaoDeComunicacaoSms();
}
}
Por fim, notar que é o tipo de coisa que fazemos várias vezes ao dia e, por vezes, não notamos:
Set<String> nomesDistintos = new HashSet<String>();
// oops, quero percorrer com nomes ordenados
Set<String> nomesDistintos = new TreeSet<String>();
// oops, quero percorrer na ordem que foram inseridos
Set<String> nomesDistintos = new LinkedHashSet<String>();