12

Qual a diferença entre os castings presentes no C++?

Existem o static_cast, dynamic_cast, const_cast e reinterpret_cast, qual a diferença entre estes? Quando usar cada um?

C++ também suporta o cast no estilo da linguagem C, como ele é interpretado pelo compilador?

1 Resposta 1

16

A importância de compreender a conversão de tipos

O C++ é uma linguagem dita strictly typed, termo geralmente traduzido como fortemente tipada, isto significa que o tipo das variáveis é sempre certo e as operações devem ser definidas para tipos específicos. Gerar um objeto de um tipo através de uma expressão de outro tipo envolve uma conversão, ou casting.

Vou explicar cada um dos tipos e adicionar exemplos ao fim da resposta:


Existem o static_cast, dynamic_cast, const_cast e reinterpret_cast, qual a diferença entre estes?

static_cast<novo_tipo>(expressão);
  • static_cast, conversão estática

    Esta é a conversão mais comum. É dita estática pois sua validade é analisada durante a compilação, as principais possibilidades são:

    • Conversão implícita entre os tipos (como float pra int).
    • Chamar um construtor do novo_tipo através do resultado da expressão.
    • Usar operador de conversão definido pelo usuário do resultado da expressão para o novo_tipo.
    • Converter ponteiros entre hierarquia de classes, desde que as classes não sejam virtuais. (static_cast não verifica a validade da conversão durante a execução.)
    • Converter ponteiros void* para qualquer outro tipo de ponteiro. (resultado indefinido se o alinhamento do ponteiro não for correto.)
dynamic_cast<novo_tipo>(expressão);
  • dynamic_cast, conversão dinâmica

    Esta conversão é especial para referências ou ponteiros de objetos polimórficos (classes contendo funções virtuais). É dita dinâmica pois verifica durante a execução do programa se a conversão é válida quando descendo na hierarquia das classes. Em principal:

    • Ao converter ponteiros pra cima na hierarquia (expressão é derivada de novo_tipo), comporta-se como uma conversão implícita.
    • Ao converter ponteiros pra baixo na hierarquia, (expressão é base de novo_tipo), verifica se expressão originalmente referia-se a um ponteiro para novo_tipo e, se sim, retorna o ponteiro ajustado. Caso a verificação falhe, retorna nullptr.
    • Conversão entre referências é semelhante, mas gera exceção std::bad_cast em caso de falha.
const_cast<novo_tipo>(expressão);
  • const_cast, conversão de constância

    Esta conversão tem a única função de adicionar ou remover a propriedade const. Qualquer conversão pode gerar uma referência ou ponteiro para um objeto para que este seja tratado como constante, mas apenas const_cast pode gerar uma nova referência ou ponteiro de um objeto constante para que este seja tratado como modificável (não-constante). Esta conversão não gera nenhuma instrução, é apenas uma diretiva para o compilador.

reinterpret_cast<novo_tipo>(expressão);
  • reinterpret_cast, conversão por reinterpretação

    Esta conversão é que mais se distancia da característica fortemente tipada da linguagem C++, pois comanda o compilador a reinterpretar o resultado da expressão como se fosse do novo_tipo, em geral sem realizar nenhuma operação nem verificação sobre os valores sendo convertidos. A grosso modo, reinterpret_cast é forma de dizer ao compilador: "Confie em mim, esses números que estou lhe passando são o que digo ser" . Seus principais usos são:

    • Converter ponteiro ou referência para qualquer tipo de objeto para ponteiro ou referência para qualquer outro tipo de objeto.
    • Converter um ponteiro para um número inteiro.
    • Converter um número inteiro para ponteiro.

Quando usar cada um?

Procure usar a conversão que melhor expressa suas intenções. Como apenas a definição de cada tipo de conversão pode não ser muito elucidativa, seguem exemplos de cada uma:

  • static_cast

A static_cast é a mais comum e geralmente ocorre implicitamente em uma conversão implícita, como no exemplo:

int   i = 5;
float x = i; //conversão implícita 
float y = static_cast<float>(i); //conversão explícita

As conversões implícitas facilitam lidar com variáveis numéricas e locais, mas é recomendado sempre explicitar a conversão quando exportando a variável para alguma função. No exemplo abaixo, o resultado com e sem o cast é o mesmo (logo depois apontarei um possível problema):

int f(int x)
{
  return x*2;
}

int main()
{
  float x = 1.f;
  std::cout << "Sem cast : " << f(x)                   << std::endl;
  std::cout << "Com cast : " << f(static_cast<int>(x)) << std::endl;
}

Resultado:

Sem cast : 2
Com cast : 2

Agora, digamos que seja introduzida uma nova função, sem alterar as partes existentes do código anterior:

int f(double x)
{
  return x*5;
}

O resultado do programa altera-se:

Sem cast : 5
Com cast : 2

O motivo disso é que a conversão implícita de float para double é preferida ao invés da conversão implícita de float para int.

Embora requerida em alguns casos (como convertendo ponteiros void* para outros tipos) static_cast tem uma função que pende mais para boa organização e manutenção do código.

  • dynamic_cast

dynamic_cast é a forma de verificar em tempo de execução se o tipo de objeto polimórfico passado é de um determinado tipo (para isso o programa faz uso de RTTI, omitirei detalhes). Em um exemplo simplificado, imagine uma classe base com dois tipos de derivadas:

struct Base{
    virtual ~Base(){};
};

struct DerivadaA : public Base
{};

struct DerivadaB : public Base
{};

Digamos então que temos uma função que deve lidar com objetos do tipo Base,

void f(Base* ponteiro_base)

Mas em algum momento a execução deve ser diferente se o objeto passado for DerivadaA ou DerivadaB. Como dynamic_cast retorna nullptr em caso de falha, podemos fazer o seguinte:

void f(Base* ponteiro_base)
{
    //tenta cast para ponteiro do tipo DerivadaA
    DerivadaA * objA = dynamic_cast<DerivadaA*>(ponteiro_base);
    if(objA != nullptr)
    {
        std::cout<<"Objeto do tipo A" << std::endl;
        return;
    }
    
    //tenta cast para ponteiro do tipo DerivadaB
    DerivadaB * objB = dynamic_cast<DerivadaB*>(ponteiro_base);
    if(objB != nullptr)
    {
        std::cout<<"Objeto do tipo B" << std::endl;
        return;
    }
}

Clique aqui para ver o exemplo acima em ação.

  • const_cast

Remover a propriedade const de um objeto é necessidade rara, e modificar um objeto declarado const resulta em comportamento indefinido do programa, então cabe ao programador usar de forma coesa essa conversão.

Um exemplo ilustrativo: Quando deseja-se retornar uma referência a um membro de uma classe (os famosos setters e getters):

class ClasseX
{
    int X;
public:
    //retorna referência a membro da classe
    int& getRefX()
    {
        return X;
    };
};

Como a função não altera o estado da classe, posso querer marcá-la const:

int& getRefX() const

Mas daí o código não compila (a assinatura const da função torna seus membros const dentro desta)...

error: binding 'const int' to reference of type 'int&' discards qualifiers

const_cast pode ser usado para retornar a referência não-constante:

    //retorna referência a membro da classe
    int& getRefX() const
    {
        //(algum comentário explicando o const_cast)
        return const_cast<int&>(X);
    };

const_cast deve ser usado com muito cuidado, pois alterar o valor de uma variável originalmente constante torna o programa mal formado (undefined behaviour). No exemplo acima, se algum objeto da classe ClasseX fosse originalmente constante, a função ainda funcionaria neste, mas o valor de X não deveria ser modificado através da referência retornada.

  • reinterpret_cast

O reinterpret_cast afasta-se da noção de objetos e aproxima-se da noção de bits (informação).

Por exemplo, digamos que você esteja programando um microcontrolador e no manual deste diz que a placa de som lê as informações a partir do endereço 33 na memória:

//endereço obtido do manual do microchip
static const int ADDR_PLACA_DE_SOM = 33;

Para escrever informações nesta área da memória, você precisa converter esta posição para um ponteiro, com reinterpret_cast você pode fazê-lo:

//cria ponteiro para inteiros na posição dita pelo manual
int* som_pt = reinterpret_cast<int*>(ADDR_PLACA_DE_SOM);

Note que a conversão é bem livre, você pode criar um ponteiro para qualquer tipo de dado:

//cria ponteiro para chars na posição dita pelo manual
char* som_pt = reinterpret_cast<char*>(ADDR_PLACA_DE_SOM);

C++ também suporta o cast no estilo da linguagem C, como ele é interpretado pelo compilador?

As conversões no estilo-C são do tipo:

(novo_tipo)(expressão)

Um exemplo:

//gera um inteiro através do float 3.14
(int)(3.14f)

Este tipo de conversão está presente no C++ principalmente por questões de compatibilidade com a linguagem C.

O compilador tenta a seguinte ordem de conversões quando um cast no estilo-C é utilizado:

  1. const_cast.
  2. static_cast, ignorando acesso restrito caso usado em hierarquias de classes.
  3. static_cast seguido de const_cast
  4. reinterpret_cast
  5. reinterpret_cast seguido de const_cast

Ou seja, o compilador tenta quase tudo para gerar um objeto do novo tipo, inclusive removendo const. Esse tipo de conversão pode gerar conversões indesejadas (até o não orientado a objetos reinterpret_cast!) que escondem bugs propagáveis pela lógica do programa.


As principais referências foram:

cppreference (em inglês): static_cast, dynamic_cast, const_cast, reinterpret_cast, Explicit type conversion

Você deve fazer log-in para responder a esta pergunta.

Esta não é a resposta que você está procurando? Pesquise outras perguntas com a tag .