Desde que comecei desenvolver softwares (faz muito tempo) vejo pessoas falando de formas de avaliar quando uma função ou método é grande demais. Eu comprei todas estas formas até um certo dia. Isto é normal, isto é o que desenvolvedores inexperientes e ainda ingênuos fazem. Mas um dia descobri que não existe solução mágica e principalmente que não existe número mágico.
Até onde eu sei não existem estudos confiáveis que indiquem o tamanho ideal de uma função. Qualquer tentativa de achar algo assim parece estar fadado ao fracasso. Podemos observar o que outras pessoas pensam disto, aproveitar suas experiências e tentar facilitar um caminho para que cada caso individualmente seja mais facilmente determinado.
Em problemas apresentados de forma geral respostas genéricas não ajudam muito e respostas específicas apenas tentam vender como geral algo que não se aplica ao caso específico. E muitos livros conhecidos fazem isto. Eles precisam satisfazer o desejo dos leitores por alguma fórmula mágica.
Nos anos 80 eu ouvia que o programador ia acabar. Haveria fórmulas que determinavam tudo como um programa poderia se comportar e qualquer pessoa colocaria no computador o que precisava e o programa estaria ponto. Existem teses de doutorado sobre isto! Hoje todo mundo sabe quão ridículo é isto. O programador sempre será necessário justamente para determinar caso a caso o que é bom ou não, o que resolve ou não um problema. Não dá para generalizar. IA ajudará codificar de forma melhor, mas não modelar.
Quando alguém tentar explicar como tomar a decisão certa dá para dizer o que você precisa fazer para facilitar o processo mas nada que possa ser aconselhado irá fazer alguém tomar a decisão certa.
Algumas definições e dicas
Vejamos algumas tentativas em inglês ocorridas no Software Engineering.SE para se chegar a uma "conclusão definitiva".
What should be the maximum length of a function? A pergunta foi fechada porque não dá para responder isto sem recorrer à opiniões e encontramos até uma piada sobre isto no comentário do ThomasX. Alguém tem dúvida que é uma piada?
Quando alguém posta um número de linhas que uma função deve ter a pessoa só pode estar fazendo piada.
Mas lá há respostas que nos ajudam entender como saber o tamanho ideal de cada função individualmente. Há até a apresentação de estudo que mostra as dificuldades das pessoas para compreender problemas e explicações. Muita informação, dispersa. Pouca informação, não ajuda nada, ou pior, ajuda do jeito errado.
Há quem diga que depende da linguagem que está sendo usada. É claro que depende. Depende também da tecnologia usada, do problema que está sendo solucionado, dos requisitos, da equipe que está trabalhando no problema e provavelmente outras coisas.
Outros dizem que a função deve ser o menor possível. E parece ser um bom conselho. O problema é saber o que é o menor possível. Muitas vezes isto é interpretado como a menor quantidade de linhas possível. As pessoas costumam ter uma tendência incrível de levar ao pé da letra certas recomendações. E pior, achar que elas valem para tudo. Daí nascem as tais "boas práticas" e de repente você não pode mais fazer de outro jeito, mais correto, porque fere a "boa prática".
Há até a afirmação que você deve diminuir o que a função faz até não ser mais possível diminuir. Um professor já me disse para fazer isto. Eu entreguei para ele um código em Pascal pior que Assembly. Exagerando um pouco cada função fazia apenas o que uma instrução Assembly é capaz de fazer.
Outro bom conselho: Se você não sabe dar um bom nome para a função, ela provavelmente faz mais do que devia. Está no caminho certo, uma função não pode fazer mais do que deve. Mas ainda não deixa claro o que é isto.
Alguém pergunta qual o tamanho ideal de um prédio. Por que será que não fazem todos os prédios do mesmo tamanho?
Aí vem o problema da complexidade ciclomática. Realmente é relevante. É algo que atrapalha muito o entendimento de códigos. Um dos motivos que dividimos as funções em partes menores é justamente facilitar o entendimento de código. Isto tende facilitar a manutenção também. Não existe um número fixo do que é problema. Existem estudos indicando que isto é importante e que há uma relação entre ele e a quantidade de defeitos em software. E funções grandes tendem a ter mais complexidade ciclomática.
Há respostas deixando claro que uma função deve fazer apenas uma coisa. Não parece haver discussão sobre isto. É possível mas é improvável que uma função com responsabilidade única tenha muitas dezenas ou centenas de linhas. Todos os desenvolvedores experientes sabem que a maioria das funções terão bem poucas linhas. Mas também fica claro que dividir demais, só porque alguém disse que as funções devem ser pequenas, não trazem bons resultados. Segmentar demais pode tornar o código mais difícil de acompanhar. Você sai do código spaguetti para o código lasanha.
Daí surge a dúvida se devemos criar uma função para algo que não será usado novamente em outro lugar. Pelo princípio da responsabilidade única da função, sim, devemos. Mas não podemos exagerar. Tem que avaliar o caso para não deixar mais difícil de entender o que está fazendo, criar uma situação mais complicada de lidar, piorar a performance de forma inaceitável ou dificultar a manutenção futura.
Então se for algo repetido, deve ser colocado em função? Não necessariamente. É provável mas, de novo, depende do caso. Lembrando que DRY não significa necessariamente eliminar repetição de código. E mesmo que seja um caso que seja o ideal pelo DRY, existem outros fatores que precisam ser levados em consideração. De qualquer forma repetição de código pode ser uma causa de uma função ser grande. A repetição é um problema em si próprio. Eu já vi casos que a repetição deixa o código menor. Por isso os compiladores costumam otimizar código melhor que os humanos. Eles avaliam o caso específico de forma objetiva e sabem com certeza o que será mais ou menos rápido. Eles não fazem suposições.
Há boas observações que o tamanho pode afetar a performance para mais ou para menos. Esta até era a preocupação original do autor da pergunta mas que não ficou claro para ninguém. Chamar uma função tem custo, chamar mais do que deve (por ter mais funções do que deve, por dividir mais do que deve), afeta a performance negativamente, inclusive força uma manipulação de memória desnecessária. Funções grandes podem afetar o cache ou pode complicar um JITter e a organização da memória. Mas funções grandes costumam afetar negativamente mais por um efeito colateral. Como ela pode ser mais complexa do que devia pode ser mais fácil cometer erros que afetam a performance. O oposto também é verdadeiro. Classes ou módulos grandes, cheio de métodos ou funções picadinhas podem causar o mesmo efeito. Falo disto com mais propriedade na pergunta mais específica sobre consumo de recursos.
Gosto da frase que uma função deve ter o tamanho que ela precisa ter. Sim, isso não quer dizer nada, mas é a única verdade indiscutível.
Há quem fale em funções que tratam de enormes switch
s. Para quem coloca limite em número de linhas provavelmente tem exceção para isto. Quantas outras exceções são feitas? E se tudo isto era desnecessário? A exceção deixa passar assim mesmo? Parece que olhar para o número de linhas é, no mínimo, olhar para o problema errado.
E nota-se que cada um dá sua própria interpretação do que leu em algum lugar. E não dá para ser muito diferente. Cada um tem um caminho pregresso único, trabalha em situações únicas.
Depois achei uma pergunta fechada também. Está ficando longo, não vou me estender. Fala-se muito que linhas não é um bom parâmetro e a função deve fazer apenas uma coisa. Alguns dizem que funções grandes são difíceis de testar. Isto é verdade mas complicar um design só para facilitar o teste também não me parece uma das melhores ideias (e há guerras santas sobre isto).
E finalmente nessa pergunta mostra como estabelecer limites não faz sentido.
Se olhar os livros Clean Code e Code Complete verá uma discrepância enorme entre a recomendação do número de linhas ideal. O que mostra que estes livros devem ter sua credibilidade questionada (não que todo o livro seja ruim) já que mostram que esses números são apenas opiniões sem sentido. Mas se você quer ouvir algum dizer para você um número, em qual acreditar? 20 do Clean Code ou 200 do Code Complete? Ou 2 ou 12 que outra pessoa possa dizer?
Nessa resposta eu falo de algumas coisas que são mais importantes para manter uma função "limpa".
Conclusão
Se quer saber qual o número de linhas que uma função deve ter para chamar atenção do programador para determinar se ela está grande, escolha o número um. Uma linha já pode estar fazendo mais do que devia. E isto é o importante. A não ser que tenha um motivo para fazer o oposto escolha o tamanho que organize melhor o intuito. Não faça nem maior nem menor que isto.
Coloquei no GitHub para referência futura.