Não deve, faça o que for melhor para a legibilidade do código
Basicamente essa regra é chamada de Single Entry, Single Exit (SESE) e é uma recomendação importante em linguagens que usam gerenciamento explícito (ou manual) de memória. Especialmente em linguagens que não contam com tratamento de erros por exceções.
É importante perceber que o uso de SESE quase sempre torna o código mais complexo.
Em linguagens como C, por exemplo, quando você precisa explicitamente liberar recursos alocados no final da execução da função, há a necessidade de replicar a liberação desses recursos antes de cada return
e corre-se o risco de haver confusão quando existem vários deles. Se houver qualquer confusão, o código da função acaba terminando a execução da mesma sem fazer a liberação ou fazendo de forma indevida.
Gerenciamento de recursos e exceções
Em linguagens que fazem uso de exceções, SESE já faz ainda menos sentido já que qualquer função chamada potencialmente pode gerar uma saída da função atualmente em execução. Mesmo que você possa se valer da documentação para saber se uma função usada pode emitir uma exceção, terminando a função atual, você tem em mãos uma dificuldade de entendimento do código de manutenção futura.
Em C++, por exemplo, onde exceções existem, é fundamental o uso de gerenciamento automático ou semi-automático de recursos através da técnica chamada RAII (Resource Acquisition Is Initialization). Em Java e C# existem construções como try-finally
e using
para lidar com liberação de recursos.
Já que o programa pode ter vários pontos de saída implícitos, através do lançamento de exceções, onde você nem sabe de onde vem, não adianta tentar unificar a saída explícita em um único ponto. Você vai criar um fluxo confuso no código e não vai resolver qualquer problema.
Em linguagens com tratamento de exceção você tem duas situações:
- a existência de recursos que facilitam a chamada "saída limpa" liberando todos os recursos aconteça o que acontecer;
- a ineficácia da técnica já que sempre pode existir vários pontos de saída invisíveis em qualquer função chamada que emita um
throw
ou raise
.
Então a técnica SESE se tornou desnecessária e até não recomendada já que em muitos casos o fluxo do programa acaba sendo complicado em nome da confiabilidade da saída única.
Infelizmente ainda há quem ache isso importante em qualquer linguagem e dissemina uma informação que é parcialmente obsoleta, como ocorre em muitos outros casos de "boas práticas" propagandeadas.
A legibilidade do código e a facilidade de manutenção são mais importantes que um guia que não traz nenhum benefício em linguagens que possuem ferramentas próprias para gerenciamento e liberação de recursos. É comum termos a complexidade ciclomática reduzida quando utilizamos vários return
fazendo que a execução da função termine o quanto antes.
É evidente que fazer uso correto do return
e manter uma lógica coerente ainda é necessário não importando quantas vezes ele aparece no corpo da função.
Uso legítimo
Mas vejamos um caso em que o uso do SESE seria legítimo e solucionaria um problema existente, como é comum acontecer na linguagem C:
void funcao1() {
resource recurso = acquire_resource(); //talvez possa ser um malloc() aqui
if( funcao2(recurso) )
return; // esqueceu do código de liberação antes do return e o recurso vazou
.
.
.
funcao3(recurso);
release_resource(recurso); //poderia ser um free()
return;
}
Com SESE:
void funcao1() {
resource recurso = acquire_resource(); //talvez possa ser um malloc() aqui
if( funcao2(recurso) )
goto saida; // manda para o ponto onde o recurso é liberado e termina a função
.
.
.
funcao3(recurso);
saida:
release_resource(recurso); //poderia ser um free()
return;
}
Em linguagens assim você tem algumas opções:
Repetir o código de liberação do recurso
Solução horrorosa e facilita a criação de erros, fere o DRY
Colocar um goto
para o trecho do código que faz a liberação de recursos
O código de liberação deve ser a última parte da função e é um dos melhores usos para o goto
Criar uma variável local para ajudar o controle de fluxo do programa
É bem mais complicado controlar o fluxo desta forma do que usando controles da linguagem que guardam o estado para o controle do fluxo implicitamente.
Como essas linguagens trazem essas dificuldades, foi criada a técnica do SESE que manda existir apenas um ponto de saída, ou seja um único return
.
Fica bem mais fácil padronizar esta técnica. Se o programador tem na cabeça que sempre deve fazer isto, como se fosse obrigado pela linguagem, a chance dele esquecer de fazer a liberação é bem menor.
Conclusão
Precisamos usar técnicas apropriadas para cada linguagem. Tentar usar uma técnica criada para uma linguagem em outras acabam criando as interpretações erradas do tipo "goto
nunca deve ser usado" e "comentários devem estar espalhados por todo programa detalhando tudo o que o programa faz", etc.
Certamente este post não encerra o assunto e seria interessante ver informações adicionais. Deixei alguns pontos de fora para dar oportunidade de outras pessoas complementarem.
Coloquei no Github para referência futura.
Esta resposta é baseada na encontrada em Where did the notion of “one return only” come from?
resultado
neste caso (pois se não for assim, você precisará de colocar duas inspeções ou mais, uma para cada return, para ver aonde o método está entrando). Em compensação isso as vezes aumenta a complexidade ciclomática também.