Boa parte do que poderia lhe responder aqui pode ser achada na resposta Como melhor tratar exceções em Java?. Lá tem diversos links para outras respostas que se lidas em conjunto dá um bom entendimento do problema que tratamento de exceção se tornou na programação (eu sei, é muita coisa mas é de extrema importância entender o assunto). Embora alguns links não se refiram ao Java a ideia geral é a mesma.
A primeira coisa que você deve se perguntar é o que você ganha capturando a Exception
. Por que você faz isto? Deve haver um motivo. Ele é usado para trazer melhores resultados? Ou ele é usado porque parece ser mais fácil, ou porque muita gente faz desse jeito?
Eu imagino que você saiba que uma exceção nunca deva ser "engolida". No seu exemplo isto acontece mas acredito que seja apenas um exemplo simplificado. Se não sabia disto, talvez esta seja a informação nova para você mais importante deste post. Vamos ver o exemplo com uma ação no catch
, assim a exceção NumberFormatException
não é completamente engolida (embora a ação realizada na captura não ajude muito em caso real):
try {
Integer i = Integer.parseInt("3")
} catch(Exception e){ //em vez de NumberFormatException
System.out.println("Número inválido");
}
Coloquei no GitHub para referência futura.
O problema está resolvido? Deixou de existir o engolimento de exceção? Não! E pior, você nem está percebendo que está engolindo exceções. Engole sem querer. Se existir um erro de alocação de memória sua aplicação vai quebrar dizendo que houve um Número inválido
. E você vai se perguntar porque diabos isto aconteceu. Você engoliu todas as outras exceções possíveis. Você capturou todas as exceções possíveis e deu tratamento para apenas uma delas.
E se der o tratamento para todas elas, resolve? Pode parecer que sim. É o que você deseja fazer? Em um simples problema, você deseja se preocupar com qualquer exceção possível? Você consegue saber todas elas? Elas serão estáveis, ou seja, nunca surgirão novas que tornarão sua aplicação menos robusta? Mesmo que o faça, o que você ganhou com isto?
Então vamos olhar para uma situação mais provável em aplicação real. Olhemos para a situação demonstrada na resposta do Lucas Polo. Ali pode ocorrer diversas exceções. Tentar tratar todas como se fosse a mesma coisa cai no mesmo problema.
Imaginemos um problema ainda mais complicado. Você chama um método, não sabe o que faz (mesmo que saiba não ajuda muito) e que pode ser modificado sem você saber. Ele pode ter muito mais exceções. Poderá ter exceções causadas por erros de programação que você estará capturando e dizendo que existe apenas um Número inválido
quando o problema é bem mais sério. Pode haver erros de runtime (de verdade) como acessos a recursos (arquivos, redes, DBs) que falham e que definitivamente não são números inválidos.
Se você der sorte (ou azar) vai usar uma API que usa checked exception e saberá o que deve tratar (capturando ou delegando explicitamente). Aí você captura a Exception
e "trata" o que a API exige. "Trata" todas as exceções que são obrigatórias dando uma solução única que muito provavelmente não resolve o problema real.
Mesmo no seu exemplo simples pode não parecer tão complicado tratar todas as exceções individualmente, mas aí no futuro precisa colocar novas operações dentro do try
e esquece de cuidar de todas as novas exceções possíveis. Virtualmente qualquer coisa que você faz em um programa pode disparar uma exceção.
Exceção é um controle de fluxo extremamente complicado. Muito mais complicado que o goto
que todo mundo já entendeu que é complicado. Ela vem de onde você nem imagina (artigo do Joel Spolsky sobre isto).
Regra básica
Só trate uma exceção que você sabe especificamente o que fazer com ela. Se você quer tratar um NumberFormatException
, dê o tratamento para a NumberFormatException
. Se você vai tratar um FileNotFoundException
, trate dela e não faça outras coisas. Se você pode tratar todas as exceções que são IOException
da mesma forma, ok, esta é a mais específica e ela pode ser tratada. E é claro que você pode tratar da Exception
quando ela é a mais específica possível. Isto em geral só ocorre em métodos "altos" da aplicação, o Main()
, por exemplo. Em geral a única coisa a se fazer neste caso é avisar o usuário e registrar o erro (log) para um profissional analisar.
Se você não sabe o que fazer com cada uma das exceções que está capturando, não capture. A captura apenas irá mascarar o que está acontecendo. Se não pode resolver o problema deixe ela propagar para um nível mais alto. Isto vale especialmente para exceções causadas por erros de programação. Estes erros precisam ser consertados pelo programador, não há outra coisa a fazer. Capturar exceções sem querer escondem erros de programação.
Por que você usa Exception
?
A impressão que eu tenho é que dá uma falsa sensação de segurança capturar todos os problemas possíveis. Mas em programação sempre que você tenta resolver alguma coisa que não sabe o porquê, ou "por via das dúvidas", acaba cometendo um erro. Alguns só deixam o código mais sujo, outros causam problemas reais.
Para concluir, o exemplo final do Lucas Polo é bom até que ele resolve capturar a Exception
ali mesmo (notar que a Oracle não recomenda isto). Tudo bem, é só um exemplo fictício postado aqui mas se for usado em produção estará tratando a exceção "por via das dúvidas". Provavelmente está descentralizando e duplicando um mesmo tratamento em vários pontos da aplicação. Procure no seu código para ver se não há duplicações no tratamento.
Claro que pode ser que você tenha que fazer algo específico ali mesmo para todas as exceções, mas isto é extremamente raro. Normalmente o tratamento de Exception
só é útil no Main()
ou outro ponto de entrada, no método que controla todo um framework (de UI, por exemplo), ou em uma thread.
- Não engula exceções, principalmente sem querer.
- Não misture exceções não relacionadas.
- Não trate o que não pode ser tratado, mesmo sem querer.
- Use o pensamento "toda vez que eu capturar uma
Exception
eu não sei o que está acontecendo com meu programa".
Esta última vale até quando usa esta captura no Main()
. Mas tudo bem, neste caso é normal que você não saiba. Quando capturar uma exceção ali é fundamental ter registrado todos os detalhes da exceção, assim você pode descobrir que poderia ter capturado uma exceção mais específica em outro local e tratar melhor. Mas aí você tem uma informação concreta que a captura é necessária.