O OOP e MVC são coisas distintas. MVC é um padrão de design onde basicamente separa-se as camadas de responsabilidades onde o M representa a lógica de negócio, o C representa o controlador e V, a interface. É possível, sem problema algum, estruturar códigos no padrão MVC sem usar orientação a objetos. O próprio criador do PHP, Rasmus Lerdorf, há 10 anos atrás, escreveu um artigo do qual foi mal interpretado então ele reescreveu um outro artigo disponível no link: https://toys.lerdorf.com/archives/38-The-no-framework-PHP-MVC-framework.html
As críticas que ele recebeu foram na verdade flames de haters que não gostaram do que ele comentou no artigo original. No artigo original ele literalmente descia a lenha (fazia crítica severa) ao "irracional" uso de OOP no PHP. Aí já viu, recebeu uma tempestade de haters que não entenderam o que ele quis dizer, como se ele estivesse dizendo que o OOP fosse algo inútil e desnecessário.
Por fim, quando pensar em MVC, não pense em OOP. O MVC sequer é um objeto. É meramente um padrão de design de projeto para organizar os códigos e rotinas.
Muito provavelmente você já usa um pouco de MVC sem querer. Talvez com uma violação ou outra, mas de qualquer forma já faz isso. Exemplo, se vc escreve os códigos PHP sem misturar com CSS, HTML, JS, dentre outros, já está fazendo uma boa separação entre a view e os controladores. O ponto que mais confunde é saber separar o que é o controller e o que é o model.
Parte da pergunta que fizeste enfatiza o OOP, porém, como esse não é o foco em questão, restringirei a resposta ao MVC.
As respostas existentes já dizem bastante, portanto, para não repetir o óbvio, vamos diretamente a um exemplo prático e simples, sem uso de classes. Algo que qualquer programador PHP inciante que sabe ao menos usar variáveis e funções, consegue compreender.
<?php
/*
Bootstrap
*/
date_default_timezone_set('Asia/Tokyo');
ini_set('error_reporting', E_ALL);
ini_set('log_errors', true);
ini_set('html_errors', false);
ini_set('display_errors', true);
define('CHARSET', 'UTF-8');
ini_set('default_charset', CHARSET);
mb_http_output(CHARSET);
mb_internal_encoding(CHARSET);
/*
Controller
*/
function Control()
{
$m = null;
if (isset($_REQUEST['m'])) {
$m = trim($_REQUEST['m']);
}
if (empty($m)) {
$m = 'Foo';
}
/*
Call the model
*/
$f = 'Model'.$m;
$data = $f();
/*
Call the view
*/
$f = 'View'.$m;
$f($data);
}
/*
Foo Model
*/
function ModelFoo()
{
return array(
'body' => array('a', 'b', 'c'),
'header_charset' => CHARSET,
'header_content_type' => 'text/html'
);
}
/*
Foo View
*/
function ViewFoo($data)
{
header('Content-Type: '.$data['header_content_type'].'; charset='.$data['header_charset']);
echo '<html>
<body>
Foo Page<br />'.
$data['body'][0].$data['body'][1].$data['body'][2].'
</body>
</html>';
}
/*
Bar Model
*/
function ModelBar()
{
return array(
'body' => array('a', 'b', 'c'),
'header_charset' => CHARSET,
'header_content_type' => 'text/html'
);
}
/*
Bar View
*/
function ViewBar($data)
{
header('Content-Type: '.$data['header_content_type'].'; charset='.$data['header_charset']);
echo '<html>
<body>
Bar Page<br />'.
$data['body'][0].$data['body'][1].$data['body'][2].'
</body>
</html>';
}
/*
Start the engine
*/
Control();
/*
Para executar, acesse pelo browser
http://localhost/mvc/?m=Bar
ou http://localhost/mvc/
e veja o resultado desse mini framework.
*/
No exemplo não fiz nenhuma validação para evitar encher com muitos códigos e demonstrar as camadas MVC com mais clareza. Portanto, esteja ciente de que precisa criar códigos consistentes e seguros. O exemplo acima é meramente ilustrativo.
Nesse aplicativo temos 2 models e cada model tem 1 view, portanto, 2 models e 2 views.
Há um único controlador, o qual decide o que fazer com as entradas provindas do usuário. As requisições GET/POST. No exemplo acima simplifiquei com $_REQUEST
.
Um problema muito comum de encontrar é o mal uso do padrão onde aplicam partes do modelo de negócios dentro do controller ou partes da view dentro do model ou mesmo do controller.
Exemplos de erros muito comuns
Violando o controller
function anti_injection_sql($str){
// Suponha que aqui tenha uma rotina para tratar injeções sql, das mais bizarras e sem sentido.
return $str;
}
function Control()
{
$m = null;
if (isset($_REQUEST['m'])) {
$m = trim($_REQUEST['m']);
}
/*
Por quê fazer filtragem contra sql injection aqui?
Não é responsabilidade do Controller, a menos que esse parâmetro seja usado pelo controller para buscar no banco de dados algo específico somente do controller.
Mas enfim, normalmente é desnecessário. Está apenas violando o MVC e corrompendo a entrada original.
Como aqui não há nenhuma consulta a banco de dados, não faz sentido.
*/
$m = anti_injection_sql($m);
if (empty($m)) {
$m = 'Foo';
}
Violando o model
function ModelFoo()
{
/*
Observe o código HTML `<b></b>` dentro do array que será enviado para a view. Ainda estamos no Model, não deveria ter nada de HTML formatando o conteúdo da view aqui.
*/
return array(
'body' => array('<b>a</b>', 'b', 'c'),
'header_charset' => CHARSET,
'header_content_type' => 'text/html'
);
}
Violando a view
/*
Bootstrap
*/
date_default_timezone_set('Asia/Tokyo');
ini_set('error_reporting', E_ALL);
/*
Aqui dispara um cabeçalho que informa o tipo do conteúdo e conjunto de caracteres.
Isso torna a aplicação inteira "engessada" pois se precisar exibir uma view com um content-type ou charset diferente?
E se precisar usar funções como session_start() que conflitarão com cabeçalhos previamente despachados?
Nesses casos, com certeza vai acabar resolvendo com mais gambiarras e, é o que acontece normalmente.
O cabeçalho faz parte da view, portanto, é responsabilidade dessa camada.
*/
header('Content-Type: text/html; charset=UTF-8);
A view é burra?
Aqui temos também uma pequena confusão, pois, no exemplo misturamos PHP com HTML na view e ao mesmo tempo afirmamos que no MVC não deve-se misturar o PHP com HTML.
O fato é, a view precisa ser compilada de alguma forma. Aqui, como lidamos com PHP, usamos o próprio PHP para compilar. A fim de tornar o exemplo o mais simples possível, evitei usar um exemplo complexo com compilador de template pois tornaria o exemplo muito complexo. Basicamente, a view não pode ser "burra". Afinal, o HTML não é uma linguagem de programação onde podemos usar estrutura de controle de fluxo, laços de repetição, dentre outros.
Alternativamente podemos usar JavaScript para controlar a disposição dos dados na view, assim os templates das views estariam 100% livres de códigos PHP.
Para isso existem ferramentas como o jquery template, mustache, handlebars, dentre outros.
Como nem tudo são flores encontramos um impecilho, pois para construir um website precisamos nos preocupar com SEO (mecanismos de busca). Os mecanismos de busca não compilam o JavaScript tornando um problema o uso de JavaScript como template engine. Mas nesse ponto entramos numa outra discussão que não vem ao caso discutir aqui.
Resumindo, não interprete de forma literal "não misturar o php com html". Isso deve ser interpretado como "não misture as camadas MVC".
function ViewFoo($data)
{
header('Content-Type: '.$data['header_content_type'].'; charset='.$data['header_charset']);
echo '<html>
<body>
Foo Page<br />'.
$data['body'][0].$data['body'][1].$data['body'][2].'
</body>
</html>';
}
Eventualmente haverá situações onde será necessário invocar rotinas dentro da view. Seria uma violação escrever rotinas na view e por isso foi criado algo que conhecemos por "helpers". É um jeito elegante de violar, de fazer uma gambiarra na view de um jeito aceitável.
Os helpers facilitam a montagem das views, como por exemplo, os cabeçalhos HTML, montagem de menus, links, etc.
Performance
Você deve ter percebido as passagens de parâmetros no controller:
/*
Call the model
*/
$f = 'Model'.$m;
$data = $f();
/*
Call the view
*/
$f = 'View'.$m;
$f($data);
Numa programação em estilo procedural, não faríamos tantas voltas e pouparia processos, memória, etc. Então por quê devo largar mão da performance de um código mais simples para escrever um código mais complexo que consumirá mais memória e processos?
A coisa toda sobre o conceito OOP é reutilizar rotinas de forma inteligente. Na verdade você passa a escrever menos códigos. Passa a se concentrar mais na lógica de negócios (Model) do que nos processos de controle. Numa programação procedural, praticamente reinventamos a roda para cada nova lógica de negócio. São processos repetitivos que, quando não possuem uma organização, torna a manutenção num pesadelo.
No trecho de código acima, por exemplo, poderíamos eliminar o uso de uma nova variável $data = $f();
trocando-a por uma propriedade pública de uma classe.
Evitando assim transportar os mesmos dados em objetos diferentes.
Quando usar? Devo usar? Onde entraria o OOP?
Como pode ver, nesse pequeno e ridículo framework encontramos diversas coisas que precisam de implementações tornando-o bastante complexo. Imagine num sistema mediano, qual o tamanho da complexidade em escrever códigos organizados e consistentes?
Numa programação estrutural, a quantidade de códigos e conceitos tornam-se inviáveis para manutenção mesmo em sistemas pequenos. Por isso existe o OOP e seus diversos conceitos e paradigmas. A decisão em usar um conceito X ou Y depende do programador. Não há uma lei que diga como devemos escrever os códigos. O que existe são recomendações do que fazer e do que aplicar numa situação A ou B.
Óbvio que não vamos exagerar. Se você precisa criar um site HTML de 1 página com um formulário de contato de 3 campos, é óbvio que não vai precisar usar OOP. Um simples $_POST
, isset()
, if else
e mail()
já resolve.