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Qual o motivo (eu não sei se é uma regra) de linguagens de programação interpretadas (Ex.: PHP) não serem tipadas e as compiladas (Ex.: C) serem tipadas? (Java no caso é um híbrido).

Por que elas tem essas diferenças?

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Tipagem

Em essência todas linguagens de programação são tipadas, ou seja, todos os dados são tipados, e concretamente o computador precisa ter um tipo, mesmo que seja único.

Dinâmico X estático

Estritamente falando existem linguagens com tipagem dinâmica e com tipagem estática. As de tipagem dinâmica é dito que as variáveis possuem apenas um tipo e os dados possuem uma tag de tipo junto. Então a variável pode ter uma tag diferente dependendo do dado guardado nela. Falando mais informalmente podemos dizer que a variável tem um tipo diferente de acordo com o dado guardado.

O dado (o objeto) em si sempre tem seu próprio tipo. O que se fala em tipagem dinâmica tem a ver com a variável apenas.

Claro que tipagem estática dá mais robustez e performance ao código já que não tem que ficar verificando em tempo de execução sobre tipos, então compilação encaixa bem nisso, afinal os principais pontos que a compilação dá é robustez e performance. É estranho uma linguagem rodando de forma interpretada querer ter uma tipagem robusta e que dê performance, assim como uma compilada que abra mão disso.

Por "tipada" você quer dizer que a variável tem seu tipo estático. Podemos combinar assim?

Boa parte do que quer saber já consta em Qual a diferença entre uma linguagem de programação estática e dinâmica?.

Algumas linguagens com tipagem dinâmica estão adotando a explicitação do tipo de variáveis. Ajuda um pouco na robustez se o compilador souber lidar bem com isso, assim erros podem ser detectados mais facilmente. Claro, se a linguagem é interpretada ajuda pouco, mas ajuda, se você fizer muito teste. Se for compilada já detecta antes.

Essa nova forma costuma ser chamada de type hint, porque você não faz a variável ter apenas um tipo durante toda sua existência, apenas diz que é o tipo a ser considerado, portanto não melhora a performance, mas facilita a escala de desenvolvimento.

Tipagem dinâmica é flexível e ajuda desenvolver mais rápido (muito pouco, e se for bem testado, demora até mais, tem estudos que mostram isso), então essa forma de tipagem deveria ser usada apenas em pequena escala, para scripts, não para aplicações.

Como linguagens como PHP, Python, Ruby e até JavaScript começaram ser usadas em aplicações, ou os autores deveriam dizer para não fazerem isso, ou abraçar esse novo público e adotar o tipo explícito onde dá e foi o que elas começaram fazer, até JS através de TypeScript.

Mas não se engane, ainda mantém-se a tipagem dinâmica, tudo é resolvido em tempo de execução.

No fundo praticamente todas implementações de tipagem dinâmica fazem uso de uma union taggeada em C, algo assim:

struct data {
    int type;
    union data {
        int integer;
        double real;
        char * string;
        void * array;
        ...
    }
}

Coloquei no GitHub para referência futura.

O runtime da linguagem então nunca acessa o dado diretamente, ele verifica o que está dentro disso e decide o que fazer durante a execução de acordo com o que está marcado em type

Por que elas tem essas diferenças?

Pela comodidade que cada um dá.

Como já dito a tipagem estática dá mais robustez e performance, e facilita trabalhar com aplicações grandes.

A tipagem dinâmica tira um pouco da cerimônia de ter que dizer o tipo e permite uma variável ser reaproveitada para várias coisas (o que é questionável), o que dá um ganho inicial no tempo de desenvolvimento e se for um código throw away, esse ganho é importante. Se o código sobreviver mais aí ele começa jogar contra.

Em alguns cenários é preferível a flexibilidade e simplicidade do que a robustez e performance.

Assim tem ferramentas diferentes para cada caso. É por isso que tem chave de fenda e phillips.

Premissas erradas na pergunta e em respostas

Há um erro na premissa da pergunta em achar que PHP é interpretada ou C é compilada. Existe PHP compilado e C interpretado. E não há qualquer relação entre tipagem e a maneira como o código é executado.

Java não tem nada de híbrido, ela é compilada. Assim como C#. Claro que pode ter implementações interpretadas, mas o padrão não é assim e em qualquer linguagem pode ter ambos.

As linguagens típicas de script costumam ser compiladas, ao contrário da crença popular. PHP é a única das mais conhecidas que isso é mais limitado, mas ainda assim é compilada em cada execução (e vai mudar mais em PHP 8). Interpretação é um processo mais interativo e quase abandonado a não ser quando a execução precisa ser interativa mesmo.

PHP sempre teve tipagem em todos os dados. E em PHP 7 continua sendo assim, agora ele pode dar uma ajudinha quando você explicita o tipo, mas não mudou o sistema de tipagem.

Acho que PHP e JS são as únicas que podemos chamar de híbrida porque ela compila e executa todas vezes (JS há muito tempo é e PHP 8 é JITtado). Pelo menos é assim na forma como costumamos usar. As outras são compiladas para um bytecode, então não há interpretação. Não há execução direta de um código binário, mas isso é diferente de interpretação.

Até Lua que as pessoas esquecem como linguagem desse tipo é assim. E nem estou falando de LuaJIT que é até mais interpretada e aí sim pode ser considerada híbrida. E LuaJIT bate performance de todas essas mais conhecidas, além de ser mais simples. Chega competir com linguagens como C em alguns cenários.

C não tem nada de híbrido na sua forma normal, nem mesmo usando Clang. O que existe é uma separação clara entre a parte de compilação no frontend e no backend do compilador, igual acontece em praticamente todo compilador moderno, incluindo GCC, MSVC.

Alguns consideram que Java e C# são híbridas porque o código nativo só é gerado na execução, mas a compilação em si já ocorreu, só tem um passo extra, um backend, e isso está longe de ser interpretação, em qualquer definição disso.

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  • Muito obrigado pela resposta, muito esclarecedor! Realmente tive que reconsiderar meu conceito a acerca do Java. 24/08/2018 às 16:02
  • Agora que o verdadeiro autor se pronunciou +1 :)
    – user60252
    24/08/2018 às 18:24
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Na verdade, não é uma regra. Você certamente vai achar exceções dos dois lados. O que acontece mais é um erro de classificação sobre o que é interpretado e o que é compilado: essa linha certamente era mais preto no branco na época que computadors tinham 64KB de memória no total.

Outra definição importante que está incorreta na pergunta - "não tipado" é diferente de "tipagem dinâmica" - shell script talvez possa ser chamado de "não tipado" (tudo é uma string, e cada comando/programa interpreta essas strings de uma forma, dependendo da posição, se correspondem a uma tag de opção, etc...) - mas linguagens como Javascript, Python Ruby, PHP tem tipos sim - só que o tipo é determinado em tempo de execução - isso é "dinamicamente tipado" - as que tem o tipo determinado em tempo de compilação e que não pode ser mudado, são "estaticamente tipadas" (e nem sempre é necessário que o tipo seja explicito na declaração de uma variável - o compilador pode inferir o tipo a partir do conteúdo declarado, por exemplo).

Mas, além do Java que você citou, o Python também é "compilado para uma máquina virtual que tem o bytecode interpretados". Ou seja, ambos são "híbridos", mas pelo fato do Java ser estaticamente tipado e Python ser dinamicamente tipado, é bem comum as pessoas dizerem que "Python é interpretado", enquanto que ninguém diz isso de Java. Ou seja: há uma relação quase inversa - as pessoas assumem que Python é interpretado só por que tem tipagem dinâmica. O próprio C funciona dessa forma "híbrida" se você usar o compilador Clang, que compila pra LLVM - um máquina virtual bastante otimizada semelhante a do Python e a do Java, em vez de código nativo.

Mas, sim - tem fundamento essa percepção que você tem - e o motivo de mais linguagens compiladas terem tipagem estática é justamente que o _espaço_de_memória_ reservado para manter as variáveis é criado em tempo de compilação. Para manero exemplo em C, se o compilador "vê" uma variável do tipo "char", seguida de um "int" declaradas, sabe que vai precisar de 1 byte para uma e 4 (em geral) bytes para a outra - e já deixa um espaço de 5 bytes na área de endereçamento apropriada.

Ou seja - num programa em C, tudo o que se relaciona com o tamanho de uma variável, as instruções de máquina para escrever e ler seus valores, etc... são resolvidos no tempo de compilação - (inclusive sizeof não é uma função, mas uma instrução especial para o compilador). O código do programa enquanto está sendo executado não sabe nada sobe o tipo das variáveis, nem seus nomes. (apesar de que a imensa maioria dos programas é compilada com informação de depuração embutida, então esses metadados estão presentes, sim, nos arquivos binários).

Já, o requisito básico para uma linguagem de tipagem dinâmica é que o próprio conteúdo da variável tenha informação sobre seu tamanho em memória, e como pode ser usada. Em Python por exemplo, todas os tipos derivam de "object", que em seu layout na memória tem nos primeiros bytes um cabeçalho - e um dos campos desse cabeçalho é justamente o tamanho total do objeto na memória.

Outras linguagens vão usar estratégias diferentes - mas em geral, internamente, vão passar um endereço de memoria (o que em C seria um ponteiro) cada vez que uma variável for passada como parâmetro - e se, a qualquer momento durante a execução, for feita uma operação incompatível com o tipo de dado naquele endereço, ocorre um erro de execução (runtime error). Se a linguagem não tiver proteção para esse tipo de acesso, pode ser uma segmentation fault, e o processo é terminado. Senão, é lançada uma exceção dentro das próprias regras da linguagem que pode ser capturada - acntece com Python e Postscript, por exemplo.

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A tipagem em si é uma característica de cada linguagem sendo ela compilada ou não. Um bom exemplo é o próprio PHP.

A partir do php 5 ele possuía 2 tipos de tipagens (arrays e objetos com nome de classes). Já com o php 7 ele passa a ter outros tipos para tipagem que apesar de opcional não deixa de ser uma tipagem.

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  • Poderia falar mais sobre essa "não tipagem" das versões anteriores ao PHP 7 e o que exatamente mudou na versão 7? Até onde sei, a única mudança que teve em relação a isso foi permitir o type hint, mas isso não tem relação alguma com ser tipagem estática ou dinâmica.
    – Woss
    27/08/2018 às 13:59
  • @AndersonCarlosWoss então, no php 5 tem a introdução a tipagem mesmo que sendo só para Arrays e objetos com o nome da classe. Porém o intuito da minha resposta foi dizer que não é uma regra e que a tipagem em sí é uma característica de cada linguagem. 27/08/2018 às 15:19
  • Mas isso é type hint, não tem relação com ser estático ou dinâmico.
    – Woss
    27/08/2018 às 15:28
  • @AndersonCarlosWoss você tem razão, eu removi a referência da resposta. 28/08/2018 às 0:16

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