TL;DR
O caso em questão naquela postagem envolvia uma base de código funcional relativamente complexa, escrita em Java, e a questão da accessibilidade de um desenvolvedor, que não era familiar com ela, de forma que pudesse entender o que estava errado.
Contraste de um código
Um trecho em particular era parecido com o seguinte:
Either<Exception, Iterable<QuoteResponse>> quoteRequestProcessed =
sequenceRight(
from(request.getQuoteRequests())
.transform(
curried(priceCalculator).apply(request)
));
if (quoteRequestProcessed.isLeft()) {
return left(quoteRequestProcessed.left().get());
}
Um código imperativo equivalente seria:
List<QuoteResponse> responses = new ArrayList<>();
for (QuoteRequest quoteRequest : request.getQuoteRequests()) {
responses.add(priceCalculator.apply(quoteRequest));
}
priceCalculator
é uma função (Function
) recebida.
Agora, pare e pense em casos excepcionais que podem ocorrer nos dois trechos. Por exemplo, o que aconteceria se priceCalculator
lançasse uma exceção?
Bem, no segundo caso, a exceção seria lançada normalmente e você teria que capturá-la.
E no primeiro caso, que usa a abordagem funcional? A verdade é que não é possível dizer o resultado a não ser que você entenda conceitos como currying, fluent iterables, a convenção de left e right de um Either
implementadas em uma biblioteca específica usada ali.
Eu não vou explicar o código functional de propósito, para você sentir um pouco mais a "dor" de quem estava depurando aquilo para encontrar o problema. 😜
Isolamento, tribalismo e elitismo
O resumo do caso é: a sobrecarga causada pela quantidade de conceitos necessários para entender bem um código funcional pode impedir que um desenvolvedor "comum" compreenda completamente os cenários possíveis de execução daquele código.
Claro que um desenvolvedor treinado naquela base de código poderia mais facilmente ter uma boa compreensão. No entanto, a realidade é que a curva de aprendizado impacta diretamente num ambiente dinâmico de uma empresa, onde projetos e pessoas vão e vêm.
Algo que adiciona ao problema é o "tribalismo" em equipes que adotam programação funcional, isto é, poucas pessoas constroem um jeito bem específico de desenvolvedor o sistema que torna contribuições externas quase impossíveis. Um jeito de fazer isto é criando um dialeto próprio, talvez uma biblioteca com funções que ninguém mais conhece. Não é incomum equipes que vivem isoladas das demais. Tais projetos tendem a surgir por um ou poucos entusiastas por PF e depois morrer tendem a morrer assim que eles deixam as empresas porque ninguém quer colocar a mão.
Acessibilidade e portabilidade
Num ambiente colaborativo, a portabilidade de desenvolvedores faz toda a diferença. Embora eu defenda liberdade dos engenheiros em escolher a tecnologia mais adequada para resolver cada problema, é necessário também ter consciência de que você não é o dono do código.
Um jeito de contornar o problema de acessibilidade e portabilidade seria usar uma linguagem que seja naturalmente funcionais - e.g. Haskell, Erlang, Clojure, Scala - ou pelo menos padronizar o uso com bibliotecas já conhecidas.
Em minha opinião, a cultura da empresa vai ditar se é possível adotar uma linguagem funcional de mais alta complexidade ou se é melhor ater-se ao básico.