Vamos começar analisando os nomes?
- staging area: área para elencar
Nessa parte, você está montando um elenco, mas ainda não o tem completo. Você ainda está chamando os "atores" que vão "participar da peça", as mudanças significativas que você quer por para a posteridade
- commit: o mais próximo que consigo traduzir vem de sua forma substantivada: commitment, ou compromisso
Nessa parte, você está pronto para selar um compromisso para a eternidade. Com tudo que foi elencado, você pôs as peças importantes em jogo e está pronto para assumir um compromisso. Daí, commit creio que possa ser traduzido como o verbo reflexivo "comprometer-se".
Tem outros lugares também em que se usa commits, mesmo que sem tradução clara. E um dos principais é em banco de dados (vou chegar no ponto em que o git
é um banco de dados de uso específico, deixa isso pendurado por um tempo). Você pode fazer todo o trabalho no banco de dados sem fazer uso de commits, que por sua vez é o passo final de uma transação? Claro que pode! Mas isso oferece riscos.
Por sinal, tem bancos de dados que não oferecem outros meios de atualizações de dados que não for por transação e fechando em commit, como o sqlite. Se você não fizer uso desse recurso explicitamente, ele engloba cada operação de DML que resulte em alterações de dados dentro de um begin transaction; ... seu update/insert/delete ... ; commit
automaticamente.
Como funciona a transação no banco de dados? Basicamente nela você chama todos os atores, que são manipulações de dados e/ou estrutura, e então fecha alegremente um compromisso ou dá pra trás e volta tudo rolando (roll back).
Nesse sentido, a transação funciona como uma área para elencar mudanças e assumir um compromisso.
Eu citei acima que o git
é um banco de dados de fim específico. Ele não é um banco de dados relacional ou NoSQL, ele é um banco baseado em alterações de segmentos de textos (ou binários, mas ele mesmo foi feito para textos, binário quase sempre é marcado como alteração completa). Ele simplesmente armazena o histórico de criação dos documentos e, também, os passos que eles sofreram para chegar em um outro estado.
No caso do git
, o repositório é entendido como uma única entidade de conhecimento, mas que possa conter diversos documentos. Às vezes, uma alteração de documento requer que outro também o seja (por exemplo, extrair uma função de um arquivo fonte generalizando-a em outro arquivo fonte). Então é natural que, para a mudança ser atômica, ela precisa realmente ocorrer em 2 ou mais cantos ao mesmo tempo. Sem essa garantia, você poderia ter mudanças que tornariam inconsistentes as informações que precisam ser compartilharas em diversos documentos.
Bem, então para agrupar essas mudanças há o compromisso de sua parte. O seu compromisso consiste de uma série de deltas (ou alterações de documentos), sua assinatura (nome/email) e uma mensagem para indicar com o que você está se comprometendo. É, nesse momento, você se casou com o código, parabéns. Mas saiba que não há divórcio, compromisso eterno.
Se não existisse a área para elencar, você poderia selar um compromisso com um conjunto de deltas sempre que sentir a necessidade. Mas, não há divórcio... e se você estivesse apenas se preparando? Bem, nesse caso, você assumiria um compromisso potencialmente errado. E não queremos manter erros para além da eternidade, não é mesmo?
Aqui entra a área para elencar. Você ainda não está pronto para assumir o compromisso, mas começou a elencar as coisas importantes. De funcionalidades extras, você poderia usar o stash para por debaixo do tapete mudanças que não estão elencadas para ver se elas são atômicas por si, ou se poderia ter feito de maneira diferente. Também tem o caso que o @Marcel Felipe respondeu, em que, após "sujar" sua área de trabalho, você não sela um compromisso, mas dois ou mais. Eu mesmo muitas vezes faço como o Marcel falou e seleciono o conjunto de linhas necessárias para a mudança desejada, sem me preocupar em elencar o arquivo inteiro.
Então, voltando ao cerne da questão: Qual a utilidade da área para elencar? Ela é inútil mesmo?
Ela serve para que você possa assumir compromissos sem arrependimentos futuros (ou quase isso...). Ela também permite que você monte paulatinamente o seu compromisso, as suas mudanças. Adicionalmente, você também pode utilizá-la para validar as mudanças com as quais você quer se comprometer.
Sim, eu sei, tem o git commit --amend
, mas ele parece mais um "pacto pós-nupcial", e ele não deve ser abusado demais quando o seu compromisso se tornou público, quando você empurrou para o remoto as mudanças que acha necessárias.