Introdução
Eu tenho me preocupado muito com modelagem de software ultimamente. Tenho tentado melhorar meu entendimento sobre orientação a objetos para ir além do que as pessoas acham que este paradigma é, e que quase ninguém entende porque está usando. Tenho tentado aprender ferramentas novas, e ter uma visão aberta de como as coisas podem ajudar.
Mas mantenho minha filosofia básica de que ferramentas servem para te ajudar, não para atrapalhar. E se não dominá-las por completo não sabe se está ajudando ou atrapalhando.
A maioria das pessoas se apegam a certas ferramentas e ficam cegas com seu uso. Eu faço isto, todo mundo faz. Algumas pessoas fazem mais ou menos. Eu tento fazer menos.
Cada vez eu me convenço mais que praticamente toda modelagem atual, principalmente em aplicações de negócios, está errada. A forma feita não serve ao propósito do Agile, do OOP, do SOLID, DDD, e todas essas ferramentas que o povo propala ultimamente como solução para tudo.
Quase sempre vejo essa ideia de Cliente
, Fornecedor
, etc. sendo usada errado (Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui). Quase sempre vejo herança sendo usada errado.
Facilidade de manutenção se dá mais pelo S do SOLID do que qualquer outra coisa. Ser capaz de modularizar a aplicação é a coisa mais importante que tem. Ser capaz de fazer tudo ficar DRY é mais importante. Herança não costuma ajudar nisto, ela traz acoplamento e baixa a coesão.
As pessoas são ingênuas com relação ao O. A dificuldade de manutenção que o O provoca quando é feito errado é abismal. Na prática ele é útil mais quando se faz diferente do que as pessoas acreditam que seja herança. Quando faz herança praticamente se torna obrigatório fazer o O.
E se as pessoas entendessem o L provavelmente quase não fariam herança mais. Em domínios de negócios é muito raro dar certo. Mesmo herança de interface costuma dar errado.
Uma Pessoa
é um objeto claro. Cliente
pra mim só é um objeto claro se ele conter dados do papel de cliente. Se ele tiver dados da pessoa, pra mim esse objeto faz mais do que deveria. Então Cliente
não pode derivar de Pessoa
. Inclusive porque se Fornecedor
fizer o mesmo, você terá possivelmente 2 objetos para a mesma pessoa, se alguém puder se cliente e fornecedor ao mesmo tempo.
Inclusive se a modelagem for mais bem feita a impedância entre o modelo de objeto e o relacional fica menor ou inexistente. Mas isto é outro assunto.
Não esqueçamos do I. Ele não foi aplicado no exemplo da pergunta. O analista que ama tanto o SOLID esqueceu disto? Ou ele é do tipo que usa os termos de acordo com a sua vontade para mostrar que está certo fazer do jeito dele.
Tive um chefe assim. Ele citava um livro para dizer para "provar" que a opinião dele era certa. Quando eu citava o livro para argumentar com ele de algo que eu via como certo ele dizia que nem tudo do livro era para ser seguido. E eu concordo, só achava que eram os pontos diferentes do que ele achava. Então citar um livro ou um princípio não serve para nada se ele não encaixar na solução que você precisa.
Vamos dizer que resolva o I, será que aí ele vai querer colocar interface?
Vamos dizer que a interface correta é este. Isto dá pouca margem para composição, que é o que facilita a manutenção, apesar de complexar o design. Para que criar uma interface que só serve a um tipo concreto? Isto me parece criar a interface por criar.
Usar interfaces no lugar de tipos concretos é ótimo. Inclusive ajuda no D do SOLID. Mas se abusar disto torna tudo mais complicado.
SOLID é bom quando aplicado onde precisa e do jeito que precisa.
Manutenção e design complexo
Como as pessoas conceituam errado, a manutenção fica prejudicada.
Quando não dá problema é porque o software era simples demais e não precisava tanto de manutenção quanto imaginavam e aí um design mais simples é melhor.
Vejo muito as pessoas fazendo softwares com design complexo porque facilita a manutenção e essa manutenção nunca acontece. E quando acontece o design não ajuda tanto quanto a pessoa imaginava.
Precisa de muita experiência e muita cabeça aberta para começar fazer certo. E mesmo assim sempre vai errar.
Erra menos quem resolve sempre os mesmos problemas. Por isso acho que ainda erro muito.
Só que a pessoa que resolve sempre os mesmos problemas deve estar fazendo algo errado. Porque ainda não tem uma solução universal para os mesmos problemas?
Vejo muito software novo sendo feito quando já existe solução pronta. Vejo muito desenvolvedor fazendo trabalho repetitivo que é algo menos nobre para uma pessoa fazer. Tem programador que é quase um digitador.
Interface
Sabe porque é bom ter essa interface?
Porque assim se um dia esse modelo estiver errado basta criar outro que atenda a mesma interface, assim terá um BeneficiarioDtoV2
remodelado e que pode ser usado no lugar do BeneficiarioDto
sem mexer no sistema e poder conviver com os dois.
É mesmo? Será que não precisará mexer no sistema de verdade? Será que o modelo não causará diversas implicações por todo o sistema? Será que a própria interface não precisará ser remodelada?
Se tiver que mexer na interface toda vez que mexer no tipo concreto está fazendo o oposto do que prega o SOLID. Tudo que pode ser herdado ou implementado em derivativos não pode mais mexer depois de criar, é o O.
O motivo de existir uma interface é dar aos consumidores a capacidade de acessar um comportamento específico de um objeto e mais que isto, não é dar acesso a todo comportamento do objeto, para isto existe o tipo concreto. A interface tem que ser pensada em como os consumidores se beneficiação dela, e não como o tipo que a implementa se beneficiará.
O exemplo da pergunta me parece um caso de tentar usar interfaces para tudo. E pior, nem ele acredita nisso, porque tem coisas que ele prefere não usar interface, como pode ser visto no modelo. Então fica quase aleatório, é de acordo com o gosto dele.
Pode-se questionar o uso de DTO. Muita gente diz que isto é errado. Não vou entrar no mérito. Mas já que ele existe, não consigo ver a vantagem da interface aí, a não ser para fazer gambiarra. Também tem quem misture a regra de negócio do objeto com o mecanismo dele. Cada vez mais acho isto errado e acho que a maioria das pessoas não consegue diferenciar um do outro, mas isso é outro assunto.
Me parece que a interface está sendo colocada "por via das dúvidas" em algo que dificilmente será necessário. Este objeto deve ser consumido em lugar muito específico.
Design perfeito
Se abstrair tudo perfeitamente realmente não terá consequências extras na manutenção. Mas nunca vi algo que está perfeitamente abstraído. vejo casos graves de abstração, como o citado do Cliente
ser uma Pessoa
para a maioria dos modelos por aí. Com abstrações erradas de nada adianta usar essas técnicas.
Sempre tem soluções que podem ser feitas posteriormente. Se ficarão boas é outras estória. Dar antes soluções desnecessárias é tão ruim quanto não dar antes soluções necessárias.
Por causa do SOLID e outras técnicas vejo designs desastrosos por aí. Ou porque não precisa dele ou porque fazem tudo errado. A pessoa acredita que entende como aplicar algo e que é só aplicar que tudo ficará maravilhoso. Ambas são presunções bem equivocadas geralmente pelo efeito Dunning-Kruger.
Pra falar a verdade não tem solução fácil e que seja garantidamente 100% correta.
Seu projeto e seu problema
Se é o mais adequado para este projeto eu não sei porque não conheço ele como um todo. E aprendi que a maioria das pessoas erram porque fazem projetos sem conhecer o todo. Quase todos os projetos são assim. Tem um jeito que "acharam" para garantir que tudo será fácil de dar manutenção que é abstrair tudo. Só que a pessoa fica com dois problemas. Porque ela nunca abstrai tudo como deveria e sempre vai ter abstrações erradas que vão dificultar a manutenção e terá um sistema complexo demais e que a maioria dos pontos nunca precisará de manutenção. Pelo menos não naquilo que foi previsto.
Então não argumente, questione. Faça ele provar que é necessário. É provável que não funcione. Mas aí seu argumento é que ele não argumentou porque deve fazer algo. Tudo que vai fazer deve ser bem argumentado. Tem que saber porque está fazendo. Dizer que é para seguir o SOLID não é argumento plausível. Tem que mostrar porque isto será um benefício real para o projeto.
Pode ser que não consiga refutar os argumentos dele. Aí é algo que ainda não desenvolveu, ou você está errado. Não podemos ajudar nisso, a única solução seria a gente ir lá debater com ele e não você.
Claro que sempre poderá haver um impasse. Ele pode dizer qualquer bobagem e você ter que aceitar. Ele pode dizer algo concreto e útil e você não entender. Isto faz parte de relações humanas. Aí o problema é outro e não podemos ajudar.
Tá aí alguns subsídios para pensar, se questionar, questionar ele, formar sua opinião com um pouco mais de base e argumentar com ele. Continue perguntando, estudando, vendo outros pontos de vista.
Coloquei no GitHub para referência futura.